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Pov Enid

Eu seria capaz de matar Yoko Tanaka, seria capaz de apunhalar uma faca em seu tórax, quantas vezes fossem necessárias, para descontar minha fúria. Sua insistência em tocar, incansavelmente, minha campainha, logo pela manhã, me fazia cogitar a hipótese de desativar seu som.

- Pela Duquesa! São oito horas de um sábado Yo! Eu nem tomei meu desjejum! -rosnei com uma expressão zangada, ainda sentindo o corpo cansado, de uma noite não muito bem dormida.

- Eu sei, desculpe, espero não ter incomodado tio Owen -pediu com preocupação e eu bufei, massageando a raiz de meu nariz.

Papa tinha um sono tão pesado, de modo que o mundo poderia cair e ele ainda estaria em seus sonhos.

- Yo, pode ser direta? -suspirei pesado, coçando os olhos e lhe dando espaço para entrar, contudo, a mesma não o fez.

- Eu acordei e fui irritar Ajax, para não perder o costume -principiou explicando, dando de ombros- mas então, eu desviei o olhar para sua casa e você não me contou que comprou um carro! -a Tanaka exclamou com ânimo e eu lhe encarei confusa.

- Yoko, eu não comprei um carro -retruquei e observei a mesma franzir o cenho.

- Então, de quem seria este carro? -indagou apontando para o lado.

Ultrapassei minha melhor amiga, ainda de pijama, e meu corpo paralisou quando constatei que sua afirmação era verdadeira.

Havia uma RangerRover em minha garagem, com um belo laço rosa em seu teto e um bilhete no parabrisa.

Me obriguei a ir em direção do veículo e tomar o cartão, encontrando a chave, lendo seu conteúdo e o remetente.

- O que diz? -a menor perguntou se aproximando, contudo, estava perplexa demais para responder.

A garota roubou o papel de minhas mãos e segundos depois fez a mais incrédula das expressões, exibindo um sorriso maravilhado.

- Sua duquesa lhe deu um carro! -seu grito histérico e feliz me trouxe a realidade, enquanto ela me balançava pelos ombros- sua duquesa te deu um carro e se apaixonou por você! -sentenciou com gosto e eu me engasguei com a própria saliva.

- Enlouqueceu Yoko? -resmunguei, todavia, sem afetar seu humor.

- Você precisa falar com ela, agradecer! -ordenou, me empurrando para dentro do veículo.

- Eu ainda estou indecente Tanaka! -afirmei, me referindo a minhas roupas de dormir.

- Poupe-me Enid! Você a desafiou de várias formas e, ainda assim, Wednesday não assinou sua execução! Um pijama não vai ser nada demais! -concluiu, fechando a porta e me dando um sorriso incentivador.

Neguei com a cabeça, ligando o carro de um jeito meio atrapalhado. Princípiei minha rota, em direção a The Crow, e nem sequer precisei parar em seus portões negros.

Os mesmos se abriram e eu sabia que aquele carro estava no sistema da mansão. Ao parar em frente a escadaria, encontrei Eugene com um grande sorriso entusiasmado.

- Gostei do carro! -elogiou quando eu estava próxima o suficiente.

- A duquesa quem me deu! -expliquei sem acreditar e ele arregalou os olhos, tão surpreso quanto eu.

- Vossa Graça? -bradou abalado e eu afirmei- isto foi inesperado! -sussurrou, parecendo meio perdido.

- Sabe onde ela está? -minha voz saiu ansiosa, contra minha vontade.

- Ela pediu para que eu service sua refeição matutina no coreto, perto do estábulo, penso que ela ainda está no lugar -declarou incerto e eu concordei, lhe deixando ali.

Cada passo que dava era acompanhado de uma batida forte de meu coração e eu não entendia o motivo.

Quando ela entrou em meu campo de visão, eu engoli a seco, enquanto a duquesa observava nobres alazões, de costas para mim. Me intimei a respirar fundo, me recompondo antes de dizer qualquer coisa.

- Vossa Mercê? -chamei baixo por si e ela  se virou em minha direção, imobilizada por poucos segundos, enquanto me analisava.

- Senhorita Sinclair? -sua lufada, quase imperceptível, me fez corar e eu me aproximei, pela primeira vez, com timidez evidente.

- Se me permiti perguntar, o que isto significa? -levantei a chave do automóvel.

- Agora você tem um carro -deu de ombros, como se tentasse se concentrar na conversa. Por um instante, o qual me faltou sanidade, eu quase pensei em considerar a ideia da duquesa gostar de mim, como defendeu Yoko.

- É muita bondade de sua parte, mas eu não posso aceitar -retruquei, lhe estendendo o objeto.

- Eu não me importo com sua modéstia Sinclair, eu quero que você aceite o carro, estou lhe dando uma ordem como sua duquesa! -repreendeu com arrogância e uma face de poucos amigos.

Eu abaixei o cenho e não lhe respondi, somente escutei seu suspirar frustrado.

- Escute, audaciosa Sinclair -bufou, aproximando-se mais, em um pedido mudo para que a encerrasse. Eu obedeci.

Meus azuis se conectaram com seus castanhos e pude sentir pares de assas em meu estômago. Algo que deverás me apavorou.

- Eu sou apaixonada por equinos, desde criança -revelou, iniciando sua caminhada, e eu a acompanhei- e, quando mais nova, ganhei um magnífico corcel de meus pais -ela sorriu com nostalgia e eu me peguei fazendo o mesmo.

Por que eu não conseguia controlar minhas reações perto daquela monarca? Eu certamente morreiria se continuasse a me auto trair desta maneira.

- Eu não me achava merecedora do meu corcel, mas mamãe e papai me presentearam com tanto carinho, que a única coisa que pude fazer, foi aceitar e ser muito feliz tendo aulas de montaria com ele -sua risada contida acalentou meu coração- o que estou tentando dizer é que, existem presentes que não devem ser questionados, somente aproveitados -concluiu, usufruindo de um tom misterioso e fitando suas mãos. Eu perdi o fôlego.

Eu me sentia tão admirada com o gesto de Wednesday. Mesmo que ela não admitisse, existia uma certeza muda em mim que, sabia que nossa conversa, poucos dias atrás, teve influência sobre aquilo.

- Obrigada pelo corcel -sussurrei lhe roubando um sorriso ladino, que logo foi contido, como se ela buscasse retornar a sua postura reservada.

- Conte-me Sinclair, teve ao menos tempo de tomar seu desjejum antes de sair afobada ao meu encontro? -questionou, voltando a fitar meu pijama e eu neguei, sem jeito- então, se junte a mim -impôs, sem brechas para negar.

- Seria uma honra, Vossa Excelência -sussurrei, sendo conduzida ao coreto, com a bela e posta mesa, repleta de variedades.

- Chame-me de uma vez pelo primeiro nome, deixe a situação menos constrangedora -revirou os olhos, puxando a cadeira para que eu me sentasse e assim eu fiz.

- E quanto as normas? -insisti, enquanto a mesma se acomodava a minha frente.

- Deveria parar de questionar minhas ordens! -resmungou insatisfeita- e quanto as normas, que se danem por hora! Apenas quero apreciar meu café da manhã -pontuou, me chocando com a escolha de palavras e eu não pude segurar o riso.

- Certo, Wednesday -degustei do nome, parecendo dar ainda mais leveza ao ambiente em que estávamos.

- Ótimo! -bufou com um bico mimado- e Enid? -clamou atraindo minha atenção- não se acostume -concluiu e eu concordei. Eu podia não conhecer a totalmente a Addams, contudo, sabia decifrar de seu humor e apreciar sua companhia.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora