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Pov Wednesday

Não pude conter um sorriso satisfeito ao escutar as suaves batidas na porta de meu escritório. Meu coração disparou, sem minha permissão, e eu desfiz o laço em minha echarpe, esperando tê-la por perto, de modo que pudesse aspirar seu maravilhoso perfume.

Quebrando minhas expectativas, quem entrou, após minha confirmação, foi Tyler Galpin, com uma expressão não muito boa.

- Vossa Graça, Ajax Pretopulos e Yoko Tanaka estão aqui, pedindo para ver a senhorita -explicou, surpreendendo-me, e eu franzi o cenho.

- Enid sabe sobre a visita? -indaguei confusa. Ainda um tanto decepcionada pela interrupção não ter vindo de Sinclair.

- Aparentemente, não -deu de ombros- devo deixar que entrem? -questionou e eu assenti, permitindo.

Minutos depois, ambos os irmãos adentraram meu escritório. Ajax parecia preparado para matar-me e Yoko parecia entristecida.

- Como posso ajuda-los? -busquei principiar o assunto, desconfortável com o silêncio em nosso meio.

- Não pensa ser de tamanho egoísmo, mantê-la por perto deste modo? Sabendo que pode lhe matar? -o rapaz rosnou e eu perdi o fôlego, tentando entender como ele sabia sobre.

- Perdão? -forcei meu desentendimento, entretanto, o mesmo chocou seus punhos contra a minha mesa.

- Nós sabemos sobre sua maldição! Sobre este toque repugnante de morte! E queremos que se afaste de Enid! -impôs, encarando minhas íris, como se estivesse igualando sua importância a minha.

O Petropulos, passou suas mãos sobre seus cabelos, em uma postura arrogante.

- Enid não merece morrer, por conta de uma nobre que não pode reprimir instintos tolos e platônicos! Não percebe quanta vida existe nela? -cuspiu, dando uma risada sarcastica- o toque é sua linguagem de amor, você a conhece o suficiente para ter ciência disso, e se ela morrer, eu espero que você passe o resto da sua vida se culpando por isso! -concluiu e eu desviei o olhar para sua irmã, que até então, permanecia muda.

- Você pensa o mesmo Yoko? -sussurrei, notando seus castanhos repletos de lágrimas.

- Não! Somente não quero perder minha melhor amiga! -explicou afobada e eu concordei com a cabeça.

Era o momento de me dispor a me lembrar quem eu era, do meu título e poder. Sendo assim, arrumei minha postura, mostrando aos dois quem estava no mais alto patamar.

- Senhorita Tanaka, devo admitir que uma tamanha decepção sobre sua pessoa me atingiu -suspirei, enquanto a mesma deixava cair as primeiras gotas- e senhor Pretopulos, eu somente não assino um mandado de execução, por consideração a sua irmã e a senhorita Sinclair, no entanto, vai sofrer consequências por seu desrespeito, acredite, e na próxima vez, que se dirigir a mim desta forma, eu mesma vou garantir que se arrependa do dia em que veio ao mundo! -afirmei com tamanha frieza, que consegui perceber o evidente medo no garoto.

Estalei os dedos e senhor Galpin, o qual estava presente na sala, segurou Ajax pelo ombro, o conduzindo para saída de modo que o machucava.

Fixei meu olhar em Yoko e ela moveu seus lábios trêmulos, em um pedido de desculpas mudo, acompanhando o irmão.

Me sentei na custosa poltrona de couro e refleti sobre todas as palavras usadas. Passei minutos, para ser honesta, horas, somente recuperando a consciência quando, ao final da tarde, outro toque suave invadiu o cômodo. Eu possuía meu veredito, mesmo que me matasse por dentro.

- Oi? -sua melodiosa voz se pronunciou e ela veio para perto de mim.

Seus azuis, inevitavelmente encontraram a echarpe que, tempos antes, eu havia desarrumado, e ela sorriu, subindo seu toque, em busca de enlaçar, contudo, a impedi.

- Wendy? -chamou confusa, um pouco mais baixo.

- Não, senhorita Sinclair! Você deve se referir a mim como Vossa Mercê! Eu sou a droga da duquesa de Nevermore! -enfatizei, a assustando com meu tom.

- O que houve? -perguntou preocupada, buscando por minha atenção, todavia, eu não conseguia a encarar.

- Não preciso mais de seus serviços, sua carta de demissão vai ser entregue pela manhã! -sentenciei, a pegando desprevenida.

- Não pode me demitir! -retrucou descrente e eu ri ironicamente.

- Eu posso fazer qualquer coisa! Basta eu querer! -bufei, me obrigando a ser o mais rude possível. Eu precisava feri-la, precisava lhe dar um motivo para não querer mais estar perto de mim.

- Por que está fazendo isso? -seu tom choroso me quebrou a alma, no entanto, resisti.

- Se recomponha Sinclair! Não torne isto difícil -engoli a seco o choro, sem que ela percebesse.

- Isto é difícil para mim! E sei que para você também! -urrou e eu precisei dar as costas para ela, ou não ia conseguir.

- Não Sinclair, você é somente uma simples empregada e eu estou lhe dispensando, isto é bem simples! -forcei um tom firme, tendo que morder meu lábio inferior para prosseguir.

- Por Nevermor! Nem você acredita que eu sou somente uma empregada! Você sabe, tanto quanto eu, que existe algo entre a gente! Que existe carinho e consideração! -gritou, sem repreender os soluços e a voz histérica.

- Estes sentimentos existem somente em sua mente, jovem audaciosa, você fantasiou algo comigo! -ressaltei, ouvindo sua risada amarga e descrente.

- Então, Vossa Excelência presenteia a todos com carros caros? Ou dividi fios vermelhos? Ou manda confeccionar um sueter de estampa infantil tamanho adulto? Quanta generosidade! -bateu palmas lentas e dolosas.

- Estou farta de você Enid Sinclair! Apenas vai embora! -supliquei, custando me manter naquele teatro infernal.

- Wednesday Addams, olhe em meus olhos e diga que não se apaixonou por mim, como eu me apaixonei por você! Se for capaz de fazer isto, eu vou embora! -intimou forte e sua revelação me deixou em êxtase. Ela estava apaixonada por mim.

Inspirei fundo, reunindo minhas últimas forças, apertando os punhos, e me virando para si. Forcei meus castanhos a se fixaram em seus azuis, misturados ao vermelho, por conta do choro, e permaneci em silêncio por alguns segundos.

- Eu não me apaixonei por você! Enid Sinclair! -menti friamente, enquanto a outra concordava com tamanha tristeza.

- Passar bem, Vossa Mercê! -despediu-se, se retirando, sem me fitar.

Assim que a porta bateu, eu fui de encontro ao chão, sem capacidade de me sustentar. Se aquilo era o certo a se fazer, para proteger ela, para garantir sua felicidade, por que me machucava tanto?

Grunhi, socando a madeira tantas vezes que meus dedos sangraram. Eu nunca havia odiado tanto aquele maldito toque como naquele momento, em que precisei abrir mão de Enid.

As lágrimas escoriam apressadas por meu rosto e a raiva em meu peito se dispersou, sobrando somente a tristeza, a dor, e o arrependimento.

- Foi o melhor a ser feito! -funguei para mim mesma, no fundo do poço, deitado na superfície fria, sem amor ou dignidade.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora