Sweet Touch

21

Pov Enid

Apertei as margaridas contra meu peito com amor, por fim, depositando-as sobre o túmulo. O nome de mama estava lapidado naquela pedra e sua foto ainda causava saudade.

- Posso ser honesto com você? -papai pediu, sentado ao meu lado, e eu assenti com a cabeça- eu estou começando a gostar da senhorita Julie Blake -admitiu e eu entendi que ele estava se abrindo comigo, para me incentivar a me abrir consigo.

Papa havia insistido para visitarmos mama e eu penso que ele, na verdade, queria passar um tempo comigo, preocupado com meu estado.

- Eu fico feliz papai! Senhorita Blake parece retribuir os seus sentimentos! -afirmei, tentando fugir do assunto, contudo, suas íris grandes e gentis, que me conheciam bem, me abalaram.

Ele estava disposto a me ouvir e eu cedi sua vontade, mesmo que não houvesse pressão. Abaixei o olhar e descansei minha cabeça em seu ombro.

- Ela me machucou papai! Machucou muito! -suspirei, engolindo a seco o choro.

- Disto eu sei, minha querida, e sinto muito! -me consolou, depositando um beijo sob meus fios dourados- quer ser honesta comigo e me contar toda a história? -sugeriu, como um bom amigo, e realmente, meu pai era meu bom amigo e leal confidente.

- Ela parecia diferente quando me demitiu, parecia estar fazendo algo contra a sua vontade! Eu sei que doeu nela, tanto quanto em mim! -arfei firme, no entanto, a insegurança ainda pairava sobre mim, afetando a relação que eu pensava compartilhar com a nobre.

- Se a conhece o suficiente para ter completa ciência de suas vontades e sentimentos, então, eu suponho que exista paixão -comentou e eu funguei baixo.

- Ela parecia querer me afastar de si papa! E eu não entendo o motivo! -aleguei, ainda em inconformidade.

- Talvez ela estivesse tentando lhe proteger -hipotencializou e eu refleti sobre, sentindo-me confusa.

- Você sabe de algo que não lhe contei? -minha questão lhe roubou um sorriso sem dentes, denunciando a afirmação.

- Ajax me contou sobre o toque mortal da duquesa, revoltado por eu permitir que você continuasse tendo contato com Wednesday -revelou e eu rolei os olhos, custando a acreditar no quão longe Ajax podia ir.

- E qual foi seu veredito? -perguntei meio sem graça, por ter escondido aquilo dele. No entanto, papai não parecia irritado.

- Você faz suas próprias escolhas Enid! E se confia em Wednesday, então, eu não devo me preocupar -explicou simples, demonstrando confiar no meu julgamento- mas, se meu conselho como pai ainda lhe servir, acho que deveria conversar melhor com Wednesday e entender sua atitude repentina, algo me diz que não foi uma decisão de seu coração -findou e eu mordi o lábio inferior, cogitando a ideia.

- Talvez, foi o melhor a ser feito -dei de ombros, fingindo não me importar.

- Enid, acho que este é o meu momento de lhe contar uma lenda -pronunciou e eu me concentrei em si- muito tempo atrás, no princípio do mundo, o sol possuía tanta intensidade em seu calor, que queimava os seres vivos, machucando-os! Mas então, o universo, em um ato de compaixão, criou a lua! E diferente dos demais, a lua era a única que não se feria com os raios do sol! Ela era sua exceção! -disse com inspiração, fixando seus azuis desbotados nos meus azuis intensos- a conexão entre ambos foi tão instantânea, que sol e lua começaram a dividir este brilho! Tornando os dias mais frescos e as noites menos gélidas! -concluiu e eu sorri em encanto.

- Isto realmente existe? -lhe fitei desconfiada e ele riu baixo.

- Não, eu acabei de improvisar! -admitiu, me roubando uma gargalhada- o que quero dizer é, tudo e todos tem uma exceção, e você parece ser a de Wednesday! Se ela possui o toque da morte, quem sabe, você não possui o toque da vida! -manifestou com carinho e eu desviei o olhar, fitando a lápide de mama.

- Você fala como ela -resmunguei, abraçando meus joelhos contra meu peito.

- Obrigado, eu andei treinando! Descobri recentemente alguns tutorias no YouTube -agradeceu com gosto.

Passamos algum tempo em um silêncio, que não era nenhum pouco incômodo, parecia até mesmo que estávamos tendo uma conversa muda, que foi interrompida pelo suspiro de papai.

- Enid, se você não está feliz e Wednesday não está feliz, então, isto não foi o melhor a ser feito! -pontuou mansamente, abraçando-me, e acariciando minhas costas.

- Acha que ela pode se apaixonar por mim? -perguntei ingênua e o mais velho deu um riso divertido, entretanto, contido.

- Meu bem, não tem como uma pessoa apaixonada, se apaixonar de novo, somente intensificar a paixão! -sentenciou e eu perdi o fôlego, sorrindo bobo- com absoluta certeza, neste instante, Wednesday deve estar naquela estupenda mansão pensando em como lhe reconquistar, eu sou pai, eu sei das coisas -brincou me arrancando uma risada.

Eu me enfiei no aconchego de meu papa, agradecida demais pelo homem tão maravilhoso que ele era, e ainda mais, por ele estar superando seu estado depressivo e vivendo, de fato.