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Pov Enid

O belo sol emanava sua calorosa e dourada luz, batendo contra o rosto pálido da monarca. Seus castanhos estavam mais claros e sua expressão sutilmente fechada.

Eu somente não conseguia distinguir se era por estar extremamente concentrada, ou motivada por sua manha real.

Os resultados do exame de sangue de Wednesday não poderiam ter sido piores. A falta de vitaminas na Addams era irreal, de forma que a obriguei a mudar sua rotina por completo.

Aquele era um dos seus banhos de sol comigo. Um momento que eu, particularmente, gostava muito.

Não pude conter uma risada baixa ao lhe analisar, atraindo a atenção da menor sobre mim.

- No que encontra tamanha graça, senhorita Sinclair? -indagou com curiosidade, forçando-se naquela postura formal e entediante.

- Vossa Mercê possui muito empenho em vencer esta partida -respondi com bom humor e a mesma deu de ombros.

- Não costumo perder, senhorita Sinclair -alegou, movendo seu bispo com notória cautela.

A brisa fresca se misturava com o bom silêncio entre nós, soprando os fios da franja da duquesa com delicadeza.

- Posso lhe fazer uma pergunta? -questionei em mansidão, posicionando meu cavalo de qualquer maneiro sobre o tabuleiro.

- Poupe-me Sinclair, você e eu lhe conhecemos o suficiente, para termos ciência de que, independente de minha resposta, ainda vai fazer a pergunta -resmungou de sua maneira mal humorada e eu sorri, apreciando sua implicância.

A monarca era tão aborrecida, de modo engraçado. Do tipo de pessoa que possui o cenho franzido, por orgulho tolo, contudo, por dentro, aprecia a companhia das pessoas ao redor.

Ao menos, eu esperava que a mesma apreciasse a minha companhia.

- Que resposta Vossa Graça me daria, se eu lhe pedisse, humildemente, para me acompanhar a feira de Nevermore? -meu convite, completamente inesperado e ousado, paralisou a mesma.

- Que sua sanidade é inconfiavel! -urrou com uma risada sarcástica, fitando suas peças negras- por Nevermor! Eu não sei se percebeu Sinclair, mas eu construí The Crow como meu refúgio, longe de tudo e todos! Sua proposta é exacerbadamente estúpida! Assim como seu jogo! -conclui rudemente, movendo seu rei- xeque-mate! -exclamou, derrotando-me, em mais de um aspecto.

Permaneci calada, processando as palavras tão amargas. Aquela postura me magoava e eu estava cansada disto.

- Acho que o sol foi suficiente por hoje -comuniquei, abandonando a mesa do coreto. O mesmo lugar onde havia tido um excelente desjejum, com uma agradável companhia.

- Ainda restam vinte minutos -retrucou confusa.

- Eu me referia a mim -conclui, afastando-me em direção de sua mansão.

Suspirei pesado quando adentrei a cozinha, meu cenho estava baixo, e somente se levantou para encarar Eugene. O qual me entregava um pedaço de bolo, com pedaços de morango e raspas de chocolate.

- Algumas vezes, você precisa equilibrar o humor azedo da duquesa com algum doce -deu de ombros, com um sorriso em diversão.

- Então, eu preciso de mais um pedaço -bufei, dando uma garfada na deliciosa sobremesa.

- Eu sei que ela pode ser difícil, mas tente, por um instante, pensar no ponto dela -sugeriu com mansidão.

- Como assim? -questionei em curiosidade sincera.

- Wednesday tinha acabado de completar seus dez anos, quando a maldição do toque se manifestou em si -murmurou, deixando seus afazeres de lado- ela se isolou de tudo e todos desde então, inclusive, de sua própria família -sua revelação me fez sentir pena da monarca.

O rapaz voltou a cozinhar, depositando um assado cru no forno.

- Não me interprete mal, não estou dizendo que deve sempre relevar sua grosseiria, contudo, para ela, conviver com outras pessoas ainda pode ser desafiador, mesmo existindo bondade em seu coração -concluiu e eu comprimi meus lábios, refletindo sobre.

Antes que eu pudesse responder, Bianca entrou no lugar, cortando o assunto.

- Vossa Graça deseja lhe ver, Enid -a governanta avisou e eu concordei, dando um aceno a Ottinger.

Segui aos aposentos de Wednesday e adentrei quando recebi sua permissão. O cômodo estava mudo e, desta vez, era incômodo.

- Eu sei que lhe devo desculpas Enid, pelo modo como a tratei, somente, me conceda alguns segundos para pensar em palavras boas o suficiente -sussurrou cansada, massageando a raiz de seu nariz.

- Eu te admiro Wednesday, admiro por se submeter a esta solidão, afastando as pessoas para não as ferir -admiti, com as mãos a minha frente e o corpo balançando- mas não precisa me afastar! Eu não tenho medo de você! Então, ao menos tente se lembrar disto, antes de entrar em sua defensiva e ser rude -roguei, ainda chateada, mesmo assim, tentando demonstrar que lhe perdoava.

Inesperadamente, a duquesa veio para perto de mim, de modo que apenas um palmo nos separava, e eu conseguia sentir sua respiração.

- Não estou lhe afirmando, com total certeza, que vou ir contigo, todavia, prometo pensar sobre sua proposta, satisfeita? -sussurrou e eu abri o maior dos sorrisos, realizada demais.

- Obrigada! -agradeci, ousando quebrando um ou dois centímetros. Algo em mim precisava daquilo, afinal, eu não podia lhe abraçar, como sentia vontade de fazer.

- Isso não foi um sim, Enid -implicou com humor e eu ri baixo.

- Também não foi um não -pisquei contente, notando suas bochechas levemente coradas, destacando suas admiráveis sardas.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora