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Pov Enid

Adentrei The Crow com os primeiros raios da manhã, forçando a expressão mais disposta que podia. Minha realidade se resumia a uma jovem cansada, sem um carro a sua disposição, a qual precisava acordar cedo demais para não perder o metrô.

- Bom dia Enid! -o cumprimento doce e entusiasmado de Eugene soou, enquanto Bianca acenava com a cabeça, mantendo o foco em seu jornal.

- Bom dia -dei um sorriso gentil, observando a agilidade do simpático chefe de cozinha.

- Se sente preparada para seu primeiro dia na The Crow? -o cacheado perguntou, ainda concentrado em seu serviço.

- Suponho que sim -retruquei, depositando uma mecha atrás de minha orelha.

- Espero realmente que sim, porque precisa examinar a duquesa antes de sua refeição matutina e Vossa Graça não parece ter acordado com bom humor -Bianca se pronunciou, pela primeira vez, um tanto preocupada. Não deixei de me sentir curiosa sobre o motivo.

- Aconteceu algo a duquesa? -indaguei com interesse, entrelaçando meus dedos sobre minha frente e balançando meu corpo sutilmente. Possuía aquela mania constante, que eu, ao menos, percebia estar executando.

- Eu não sei ao certo -murchou os ombros, um tanto frustrada. Barclay me causava a impressão de ser uma pessoa que sempre precisa estar no controle de tudo e saber sobre tudo.

Os dez minutos que faltavam para o relógio marcar sete horas, indicavam que era nossa deixa. Eu segui junto da governanta em direção a sala de jantar, observando a mesa farta e bem posta, digna de uma monarca.

Poucos minutos depois, as portas duplas de madeira se abriram, revelando a duquesa de Nevermore em toda a sua glória.

Eu admito ter perdido o fôlego, lhe observando com encanto. Wednesday Addams era o ser mais magnífico, sob quem meus olhos repousaram em toda a minha vida.

- Senhorita Sinclair, suponho que deve me examinar, acaso, não foi contratada para cuidar de mim? -sua voz rouca, e exageradamente rude, despertou-me para a realidade. E, somente então, notei que a mesma estava sentada, esperando por mim.

- Perdoe-me Vossa Mercê, não era minha intenção lhe aborecer -mantive minha educação, a alfinentando sem pensar.

Wednesday me fitou com o cenho franzido, todavia, pareceu engolir seu orgulho e segurar uma resposta. Desviou o olhar para o assento a sua frente, como uma permissão muda para que eu me aproximasse.

Assim o fiz, acomodei-me e me inclinei em sua direção, apertando meus dedos em meu esfigmomanômetro. O clima naquele cômodo, então, se tornou absurdamente tenso e pesado, como se o mínimo movimento errado ocasionasse consequências incalculáveis.

Meus azuis encontraram a face da monarca, que parecia aflita, no entanto, se obrigava a esconder tal sentimento.

- Eu não vou lhe tocar -sussurrei, recebendo sua atenção. Minha palavra pareceu ser o suficiente para a duquesa, que relaxou sua postura, como se confiasse a vida a mim.

Minhas bochechas coraram sem minha permissão, enquanto eu anexava o velcro em seu braço. O perfume de Wednesday era embriagante, enlouquecedor, de um modo suave o bastante para ser gentil, contudo, forte o suficiente para se tornar inconfundível.

Martirizei-me quando meu coração errou uma batia contra a minha caixa torácica.

- Vossa Excelência teve uma boa noite de sono? -minha questão ocasionou o espanto de todos os demais ao nosso redor, devido a informalidade. Com exceção da duquesa.

- Minha mente foi invadida por um assunto insano, que me fez perder todo o sono -explicou com seus castanhos fixos em mim.

- Algum tipo de dor lhe atingiu? -cuidadosamente retirei o aparelho de si, lhe estendendo um medidor de glicose.

Apontei para o seu dedo e em seguida para a pequena agulha, ela compreendeu, me obedecendo.

- Eu não senti dor -concluiu sem muita firmeza, me devolvendo o medidor, e eu retirei meu estetoscópio da maleta que usava.

- Deveria ser honesta comigo -acusei, colocando a superfície sobre seu peito. Estava tão perto de Wednesday, que um tremor repentino se apossou de meu corpo.

Ultrapassei seu espaço seguro e algo em toda aquela situação clamava o quão perigoso aquilo era.

- Esqueceu quem sou, senhorita Sinclair? -grunhio com um tom estúpido e indelicado, porém, não me deixei afetar.

- Nunca! Mas estou aqui para cuidar de seu bem-estar e saúde, então, seria mais fácil se fosse honesta comigo -expliquei com simplicidade e desta vez, um de seus seguranças se aproximou, disposto a me castigar por minha petulância.

A duquesa levantou sua mão e aquilo foi o suficiente para que o rapaz regressasse ao seu posto.

- Senti minha cabeça latejar e meu peito pesado, isto te satisfaz senhorita Sinclair? -sua ironia foi retornada com um sorriso de minha parte. E eu pude saber que desarmei a Addams.

- Sua sinceridade, com certeza -sentenciei, lhe dando espaço- contudo, seus exames, não -suspirei, anotando seus resultados baixos.

A duquesa deu de ombros, principiando sua refeição e eu recolhi os aparelhos, pronta para me retirar, assim lhe permitindo ter paz. Entretanto, fui impedida por seu chamado estrondoso.

- Realmente optou por desobedecer minhas ordens, permanecendo com as roupas coloridas?-o sarcasmo adentrou meus ouvidos e eu encarei o fundo de suas íris, como se estivesse em seu patamar.

- Uma companhia vivida faria melhor ao seu estado debilitado, Vossa Mercê -retruquei, analisando os uniformes pretos, e ela expressou seu descontentamento.

- E você pensa ser esta companhia? Audaciosa Sinclair? -sua pergunta irritada e genuína me fez engolir a seco.

- Eu espero que sim, afinal, eu garanto a Vossa Graça que não existe, na província de Nevermore, uma pessoa com mais entusiasmo em cuidar dos outros, do que eu -enfatizei e pela primeira vez, pude ver o deslumbre de um sorriso divertido em Wednesday.

- Você é muito prepotente, jovem -o humor da mesma surpreendeu não somente a mim, todavia, a todos naquele ambiente.

- Se isto me serviu de elogio, vindo de você, eu agradeço e complemento afirmando que, Vossa Excelência usufrui da mesma característica -minha provocação foi tão sutil que eu duvidava que qualquer um percebesse.

Mas a exuberante Addams captou. Sua reação foi rir baixo e negar com a cabeça, voltando a se concentrar em seu café preto, tão forte e amargo quanto ela mesma.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora