Prólogo

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[Dezembro de 1849]

Nicholas estava na soleira da porta da sala de estar de River Inn. Provavelmente aquele era o último lugar que tal documento estaria guardado, mas era sua missão procurá-lo. Não que achasse por um minuto que fosse encontrar algo. Aquele papel não existia, tal como o caráter de Boyle. Mas sabia que era importante ao menos tentar. Se fosse ir de encontro à lei, queria saber com o que estava lidando.

Escuta os passos apressados de alguém entrando na sala e parando ao seu lado.

— Vá para o andar de cima, tente achar o escritório de Gerald. — diz numa voz firme para Devlin sem ao menos se virar. Duvidava muito que o amigo desse a sorte de encontrar algo, mas não custava tentar.

Eles tinham pouco tempo... Logo a guarda estaria ali, como das outras vezes.

Devlin escuta o que Nicholas diz e acena em concordância.

— Não havia nada na biblioteca também. — Diz Devlin arfando após ter tirado quase todos os livros das estantes daquela maldita e imensa biblioteca. — e nada no escritório contíguo, nem na sala de música.

— Sim. Se esse documento existir, provavelmente estará seguro. E não há lugar mais seguro que o escritório de um nobre. Se encontrar algo dê o sinal.

Devlin então sai correndo em direção às amplas escadas que levam ao escritório.

— Certo. — responde Nick, mas Devlin já saíra da sala. Seus olhos estavam focados em um quadro majestoso no meio da parede da sala. Parecia ter mais que algumas décadas. Provavelmente um ótimo lugar para um esconderijo embutido? Se apressa em verificar.

Outros passos ecoam a uma distância, mas Nicholas não se vira para ver quem poderia ser.

Apalpa a moldura dourada. Os componentes da pintura pareciam ter pertencido a pelo menos três séculos atrás por suas vestimentas.

A madeira antiga parecia relutante em sair da parede. Não que aquela altura realmente importasse um pouco de força bruta. Sabia que Sean e Luke haviam saqueado a adega do velho Boyle — um estrago em sua decoração não seria nada.

Quase conseguia visualizar o velho Gerald amarrado ao grande carvalho com o escrito vermelho "Bastardo!" em seu peito.

Nunca passaria por maior humilhação na vida. E aquele desgraçado merecia muito mais que aquilo. Só de lembrar... Poderia muito bem ele mesmo pendurar a cabeça do velho homem numa estaca.

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Devlin chega ao escritório e solta um xingamento. A sala era imensa, com duas largas escrivaninhas de carvalho maciças, que provavelmente teriam vários compartimentos secretos e vários quadros pendurados nas paredes.

Ele sai correndo em direção aos quadros e joga um após o outro no chão, descartando possíveis esconderijos. Não havia nenhum cofre nas paredes. Vira então para a primeira escrivaninha e suspira.

— Merda. Nunca vi tantas gavetas na minha vida.

Devlin começa a vasculhar uma das escrivaninhas. Abre vários cadernos das despesas da casa, cartas e rascunhos e não encontra nada próximo do documento que tanto precisa. Tira as gavetas da primeira escrivaninha e as joga no chão para procurar algum fundo falso ou mecanismo que abra um fundo falso mas nada acontece.

— Esse velho maldito. Espero que queime no inferno junto com os outros.

Devlin termina de verificar a primeira escrivaninha e parte para a segunda, que parecia mais abarrotada de papéis do que a primeira.

Nicholas verificava os compartimentos da cristaleira de mogno. Porém, mais uma vez, parecia andar em círculos. Não havia nada ali simplesmente pela razão que não tinha nada a ser encontrado. O velho Boyle além de asqueroso era um cretino da maior estirpe.

𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora