Junho de 1852
Georgiana não era dada a acreditar em sinais, em coisas sobrenaturais, mas quando ela abriu a carta de Nicholas naquela noite, ela sentiu que algo não estava bem.
Sabia que se tratava de uma coincidência, mas o fato dela ter rompido o lacre da carta ao mesmo tempo que um raio irrompeu pelos céus, iluminando todo o seu quarto, fez ela se arrepiar e sentir que aquilo era um mau presságio.
Nada na carta, que do início de maio, indicava os perigos que ele deveria estar passando nesta aventura maluca dele na Irlanda. Provavelmente ele não queria preocupá-la, mas ela já estava nervosa só de pensar no que ele poderia estar passando por lá. Ela sabia que ele estava lá para ajudar Dev e lutar pelo que achava justo, mas nada disso conseguia acalmá-la.
E estar sozinha em Gloucestershire, no meio turbilhão de arranjos para o casamento, não deixava Georgie satisfeita com a viagem dele. Não queria ter que passar por essa tortura sozinha, queria ter com quem reclamar.
Isso sem contar que estava com saudades dele, das conversas, dos beijos, das carícias... Balançou a cabeça tentando evitar pensar no encontro dos dois no lago. Ainda estava vívido em sua mente todas as sensações que havia experimentado. Mal podia esperar pelo que viria.
Tinha recebido na semana anterior uma encomenda que sua mãe tinha feito, eram algumas peças de lingerie e camisolas bem escandalosas produzidas pela esposa de Thomas, Brooke. E ver aquilo tudo só piorou sua ansiedade.
Se Nicholas não retornasse na próxima semana, ela iria mandar uma carta bem desaforada para ele. Precisava dele ali.
A semana de tolerância de Georgie havia passado. E nada de Nicholas retornar ou mandar notícias. Tinha perguntado para Daisy e Sarah se ele tinha entrado em contato com elas e a resposta havia sido negativa. Mandou uma carta um tanto mal criada para ele, reclamando de seu silêncio e de estar ali sozinha tendo que lidar com todos os arranjos do casamento. Sem respostas.
Estava começando a ficar extremamente preocupada, mas não podia dizer nada para seus familiares. O segredo era dele e não cabia a ela repassar para os demais.
Ela já estava com os nervos em frangalhos, seus irmãos e família, a provocavam dizendo em tom malicioso que era normal estar ansiosa, que em breve ela estaria adentrando nas maravilhas do casamento. Ela bem que gostaria que sua ansiedade fosse desse tipo, mas seus pensamentos rondavam coisas mais ominosas. Feridas, acidentes, perda de memória, doença, morte.
Não tinha nenhuma notícia dele. Não sabia o que fazer. Não tinha o endereço de Devlin, pois se tivesse já teria entrado em contato com o amigo de Nicholas para perguntar sobre seu noivo escorregadio. Às vezes pensava que se algo tivesse acontecido, Devlin provavelmente avisaria a família dele, e isso por alguns minutos a deixava mais tranquila, mas isso não a impedia de passar várias noites em claro pensando que ele poderia estar morto, com seu corpo jogado em uma vala desconhecida. Isso quando não tinha pesadelos com isso, e acordava no meio da noite aos prantos.
Tentava esconder suas preocupações, mas sabia que todos estavam apreensivos com a demora do retorno de Nicholas.
— Aí! — Exclama Georgie com dor ao ser alfinetada pela terceira vez naquela tarde.
Aquela era a última prova do seu vestido de noiva, faltando três semanas para o casamento.
— Me perdoe, senhorita — disse a assistente.
— Tudo bem.
— Você está tão linda, Georgie — diz Eloise emocionada.
Não estava acreditando que sua filha mais nova iria se casar em breve. O vestido de noiva era lindo, simples, mas elegante, discreto, combinava perfeitamente com o estilo da sua caçula. Ela era discreta em tudo, até em guardar o seu sofrimento.
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𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨
FanfictionGeorgiana Crane é a filha solteirona de Eloise e Sir Phillip Crane e vive por suas leituras e seus trabalhos com as plantas de seu pai. Mas, depois que viaja para aprofundar seus conhecimentos sobre botânica, ela acaba descobrindo novos interesses e...