Julho de 1852
Georgiana havia acabado de chegar na Irlanda. Depois de muito implorar, conseguiu convencer seus pais a irem para lá.
O julgamento de Nicholas ainda não tinha acontecido, e Georgie queria tentar nem que fosse uma vez, conseguir revê-lo. Parecia que tinha passado uma eternidade desde a última vez que tinham se encontrado.
Não sabia o que fazer, estava apavorada com a ideia de que ele poderia ser morto. Ainda mais por um crime que ela sabia que ele não cometeu.
Estava revoltada com as instituições, com a lei, com a rainha. Com o mundo. Aquilo era uma grande injustiça.
Antes da Irlanda, tinham passado brevemente em Londres para conversar com seus tios, e Georgie aproveitou para pedir ajuda para suas amigas do jornal. Não sabia se alguma ajuda poderia vir dali, não tinha muita certeza do raio de influência delas, mas qualquer coisa já era útil.
Olhou para o cais e não se surpreendeu ao ver Devlin esperando a sua família descer do navio.
— Bem vinda à Ilha Esmeralda — disse Devlin.
Cumprimentou Eloise e Phillip e os acompanhou até uma hospedaria no centro de Cork.
— O Sr. O'Brian irá se juntar a nós para o jantar. Ele ficou de ir para Spike Island saber das novidades e o andamento das coisas. — diz ele para Georgiana. — Meu quarto fica no próximo corredor à esquerda, pedirei para que sirvam o jantar lá, tem uma sala e poderemos conversar com mais liberdade. Se vocês estiverem de acordo? — a pergunta era dirigida aos pais de Georgiana.
Eloise concorda e o marido faz o mesmo.
Mais tarde, os Crane, Luke e Devlin estavam na retangular mesa de madeira do quarto-sala.
Parecia mais um recinto para as reuniões do grupo de Dev, mas naquele momento a falta de luxo não era importante, até porque o local era bastante limpo e confortável.
Tyrrell chegou um tanto atrasado, viera direto do forte Mitchell para a estalagem. Sua expressão era tensa e suas palavras contidas ao cumprimentar todos.
— Eu temo não trazer boas notícias — diz ainda de pé. — Adiantaram o julgamento de Nicholas.
— Para quando? — pergunta Dev, ansioso.
O advogado balança a cabeça parecendo derrotado.
— Não, você não entendeu. Adiantaram para ontem, Nicholas já foi julgado.
Georgiana sentiu calafrios ao ver a expressão do advogado. Deu um passo para trás, como se fugir dali fosse fazer o problema desaparecer.
Ela nem precisava perguntar. Já sabia a resposta e estava apavorada. Seu maior pesadelo estava se concretizando.
Sentiu sua mãe segurando sua mão, mas nenhum conforto seria o suficiente nessa situação. Precisava de um milagre.
— E o que ficou decidido? Quer dizer, para quando? — perguntou Eloise.
Era óbvio para qualquer um, mas ela precisava de dados concretos para poder pensar em algo, em um milagre que pudesse ajudar sua filha.
Estava com o coração partido ao ver a expressão de desolação de Georgie. Venderia sua alma ao diabo, caso isso fosse capaz de tirar aquela expressão do rosto da sua filha.
O'Brian encara todos com pesar.
— Vão cumprir a sentença em primeiro de agosto.
Devlin estava pálido, encarava Tyrrell sem realmente enxergá-lo. Se levanta de uma vez fazendo a cadeira cair para trás.
— Não... Tem que ter.. Deve haver algo que possamos fazer. — diz com a voz estrangulada.
Tyrrell balança a cabeça.
— Infelizmente, traição... Está acima da defesa de um advogado.
Devlin olha para Georgiana como que esperando que ela lhe passasse uma solução, coragem ou sabedoria. Vamos lá, Crane, me dê algo que minha maldita mente não está pensando. Nós dois o amamos, não podemos deixar isso acontecer com ele.
Georgie olha para a janela, sem esperanças. Achava que tinha sofrido quando pensou ter perdido Nicholas, mas agora parecia que de fato iria perdê-lo, e o pior, assistiria todo o processo.
— Precisamos fazer algo. Não podemos simplesmente deixar um inocente ser preso, acusado de assassinato, jogado nas masmorras de uma fortaleza insular. Isso é terrível. E tudo isso só por ser um opositor desses patifes que deixaram tantos morrerem à míngua.
Devlin revirava a própria mente em busca de respostas. E se... Para e olha a de repente para Georgiana. Precisava falar a sós com ela.
Eloise abraça a filha tentando consolá-la. Phillip encarava as duas com uma expressão sofrida. O silêncio era cortante.
A reunião se dissipou pouco depois. Tyrrell ficou de entrar em contato com o governador do Forte Mitchell, iria solicitar uma nova visita, dessa vez com intenção de ver Nicholas; Devlin insistira naquilo, dizia que se não houvesse outra saída, era justo a noiva pelo menos poder dar o seu adeus.
A sugestão rendeu um protesto de Georgiana, que estava dividida entre querer ver Nicholas, mas ao mesmo tempo não aceitava nem de longe a ideia de uma despedida. Tinha encarado Devlin furiosa.
Ele fez sinal para que a amiga não negasse. Tyrell se retirou e junto com ele os Cranes, mas quando estavam no meio do corredor Devlin saiu de seus aposentos.
— Posso falar com a srta. Crane por um minuto?
A pergunta era dirigida aos seus pais, mas foi a moça quem respondeu.
— Podemos.
E antes que alguém falasse algo, ela acompanhou Devlin na direção oposta de onde estava indo.
— Diga. — disse com rispidez. Ainda estava chateada por ele aceitar tudo aquilo e ainda sugerir uma despedida entre ela e Nicholas.
— Não fique zangada, não quis dizer aquilo de verdade. Acha mesmo que me dei por vencido e vou aceitar que meu amigo morra enforcado?
Georgie se encolhe.
— Não temos muito tempo, então vou ser breve. Pensei em algo, Georgie. O que você falou me lembrou de uma história... Mas isso não vem ao caso. Tive uma ideia, mas não é muito prática ou fácil, para falar a verdade é um tanto insana e descabida.
Devlin tinha um brilho selvagem no olhar, e até um tanto excitado.
— Preciso de sua ajuda e precisamos voltar para Dublin assim que amanhecer. Temos muito o que fazer.
— Uma vez eu disse à Nicholas que eu iria até o fim do mundo com ele. Pode contar comigo para o que for preciso.
Autoria: Íris L. e Isadora F.

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𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨
FanfictionGeorgiana Crane é a filha solteirona de Eloise e Sir Phillip Crane e vive por suas leituras e seus trabalhos com as plantas de seu pai. Mas, depois que viaja para aprofundar seus conhecimentos sobre botânica, ela acaba descobrindo novos interesses e...