Capítulo 6

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Agosto de 1850

Georgiana conseguiu escapar novamente para a vila para poder enviar suas cartas. Já estava cansada de ter que inventar mentiras para os seus pais para poder escapar de casa. Estava pensando em arrumar um intermediário, mas tinha medo da pessoa deixar escapar o que ela estava fazendo. Às vezes pensava que sua mãe já sabia que estava aprontando algo e deixava ela ir só para ver até onde iria essa aventura. Esperava que isso não fosse verdade, mas não conseguia tirar da cabeça que sua mãe sabia de algo.

Apesar das desconfianças, Georgiana gostava desses momentos a sós no trajeto para a vila. Gostava de apreciar a vista e pensar enquanto andava. E neste momento, estava tão focada em seus pensamentos que não percebeu o cabriolé ao seu lado, até que seu ocupante disse seu nome e ela gritou assustada.

— Céus! Está fugindo de casa? — indagou Nicholas, divertido.

Lá estava sua vizinha e amiga recente, Georgiana, em uma de suas caminhadas misteriosas pela estrada que levava ao vilarejo. Nicholas tinha correspondências para postar, mas por seu conteúdo, era melhor ele mesmo fazê-lo. E já estava no meio de sua missão quando avistou a garota Crane carregando a mesma cesta que já vira das outras vezes, com a mesma expressão concentrada.

Por mais que seu bom senso lhe dissesse para ignorá-la e seguir com seu caminho, ele não pôde. Afinal, o que custava oferecer uma carona para a moça?!

Georgiana suspira de alívio ao perceber que era Nicholas e não algum salteador de estradas.

— Claro que não, sr. Brougham. Eu só estava distraída com a paisagem. Não teria motivos para fugir de casa.

Georgiana percebe o olhar de Nicholas para sua cesta e acaba apertando mais ainda a alça da cesta. Estava ficando paranóica. Era apenas uma cesta, aparentemente inocente. Ele não poderia imaginar o conteúdo dela, não precisava ficar preocupada com isso.

— E o senhor? Por acaso está fugindo? Pelo que sei os cabriolés são bem velozes. Seria um meio de transporte mais inteligente para fugir do que andar a pé distraída, não é mesmo?

— Será que realmente não teria? — balança a cabeça e se adianta sem esperar resposta. — Está indo até o vilarejo?

A teoria de que Georgiana estava se encontrando às escondidas com algum rapaz ainda parecia pertinente para Nicholas. Não conseguia pensar em que outra razão teria para uma moça como a senhorita Crane fazer tantas caminhadas... Sozinha.

— E sim, estou sempre fugindo, senhorita Crane. Fugindo do espírito casamenteiro que possuiu minha mãe, fugindo de cunhados inconvenientes e de... — ele para de repente e coça a garganta, tentando disfarçar o desconforto. — Quer uma carona ou não?

Era para ser uma gentileza, mas Nicholas nunca levou jeito para isso. Sabia que havia soado grosseiro. Bem, ele era meio grosseiro e não sentia necessidade de mudar isso.

— Estou indo ao vilarejo sim — Georgiana ignora o rompante de Nicholas sobre estar fugindo dela e das maquinações casamenteiras de suas respectivas mães — e se não for incomodar o senhor eu aceito a carona, obrigada.

Georgiana sobe no cabriolé e se senta o mais longe possível de Nicholas, o que não queria dizer muita coisa, visto que o banco não era muito largo.

Depois de alguns minutos de um silêncio desconfortável, Georgiana pensou que não foi uma boa ideia aceitar a carona. Parecia que ela estava na companhia do Nicholas do chá, taciturno e mal educado, nem parecia a mesma pessoa que havia conversado com ela no almoço do mês passado. Tentou pensar em algo para conversar mas nada parecia ser correto. Chegou a virar a cabeça várias vezes para o lado dele para falar algo e no fim não dizia nada.

𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora