Capítulo 2

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Março de 1850

Georgiana estava cansada. E o mês mal havia começado. Suas pesquisas e leituras ocuparam grande parte das noites frias de fevereiro e manter tudo escondido de sua perspicaz mãe também dava trabalho. Além disso, tinha suas experiências e trabalhos na estufa com seu pai, o que ocupava grande parte do seu dia. Agora que havia terminado suas tarefas da madrugada, ela precisava ir à vila com certa urgência.

Estava tentando se esquivar de sua mãe, que estava tentando orquestrar uma nova visita à Sra. Brougham e que ela seria obrigada a ir para "encantar" o esquivo Sr. solteiro da região. A única opção seria sair enquanto estava na estufa. Seu pai não perceberia nada. Era só dizer que iria comprar livros, fitas, ou algum artigo de higiene feminina. Ele realmente não questionaria...

Enquanto preparava algumas mudas na estufa com seu pai, Georgiana olhou para o relógio e viu que precisava sair logo. Já havia deixado os papéis no vestíbulo. Iria com a roupa da estufa mesmo. Ninguém questionaria as marcas de terra em seu vestido, já estavam acostumados com a excêntrica filha dos Cranes.

— Pai, se o senhor não se incomodar, sairei da estufa mais cedo. Preciso comprar alguns artigos no boticário da vila.

Phillip tirou os olhos das mudas e olhou para sua filha, que estava corada.

— Está doente? — diz preocupado.

Georgiana sente suas orelhas esquentarem, odiava mentir para seu pais.

— Não, não estou doente, só estou com um pouco de dor, sabe...problemas femininos.

Ela abaixa a cabeça e fica mais constrangida. Ia dar certo.

Phillip volta a olhar para suas plantas para evitar deixar a filha mais envergonhada e piorar a situação.

— Vá antes que escureça.

— Sim. Volto o mais rápido que conseguir. Até mais tarde.

Georgiana sai correndo e contorna a casa, para não correr o risco de esbarrar em sua mãe. Entra escondida pela porta principal e pega o envelope que havia deixado embaixo de um dos aparadores e sai para a vila.

Nicholas atravessava o pomar da casa Brougham, cortando caminho pela propriedade. Levava consigo no bolso do colete uma carta que acabara de chegar da Irlanda. Era de Devlin.

Estava ansioso por notícias há meses. Sabia que as coisas andavam tensas e a falta de comunicação com seu amigo era uma medida de segurança. Porém, não podia evitar ficar aflito. E era essa a companhia de todos os dias, a aflição — pesando em sua mente desde que punha os pés para fora da cama até a noite, quando imagens de fogo e morte o visitavam nos sonhos.

Era difícil manter uma postura normal ou até mesmo quieta quando sua mente estava fervilhando. Daisy achava que o filho ainda sofria com as dores do acidente — o que de certa forma ainda era verdade —, tentava melhorar o humor taciturno dele do seu jeito e Nicholas não podia culpá-la... Era sua mãe e a amava, sabia que só estava preocupada com ele.

Uma parte sua se sentia culpado por mentir para ela, mas sabia que sua mãe estava melhor assim, sem conhecer toda a verdade...

Caminhava no melhor ritmo que podia para chegar a um lugar tranquilo e longe dos olhos curiosos dos habitantes da casa. Na verdade, procurava um pouco de silêncio também. Não podia negar que nos últimos anos realmente aprendera a dar valor a isso.

Coxeando, se aproximava do fim do horto e já podia ver a estrada que levava ao vilarejo. Se apoia em uma das árvores, largando precipitadamente a bengala. Ainda não pegara o jeito com aquela coisa e a falta de um apoio faz ele cambalear.

𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora