Setembro de 1850
"(...) Charles, que a havia acompanhado, tomou-lhe a mão, atraiu-a sobre seu coração, enlaçou-a pela cintura e a apoiou docemente sobre si. Eugénie não resistiu mais: recebeu e retribuiu o mais puro, mais suave, mas também o mais completo dos beijos."
Georgiana fechou o livro Eugénie Grandet com força e o colocou na mesa de cabeceira. Depois daquele fatídico dia, ela não conseguia parar de pensar no beijo. Todas as histórias que ela lia, quando aparecia a terrível palavra, os personagens em sua mente se transformavam nela e em Nicholas. Mesmo quando a descrição eram de beijos de amor. Ela sabia que aquele beijo não tinha significado nada, provavelmente ele só fez aquilo para assustá-la. Mas sua cabeça sempre voltava para aquele ponto.
Olhou para a sua escrivaninha e para a carta dele sobre os artigos que ela enviara e gemeu. Já haviam se passado duas semanas desde o último encontro deles. Estava insegura do que responder. Os comentários de Nicholas haviam sido tão inteligentes e espirituosos que ela estava com medo de não conseguir responder a altura. Parecia tão mais fácil falar com ele ao invés de escrever... Estava admirada com ele, com o fato dele defender a luta por direito das mulheres mas ao mesmo tempo estava apavorada com essa admiração. Estava com medo de começar a confundir as coisas por conta daquele beijo.
Provavelmente era somente a animação de ter descoberto uma coisa nova. Não poderia ser outra coisa. Não poderia estar começando a gostar dele. Ela nunca gostou de ninguém. Não iria começar a gostar de um homem que no pior dos casos era um grosseirão.
Fazia de tudo para esquecer do beijo mas parecia que a palavra e o gesto estavam em todos os lugares agora.
Todos os livros que ela leu nas últimas semanas tinham a fatídica palavra e o pior de tudo foi em casa mesmo. Em duas ocasiões na última semana havia esbarrado com seus pais se beijando. Em uma delas, estava passeando pela galeria de retratos da família e a outra aconteceu na estufa, à noite, quando foi buscar seu caderno de anotações. Já havia presenciado isso antes, mas não sabia nada sobre beijos e então achava nojento. Mas agora, ela não sabia mais o que pensar. Estava confusa. Apavorada.
Mas precisava responder à carta dele. Levantou-se da cama e começou a escrever para ele.
Romney Hall, 15 de setembro de 1850
Caro sr. Brougham,
Fiquei admirada com a sua opinião acerca dos artigos que lhe enviei. A nova edição acabou de chegar, estou enviando o exemplar para que o senhor dê sua opinião sobre os artigos.
Atenciosamente,
srta. Georgiana Crane.
Uma batida na porta do quarto tira a atenção de Nicholas do livro que lia. Era o mordomo da casa Brougham trazendo uma correspondência.
Já faziam algumas semanas desde que mandara uma carta para Devlin e esperava ansiosamente sua resposta. Luke havia se livrado do julgamento por intervenção de Ryan, mas ainda enfrentava alguns problemas com a Guarda Real. Eles perseguiam a ele e outros conhecidos de Nicholas. Estavam sendo encurralados. Nick estava cada vez mais aflito e sua única fonte de notícias não estava colaborando.
Sabia que Dev havia ficado descontente com o envolvimento de seu irmão. Mas Nicholas tinha tentando da melhor forma explicar ao amigo que tinha sido necessário.
A grande surpresa era que a carta que recebera não era de Devlin, e sim de Georgiana Crane. Ele jurava que não teria uma resposta de sua vizinha dado que já haviam se passado um par de semanas desde que ele tentara se comunicar com ela.
Tinha enviado apenas uma missiva sobre os artigos que Georgiana levava consigo. Era um assunto que lhe interessava e queria debater sobre eles com ela. E parecia que finalmente a garota Crane desistira de dar-lhe um gelo.
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𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨
FanfictionGeorgiana Crane é a filha solteirona de Eloise e Sir Phillip Crane e vive por suas leituras e seus trabalhos com as plantas de seu pai. Mas, depois que viaja para aprofundar seus conhecimentos sobre botânica, ela acaba descobrindo novos interesses e...