Capítulo 3

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Abril de 1850

A primavera estava em seu auge e Georgiana não podia estar mais satisfeita. Tinha várias plantas com as quais trabalhar, seu pai estava ensinando várias técnicas de botânica, agora que as flores estavam por toda a parte. E estava com ótimas ideias para esse mês. E ela nem podia acreditar que mais da metade delas vieram de uma carta do senhor Brougham.

Pouco depois de ter deixado sua carta na vila, no mês anterior, Georgiana havia recebido uma carta bastante atrevida do Sr. Brougham pedindo que Georgiana procurasse alguns livros para ele. Eloise leu a carta e achou encantador da parte dele pedir ajuda, mas Georgiana sabia muito bem que por trás de toda a polidez, ele estava provocando-a, usando termos que ela havia usado contra ele no chá.

E o mais surpreendente de tudo era o bom gosto. Georgiana ficou impressionada, a contra gosto, com as escolhas dos livros. História, política e várias tragédias do teatro grego estavam listadas. Alguns livros já eram conhecidos dela e dos demais ... Georgiana acabou lendo também. Apesar da casa dele ser mais próxima da vila, Georgiana acabou levando os livros para casa e lendo todos. Queria saber qual era o gosto daquele vizinho mimado. E acabou gostando de vários deles. Chegou a pensar em não entregar os livros, em pagar para o senhor Brougham o valor deles, mas para isso teria que falar com ele. Entregou os livros para um criado levar na casa dos Broughans e nunca mais teve notícias dele. E estava feliz por isso.

Depois de colher algumas flores para seu pai iniciar as técnicas de polinização manual, Georgiana decidiu sair para passear pela propriedade de Romney Hall. Precisava de um tempo sozinha para poder pensar no que escreveria e para ler o artigo que a Sra. Atkins havia lhe enviado sobre algas. Depois de andar por vários campos floridos e por algumas rotações de culturas, ela decidiu que o lago seria um lugar perfeito para refletir e saiu andando para lá.

Nicholas tinha levantado cedo, bem antes do sol nascer. Odiava o ócio em que se encontrava. Definitivamente não havia nascido para atuar no papel de almofadinha bem nascido que esperava o pai morrer para então assumir alguma responsabilidade. Queria fazer algo, qualquer coisa. Por sorte, seu pai, Carl Brougham, ainda estava vivo e cheio de saúde. Nesse momento se encontrava em Londres resolvendo algumas pendências. Nick, debilitado como estava, não pôde acompanhá-lo em seus afazeres.

O pai, diferente de sua mãe, entendia que o filho tinha outras aspirações. Mas Nicholas sabia que um dia teria que assumir suas responsabilidades. Por sorte — Ou azar?! —, os Brougham não eram senhores de uma grande quantidade de terras e muito menos detentores de títulos. A propriedade dos Brougham era pequena, mas lucrativa. Nada muito complicado para administrar. Nada como Harmon Hill, a antiga casa de Nick, onde ele trabalhava como administrador.

Nicholas suspirou exasperado. Sentia falta de cavalgar, caminhar que não fosse no ritmo de uma tartaruga. Correr. Mas nada disso era possível quando se tinha que andar arrastando uma perna. Os médicos que ele consultara, tinham lhe dito que era uma questão de tempo até ele melhorar um pouco, mas que nunca seria como antes. Porém, não sabia exatamente de quanto tempo falavam. Havia meses e nenhum sinal de melhora. Mal podia dobrar o joelho. Dores lhe afligiam sempre que se movimentava.

A melhor coisa que lhe acontecera em semanas foi voltar a fazer uma pequena — e agora complicada — travessura de quando era criança.

Costumava invadir Romney Hall para nadar no lago dos Crane. Apesar das histórias que os criados cochichavam sobre o lago ser amaldiçoado, ele nunca se importou; vivia fazendo a mãe ralhar com ele por chegar ensopado em casa. Seu maior prazer era balançar os cabelos molhados perto das irmãs e ouvi-las soltarem gritinhos histéricos.

E agora estava ele sentado em uma pedra na beira do lago esverdeado balançando os pés.

A água gelada, descobriu ele, era uma ótima solução para a dor em sua perna. A dormência era deliciosa.

𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora