Capítulo 4

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Maio de 1850

Depois de alguns dias pesquisando o que fazer, Georgiana resolveu mandar flores para a Senhora Brougham e livros emprestados para Nicholas. Sua mãe ficou extremamente satisfeita, imaginando que a filha estava interessada no vizinho. Mal sabia ela a mensagem por trás de tudo. É claro que Georgiana não mostrou quais flores e quais livros havia separado, sua mãe era inteligente demais e poderia captar a sua intenção. Pediu para que um criado enviasse os livros, que estavam embalados e as flores para a casa Brougham. Não sabia se Nicholas iria entender a mensagem mas a satisfação de se sentir vingada já bastava todo o trabalho que teve.

Uns dias atrás a coisa mais estranha aconteceu com Nicholas — e olha que ele tinha algumas experiências com coisas estranhas. Mas essa em particular deixou ele... Curioso.

Primeiro um criado dos Crane aparece na casa Brougham trazendo presentes em nome da senhorita Crane. Era um jarro pequeno contendo uma plantinha mal cheirosa, parecia algo medicinal. Umas florzinhas miúdas brotavam dos galhos finos e verdes. Eram para sua mãe. Até aí, nada muito anormal. Bom, tirando o fato que tinha um segundo embrulho, e esse era destinado à Nicholas.

Daisy foi toda emocionada entregar para o filho no quarto um pacote razoavelmente grande coberto de papel pardo. Nicholas encarava o embrulho com certo receio. Quais seriam as chances da garota Crane saber mexer com venenos? Bem, acho que não seria covarde ao ponto de matar algumas pessoas só para por fim assassinar a Nicholas, pensou ele se tranquilizando.

Passou os dedos pelas tiras de barbante desamarrando o pacote e para sua surpresa eram apenas livros. Bons livros. Livros que ele ainda nem sequer lera, mas sabia que eram bem recomendados.

Sua mãe funga fazendo Nick perceber que ela ainda estava ali.

— Ah, não se preocupe, querido. — diz ela se retirando meio animada, meio emocionada. — Vou deixar você apreciar seu presente. Que garota gentil a Georgie. Seria uma boa es.... Alma. Muito boa alma.

Nick finge não entender o que a mãe estava falando e volta a encarar os livros recém recebidos. Um lhe chamou a atenção. Nunca tinha visto ou ouvido falar dele antes. A capa estava desgastada pelo uso, mas ainda se podia ver o desenho de flores e plantas se entrelaçando e o nome em relevo no meio que dizia: The Sentiment of Flowers (O Sentimento das Flores).

Estranho. Muito estranho. Eles podiam não se conhecer a fundo, mas com certeza ela deveria saber que Nicholas não era um botânico, e sim um administrador.

Poderia ter ido parar no meio daqueles livros sem querer? Mas toda situação era incomum e algo lhe dizia que Georgiana era esperta o bastante para não cometer esse tipo de erro. Pega o livro entre os dedos, sabia que ninguém podia vê-lo, mas se divertia com o pensamento de irrita-lá fingindo nojo pelo objeto. Traz para perto do nariz. Ele cheirava a ervas e sabe se lá o que mais. Enruga as narinas em reprovação.

Em meio a agitação das páginas um envelope cai de dentro do livro. Nicholas o recupera. RÁ! Era uma carta da vizinha...Para ele.

Aquilo não podia ser coisa boa. Deixando a cautela de lado, rasga o papel e começa a ler seu conteúdo. Lá estava a resposta, ou pelo menos, meia resposta para o que Nick queria tanto saber.

O tal livro das flores era um dicionário, ou algo do tipo. Dava significado às plantas e flores. E um outro detalhe da carta menciona a importância dos títulos dos exemplares que ela mandava. E foi aí que Nicholas entendeu.

Os nomes dos livros eram claros insultos à ele e referências ao seu último encontro com a garota Crane...

"Nicholas Nickleby, Dickens...Almas mortas, Gógol...Asno de ouro, Apuleio... Os sofrimentos do jovem Werther, Goethe...Ilusões perdidas, Balzac...A mulher de 30 anos, Balzac..."

𝙊 𝙢𝙞𝙨𝙩é𝙧𝙞𝙤 𝙙𝙤 𝙞𝙣𝙜𝙡ê𝙨Onde histórias criam vida. Descubra agora