Capítulo 8

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ANAHÍ

A preocupação com um iminente aviso de despejo, sem um plano B, e a lembrança de dedos habilidosos me levando ao orgasmo em um beco escuro, me acordam de um sono agitado às quatro da manhã do domingo.

Em vez de ficar rolando na cama, tentando reencontrar o sono que sei que não vai voltar durante o resto do dia, visto roupas velhas e limpo meu apartamento ao som das 50 maiores peças de música clássica da Orquestra Filarmônica de Londres.

Duas horas mais tarde, não sobrou nada para limpar, mas minha cabeça ainda se recusa a relaxar. Então, faço uma caminhada enérgica até minha padaria favorita para tomar um café e comer uns bagels.

Abastecida de cafeína e carboidrato, volto para casa para tomar banho e procurar na internet um novo consultório para alugar.

— Ainda não são nem sete horas. Sua dependência de café deve ser pior que a minha. — Estava quase chegando à porta do prédio quando escuto a voz de Alfonso, inusitadamente alegre, atrás de mim.

Viro para trás, sem esperar ou querer ver algum conhecido quando preciso desesperadamente de um banho. Pelo menos, o capuz do moletom cobre minha cabeça.

— Oi... — Sorrio. — Estou meio disfarçada. Como me reconheceu?

— Bunda e pernas. São inconfundíveis.

— Pervertido.

— Às vezes. — Ele se aproxima de mim segurando dois copos fumegantes. Hoje o terno deu lugar a calça jeans e suéter.

— Seus pais te deram permissão para sair? Ou não voltou para casa ontem? Não fui sua única companhia feminina na noite passada?

— Isso é ciúme?

— Claro que não. — Abro a porta e caminho em direção à escada. — Corro o risco de alimentar seu ego com esse comentário mas, você é o que algumas mulheres chamam de P.A*, como eu te chamo de Gostoso de Terno, mas enfim, é um desperdício não dividir, então espero que a próxima da fila tenha aproveitado tanto quanto eu.

— Agora me senti vulgar. — ele responde.

Destranco e abro a porta do apartamento limpo.

— Não. — Olho para trás de um jeito provocante e entro. — Já vi seus ternos, seu carro e sua casa, Sr. Herrera. Você está bem longe da vulgaridade.

Ele olha para o balde com material de limpeza ao lado da porta da varanda.

— Limpou a casa para mim. Parece que sabia que eu viria.

Deixo o café na bancada da cozinha e tiro a bagel da embalagem.

— Ah! Não... você foi a surpresa inesperada da manhã.

Ele remove a tampa do copo de seu café sorrindo enquanto o leva à boca, e bebe sem deixar de olhar para mim.

— Veio só para me trazer café? Visitinha de sacanagem matinal? Ou só quer me lembrar que preciso arrumar outro consultório para alugar?

O sorriso de Alfonso desaparece, e os olhos buscam qualquer outra coisa na sala, menos eu.

— Não é pes...

— Eu sei, eu sei... negócios, nada pessoal.

— Será que eu posso terminar? — Ele me olha sério.

Solto o ar lentamente e assinto.

— Sei que está furiosa por eu não ter tentado me informar sobre o seu trabalho antes de assinar o contrato de aluguel, mas a verdade é que não consigo me concentrar enquanto você toca tambor e canta a tarde toda. Não é pessoal. Eu não acordei um dia e decidi te despejar. Quando nos conhecemos, gostei de você e pensei que seria uma ótima inquilina. E mesmo que você não acredite, preciso me concentrar no meu trabalho.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora