Capítulo 19

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ANAHÍ

Na manhã seguinte, bebo meu café esperando a chegada do médico e esperando meu pai acordar. Sem nada melhor para fazer, relembro minha juventude.

Houve um tempo em que eu vivia cada momento e só planejava minha vida até a próxima aventura com Alex. Entrávamos no carro de uma hora para outra com roupas apropriadas em uma sacola grande, o suficiente para um fim de semana prolongado escalando, pedalando ou surfando. Dormíamos no nosso Subaru Outback quase tanto quanto na nossa cama. Nossos pais eram saudáveis e felizes. Ninguém dependia de nós. O trabalho era só para ter dinheiro para o lazer, e lazer não faltava.

Sem arrependimentos.

Só se vive uma vez.

Curte o momento.

Esses eram nossos lemas.

Mas acidentes acontecem.

Trabalhos se transformam em profissões.

A vida começa a exigir responsabilidade.

— Bom dia. — O médico me traz de volta à realidade.

— Bom dia. — Forço um sorriso, tentando demonstrar que estou bem sendo uma mulher responsável de trinta e dois anos.

Ele faz um exame e alguns testes. Eu acompanho tudo me sentindo anestesiada. Até que... meu pai se mexe e abre os olhos.

— Pai! — Entro em seu campo de visão, sem me importar se atrapalho o médico ou a enfermeira.

Sons sem sentido brotam de sua boca. Ele se retrai, frustrado.

Afago sua mão, e ele corresponde, o que é bom, muito bom.

— Não se preocupe — digo. — Vamos achar as palavras de novo.

E move a cabeça levemente numa resposta afirmativa.

Recuo para deixar o médico terminar o exame. As palavras dele ecoam como se eu as ouvisse do outro lado de um túnel. Eu sabia que elas viriam, mas não imaginava a angústia nos olhos de meu pai enquanto ele tentava processar tudo o que era dito.

Disfagia.

Hemiparesia.

Dor.

Espasticidade.

Possíveis convulsões.

Visão prejudicada.

Incontinência.

Problemas de fala e compreensão.

Mas... lá vem...

— Prognóstico bom.

Sorrio para o médio, mas a verdade é que estou rindo para ele. A palavra "bom" não se encaixa no fim dessa lista de possíveis sequelas.

— Obrigada — digo ao médico, mantendo o sorriso enquanto ele acena com educação antes de sair do quarto.

Esse sorriso doloroso é a única coisa que me impede de quebrar em um milhão de pedacinhos irreparáveis.

Os olhos azuis do meu pai estão cravados em mim. Não sei como ele está processando tudo isso. Pode ser uma pequena bênção se ele não tiver entendido completamente todas as dificuldades que talvez tenha pela frente.

Chego perto da cama e sento na beirada, segurando a mão dele e levando-a aos lábios.

— Vai dar tudo certo — sussurro.

xxx

ALFONSO

— Que bom que chegou bem em casa — Dalila me cumprimenta sorrindo.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora