ALFONSO
A vida serve pequenas doses de vingança nos momentos mais inesperados. Essa noite de hoje não foi exceção. Quando minha confiança entra em guerra com meus medos, parece que tudo desanda.
— Obrigada pela carona. — Anahí pega a chave do próprio carro em sua bolsa quando estaciono na entrada de casa.
— Você está bem para dirigir? — pergunto.
— Sim, estou bem. O machucado é no braço, não na mão, vai dar certo.
Assinto, como se tivesse a mesma síndrome do pescoço de mola que Anthony sempre tem comigo.
— Anahí...
— Já sei. Treze dias.
— Não era isso que eu ia dizer.
Ela segura a maçaneta da porta, comprime os lábios, e aquele cantarolar irritante e conhecido preenche o espaço à nossa volta.
— É só que... — Começo, mas paro. Conto a verdade para ela, ou não? Pode ser complicado, porque a verdade não é muito clara na minha cabeça agora. — Sou bom em ler as pessoas. Júris. Testemunhas. Meus clientes. Mas não consigo te decifrar e estraguei tudo. Desculpa.
— Está se desculpando por não conseguir me decifrar? Por eu ter me machucado? Ou por ter parado?
Sinto saudade da minha esposa. Dez anos depois, e ainda não consigo respirar direito. Mulheres aleatórias. Com essas eu consigo lidar. Mulheres que não sabem nada da minha vida. Mulheres que não conhecem Anthony.
Anahí Portilla chamou a atenção do meu filho, um menino que raramente dá atenção de verdade a alguém. Essa situação já passou de complicada há algum tempo. Não posso afastá-la do Anthony, despejá-la ou enfiar o pau dentro dela.
É difícil entender se a atração por ela é apenas física, ou se tem a ver com como ela alegra o dia do meu filho sempre que se encontram. É ridículo se sentir atraído por alguém por causa da interação dessa pessoa com uma criança, mas foda-se, eu acho que é por isso sim, em parte.
— Sim. — Ofereço um sorriso tenso e um movimento de cabeça afirmativo e determinado.
— Era uma questão de múltipla escolha, não de sim ou não. — ela retruca.
— Treze dias. —replico.
Ela morde a boca, balança a cabeça várias vezes enquanto abre a porta. Seus pensamentos e seus motivos, continuam sendo um mistério que não cabe a mim resolver.
— Só para constar... — Ela enfia a cabeça dentro do carro depois que já está do lado de fora. — Não queria que tivesse parado. — ela diz e se vai.
xxx
ANAHÍ
Nunca mais vou considerar o toque humano como algo garantido.
Um aperto de mão.
Um abraço.
Um tapinha no ombro.
Um corpo conectado a outro em busca do mais básico prazer humano.
Apesar de tudo, não vou me envergonhar das minhas necessidades.
— Podemos conversar? — A Dra. Hamilton me intercepta no saguão antes de eu ter tempo para beber uma xícara inteira de café. — E o braço?
— Tudo bem. Dolorido. Mas bem. — Olho para o vapor que se desprende da minha droga matinal favorita.
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Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]
Roman d'amourAlfonso é um advogado sério e metódico, que vive amargurado por um passado trágico e dedica seus dias ao seu filho de 12 anos que tem um leve caso de Síndrome de Asperger. Atualmente, Alfonso está precisando de um novo inquilino para seu prédio come...