Capítulo 6

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ALFONSO

A vida serve pequenas doses de vingança nos momentos mais inesperados. Essa noite de hoje não foi exceção. Quando minha confiança entra em guerra com meus medos, parece que tudo desanda.

— Obrigada pela carona. — Anahí pega a chave do próprio carro em sua bolsa quando estaciono na entrada de casa.

— Você está bem para dirigir? — pergunto.

— Sim, estou bem. O machucado é no braço, não na mão, vai dar certo.

Assinto, como se tivesse a mesma síndrome do pescoço de mola que Anthony sempre tem comigo.

— Anahí...

— Já sei. Treze dias.

— Não era isso que eu ia dizer.

Ela segura a maçaneta da porta, comprime os lábios, e aquele cantarolar irritante e conhecido preenche o espaço à nossa volta.

— É só que... — Começo, mas paro. Conto a verdade para ela, ou não? Pode ser complicado, porque a verdade não é muito clara na minha cabeça agora. — Sou bom em ler as pessoas. Júris. Testemunhas. Meus clientes. Mas não consigo te decifrar e estraguei tudo. Desculpa.

— Está se desculpando por não conseguir me decifrar? Por eu ter me machucado? Ou por ter parado?

Sinto saudade da minha esposa. Dez anos depois, e ainda não consigo respirar direito. Mulheres aleatórias. Com essas eu consigo lidar. Mulheres que não sabem nada da minha vida. Mulheres que não conhecem Anthony.

Anahí Portilla chamou a atenção do meu filho, um menino que raramente dá atenção de verdade a alguém. Essa situação já passou de complicada há algum tempo. Não posso afastá-la do Anthony, despejá-la ou enfiar o pau dentro dela.

É difícil entender se a atração por ela é apenas física, ou se tem a ver com como ela alegra o dia do meu filho sempre que se encontram. É ridículo se sentir atraído por alguém por causa da interação dessa pessoa com uma criança, mas foda-se, eu acho que é por isso sim, em parte.

— Sim. — Ofereço um sorriso tenso e um movimento de cabeça afirmativo e determinado.

— Era uma questão de múltipla escolha, não de sim ou não. — ela retruca.

— Treze dias. —replico.

Ela morde a boca, balança a cabeça várias vezes enquanto abre a porta. Seus pensamentos e seus motivos, continuam sendo um mistério que não cabe a mim resolver.

— Só para constar... — Ela enfia a cabeça dentro do carro depois que já está do lado de fora. — Não queria que tivesse parado. — ela diz e se vai.

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ANAHÍ

Nunca mais vou considerar o toque humano como algo garantido.

Um aperto de mão.

Um abraço.

Um tapinha no ombro.

Um corpo conectado a outro em busca do mais básico prazer humano.

Apesar de tudo, não vou me envergonhar das minhas necessidades.

— Podemos conversar? — A Dra. Hamilton me intercepta no saguão antes de eu ter tempo para beber uma xícara inteira de café. — E o braço?

— Tudo bem. Dolorido. Mas bem. — Olho para o vapor que se desprende da minha droga matinal favorita.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora