Capítulo 35

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ALFONSO

— Você é um homem difícil de encontrar.

Levanto o olhar da mesa, enquanto o saxofonista relata minha dor em forma de canção.

— Quem te ajudou?

Meu pai olha para a garrafa de uísque ao lado do meu copo de água meio vazio.

A preocupação aprofunda as linhas em sua testa.

— Vincent.

— Hum.

Ele senta na minha frente, olhando para o copo.

Jameson?

Monkey Shoulder.

— Bem adequado. — ele ri. — Faz uma semana. Aria vai para casa em dois dias. Ela está engordando e mantendo a temperatura corporal.

Assinto.

— Já segurou sua filha?

Engulo em seco e nego com a cabeça.

— Eu já. Ela é um pequeno milagre.

Minha mandíbula trava. Sei que ela é um milagre. Sei a que horas ela costuma acordar à noite. Sei por quanto tempo ela mama e sei que prefere o seio direito.

— É sua vida, Alfonso. Entra no jogo ou desiste, mas não fica no banco assistindo a todos à sua volta vivendo seu sonho.

Não olho para ele, não reajo à sua presença, e ele fica em pé e toca a borda da garrafa de uísque.

— Não preciso perguntar se bebeu. Sei que homem você é hoje.

Ele vira a garrafa de lado, derramando o líquido dourado pela beirada da mesa.

— E Anthony sabe sobre a Helen. Any contou para ele. — Ele me entrega um pedaço de papel dobrado. — Ela me pediu para te dar isto.

Olho para o papel por alguns segundos antes de pegá-lo. Meu pai se vira e caminha para a porta.

Sempre amei música. Minha professora de piano foi minha mentora. Ela morava a dois quarteirões de casa, era professora aposentada da Julliard. Eu era sua única aluna. Ela me ensinava porque meu pai fazia ternos para o marido dela. Seu nome era Ethyl – o nome que você vetou para nossa filha. (Eu te perdoo). Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, o carro dela foi atingido por um motorista bêbado. Ela passou três meses na UTI. Disseram que nunca mais andaria. Minha mãe me levava para visitá-la todas as semanas. Uma das terapeutas era musicoterapeuta. Eu nunca tinha ouvido falar dessa profissão. Durante os dezoito meses seguintes, testemunhei um milagre. Ethyl superou todos os objetivos que os médicos tinham dito que ela nunca alcançaria. Voltou a andar. Falou de novo. E voltou a tocar piano. Cada terapeuta teve um papel nessa recuperação, mas Ethyl dizia que a música a tinha curado. Foi quando eu soube o que queria fazer da vida. MAS... preparado para a parte boa? Porque sempre tem uma parte boa. De tudo que Ethyl conquistou na vida, de longe, a maior, a mais admirável, foi perdoar o homem que quase acabou com a vida dela. Céus e terra, Alfonso... Vou te amar tanto, que o tempo não vai ter nenhuma importância. A distância não vai ter importância. Cada vez que respirar, você só vai sentir... o meu amor.

- Any

•••

Pago a conta do hotel e chego ao hospital pouco antes da meia-noite. Anahí vai amamentar Aria daqui a pouco. Não consigo ouvi-la, mas sei que está cantarolando para nossa filha. Eu sei.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora