Capítulo 7

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ANAHÍ

Quase duas semanas passam sem nenhuma menção à contagem regressiva para o meu despejo. Tenho procurado outros lugares, mas não consigo encontrar nada adequado, por isso me sinto grata por cada dia que consigo encerrar sem Alfonso tocar nesse assunto.

Ele tem estado distante, mas cortês. Não sei se é por causa do aniversário de morte da esposa, minha disponibilidade para passar um tempo com Tony sem pedir nenhuma compensação ou gratificação, ou se ele ainda pensa no que quase aconteceu.

Hoje é um dia livre de angústia já que é fim de semana, meu momento favorito para estar no escritório sem ninguém nas outras salas ao redor e sem culpa por causa do barulho.

O dia passa tranquilo e às seis e meia, pego minha bolsa e acompanho a última paciente até a saída do edifício protegido pelo sistema de segurança.

— Any!

Olho para trás e vejo Tony acenando, correndo em minha direção, com Alfonso alguns passos atrás dele.

— Até a semana que vem — falo para a minha paciente, que já tirava as chaves da bolsa e se dirigia ao carro. Me viro para dar atenção a Anthony.

— Meus avós estão no carro. A gente pode tocar uma música para eles? — Tony pede.

— Anthony, não vê que a Srta. Portilla já está indo embora? — Alfonso força um sorriso falso.

— Por favor. Não vou demorar. — o garoto insiste.

— Fiz reservas em um restaurante. Talvez outra hora. Só preciso pegar uns arquivos que deixei aqui. Volta para o carro. — ele orienta ao menino

Olho para Alfonso, as palavras estão na ponta da língua, mas não sei se devo falar. Tenho a sensação de que Alfonso não quer minha opinião já que não deixou eu ter a chance de responder.

— Pai, quero tocar. Não vai ter outra hora antes de eles irem embora.

— Anthony...

— Pai! Eu quero tocar. — Ele começa a perder a calma. Alfonso fica tenso, a frustração transparece em seu rosto.

— Não vai levar mais de cinco minutos para tocar uma canção. — Finalmente abro a boca e dou de ombros. — Se tiver cinco minutos?

Alfonso franze a testa.

— Vai ajeitando tudo, eu subo com meus pais logo. Mas é só uma canção, Anthony. Só isso.

Tony passa por mim correndo e puxa a porta do prédio.

— Pai, abre a droga da porta.

Introduzo a chave na fechadura, digito minha senha e ele entra.

— Desculpa... — Alfonso começa, mas eu interrompo seu pedido de desculpas.

— Tudo bem. Vamos esperar vocês lá em cima. Estou ansiosa para conhecer seus pais. — Mordo o lábio para conter um sorriso.

Alfonso faz uma careta pouco antes de virar e voltar ao estacionamento. Ele não parece tão animado com a perspectiva de me apresentar a eles.

Já na minha sala, eu e Tony pegamos os violões e fazemos um aquecimento enquanto esperamos Alfonso com os pais dele.

— Onde seus avós moram?

— Colorado.

— Em que lugar do Colorado?

Tony presta atenção aos dedos nas cordas do violão.

— Não sei.

Sorrio. É claro que ele não sabe. Não por não ter sido informado, mas porque não considera a informação digna de sua memória.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora