ANAHÍ
Faz três semanas que meu pai teve o derrame. Tive que pedir licença no hospital e transferir meus clientes para outro terapeuta em Minneapolis.
Ele teve alta e está progredindo a cada dia, mas a recuperação é lenta. Meu dia se resume a levá-lo à terapia (fala e linguagem, fisioterapeuta, ocupacional), e depois ele dá um longo cochilo, porque tudo isso exige esforço.
Faço musicoterapia com ele à noite, e também usamos música e alguns ritmos para trabalhar o andar em casa. Meus avós têm ajudado com as refeições. É uma troca justa, porque limpo a sujeira do Bungie duas vezes por dia. E sei que eles querem ficar aqui. Vejo a preocupação nos olhos deles. É seu filho. As coisas ficam em desequilíbrio quando um filho adulto precisa de mais ajuda que os pais.
É como a morte. As coisas têm uma ordem natural. Os filhos não deviam morrer antes dos pais.
Envio uma mensagem ou telefono para Alfonso uma vez por semana para saber dos meus bebês. Eles estão cuidando da alimentação diária e da limpeza das gaiolas. E quando digo eles, me refiro ao Tony. Alfonso decidiu que Tony tem que cuidar disso sozinho, se quer tanto ter um animal de estimação. Acho que tem alguma lógica nisso.
Depois que meu pai e meus avós vão para a cama, encho a banheira com água quente e espuma. Não é uma banheira muito grande, mas é um lugar tranquilo que tenho só para mim por uma hora, até ir para a cama.
Deixo o celular sobre o vaso sanitário e ouço a playlist "Banho" mergulhada nessa bênção borbulhante.
— Vem com a mamãe... — Suspiro, fechando os olhos enquanto a água quente relaxa cada músculo tenso meu.
Paula Cole começa a cantar sobre "sentir amor". Durante uma hora, consigo me livrar das preocupações. Durante uma hora, fujo para as fantasias na minha cabeça. Durante uma hora, posso ficar nua, molhada e me sentir sexy.
Mesmo antes de Alex ter encerrado nossa vida em comum, ele ainda era o astro das minhas fantasias. Apesar do descaso com as carícias, o sexo era bom, muito bom. Mas agora não penso no meu ex-marido loiro surfista. O único homem que imagino me tocando como eu toco, nesse momento, dentro dessa banheira de água quente e espumante é alto, forte, moreno, perfeito dentro de um terno e capaz de fazer coisas mágicas com os dedos... os lábios... e aquela porra de língua sacana.
Um gemido abafado escapa de minha boca antes de eu morder o lábio, escorregando o dedo médio entre as coxas.
A música é interrompida uma vez. Ignoro.
Ela é interrompida de novo.
— Nãooo... — Pego a toalha e enxugo as mãos antes de pegar o celular de cima do vaso sanitário. Quem está interrompendo minha hora sagrada do banho?
Alfonso.
Ele não me chamou e não ligou nenhuma vez nas três semanas desde que foi embora. Sou sempre eu quem liga ou manda mensagem. Ele sabe que estou me tocando pensando nele?
— Obrigada por ligar para o 0800-ME-TOCA. Como posso realizar suas fantasias?
Nada.
Olho para a tela. A ligação não caiu.
— Desculpa, devo ter ligado para o número errado. Mas já que liguei, podemos considerar esse um feliz engano e seguir em frente para a parte da realização das minhas fantasias? - ele enfim, responde.
— Odeio ser seu engano, mas vou fingir que não ligo, se pensar em mim como um feliz engano.
— Está de bom humor.
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Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]
RomanceAlfonso é um advogado sério e metódico, que vive amargurado por um passado trágico e dedica seus dias ao seu filho de 12 anos que tem um leve caso de Síndrome de Asperger. Atualmente, Alfonso está precisando de um novo inquilino para seu prédio come...