Capítulo 11

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ALFONSO

— Oi, chefe. Como foi o fim de semana? Tentei ligar para você ontem à noite. Deve ter saído com seus pais. — Dalila me entrega uma lista de ligações que tenho que fazer quando me arrasto exausto para dentro do escritório, e continua a falar— Stenson não quer mais acordo. Disse que prefere viver na rua a deixar para a "vadia traidora da esposa" a casa que ele construiu "com as próprias mãos".

— É claro — bocejo, enquanto tiro o paletó e o penduro nas costas da cadeira de couro.

Bam, bam, bam.

Olho para cima.

— O que é isso?

— A Any. Ela é musicoterapeuta. Já tivemos essa conversa.

— Hoje é segunda-feira. Ela devia ter se mudado ontem.

— Ah, não viu nada nos jornais?

Bam, bam, bam.

Olho para o teto de novo.

— Não vi o quê?

— O edifício Dickson pegou fogo ontem à noite. Ainda não determinaram a causa.

— E o consultório dela era lá?

— Viu? Você é mais esperto do que parece. Se tivesse atendido o telefone ontem à noite, saberia que eu falei para Any ficar aqui até encontrar outro imóvel.

Bam, bam, bam.

— Quanta generosidade sua.

— É, também achei. Anthony vai achar isso fantástico.

Levanto os olhos da mesa.

Dalila dá de ombros.

— Tudo bem, ele vai ficar moderadamente feliz, do jeito dele.

— Não me deixa esquecer de discutir com você a palavra fantástico.

Ela vira para trás na cadeira.

— Não vou deixar. Vou até colocar na agenda do celular. Você tem uma brecha amanhã entre 13h30 e 14h, vou encaixar "discutir fantástico" nesse horário.

No mundo do futebol, as pessoas me respeitavam. No tribunal, as pessoas me respeitam. Acho que o elo quebrado tem a ver com mulheres. É retaliação... karma. Matei minha esposa, e agora todas as mulheres à minha volta se esforçam para me deixar maluco.

— Fecha as persianas e a porta, por favor. — peço.

Dalila suspira e vem até minha sala.

— É claro, não saia da sua cadeira. Eu cuido disso também.

Nenhum respeito.

Ela fecha as persianas da divisória de vidro entre minha sala e a dela, depois sai e fecha a porta.

— Sei que vai tirar um cochilo na hora do expediente. — ela comenta com esperteza.

Tiro o paletó, afrouxo a gravata e reclino a cadeira para apoiar os pés na mesa. Ela tem razão, vou tirar um cochilo.

Bam, bam, bam.

Fecho os olhos e tento bloquear o ruído lá em cima.

As rodas do ônibus rodam e rodam...

Ah, puta que pariu.

Levanto de repente e jogo a cadeira para trás, contra a estante.

— Cochilo rápido — Dalila diz ao me ver sair do escritório.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora