Capítulo 30

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ANAHÍ

Preciso de gente. Não um cara que traga lubrificante no fim de semana, mas gente que transporte mulheres grávidas, sobreviventes de derrame, cinco ratos e um grande caminhão de mudança por dois mil e quinhentos quilômetros sem um solavanco na estrada. É essa gente que eu quero.

Deixamos a maior parte das coisas do meu pai. Ele acha que um dia vai voltar para Cape Cod e seu barco. Por mais que eu o queira perto de mim e do bebê, também quero que ele consiga voltar para o lugar que mais ama.

Um dia de cada vez.

Alfonso está na varanda, agasalhado com um casaco grosso e chapéu quando paramos na entrada da garagem pouco antes da hora do jantar. Foram três dias de viagem, com muitas paradas para minha bexiga pequena e a velha próstata do meu pai. Os hotéis onde Alfonso fez reservas para nós eram de primeira, mas nada supera a imagem de um novo lar.

Tenho minha janela panorâmica.

Tenho o cara.

Tenho o menino que adoro.

Tenho a vida que quero.

— Ah, como você está linda. — Alfonso estende a mão para me ajudar a sair do carro. A entrada da garagem está coberta por uma fina camada de neve deixada por flocos recentes.

Desço do automóvel e o abraço assim que fico em pé.

— Não acredito que estamos fazendo isso — cochicho em seu ouvido antes de os nossos lábios se encontrarem.

Ele me beija e sorri.

— Infelizmente, acho que Anthony ainda está pensando a mesma coisa.

O motorista ajuda meu pai a descer, mas ele está bem sozinho.

— Venham, está frio aqui fora. — Alfonso segura minha mão. — Sr. Portilla, como foi a viagem?

— Está me recebendo na sua casa, acho que Jon é suficiente. — Meu pai pisca para Alfonso.

Sim, eles vão se dar bem.

— Está falando muito melhor. — Alfonso comenta.

Meu pai assente.

— Dias preso no carro com uma terapeuta mandona.

Dou risada. As coisas começaram a se encaixar, e em questão de dias a fala fragmentada dele se transformou em sentenças completas.

— Anthony, desce aqui, por favor. — Alfonso chama quando tiro o casaco e vou pendurá-lo no mancebo.

Derek, o rapaz que veio dirigindo meu carro, e Greg, o motorista do caminhão de mudanças, descarregam tudo, inclusive meus ratos.

— Jon, esse vai ser seu quarto até o anexo ficar pronto. — Alfonso nos leva ao escritório.

Sinto o rosto quente só de estar ali. Os olhos de Alfonso passeiam sem pressa por meu corpo, informando que não sou a única que lembra o que aconteceu ali.

— A escada — meu pai comenta.

— Vai para a suíte master.

Meu pai olha para mim.

— Posso ficar... de olho em vocês dois.

Por favor, não. Sorrio.

— É um pouco tarde demais. — comento.

Alfonso levanta as sobrancelhas, mas não diz nada. Nem ameaça pedir desculpas ao meu pai por ter engravidado a filha dele.

— Oi.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora