Capítulo 29

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ANAHÍ

Quinze minutos podem ser tempo demais para ficar parada no alto da escada, roendo as unhas. Isso me traz flashbacks da infância. Eu me escondia no quarto depois de fazer alguma coisa errada e ficava cozinhando na angústia até finalmente ter coragem para descer à sala e, envergonhada, confessar meus pecados.

Sou adulta.

Não fiz nada "errado".

Estou grávida... sem marido... e sem emprego. E daí?

Roo as unhas de novo. Esse é um hábito novo. É bem nojento, mas não consigo parar.

— Você consegue — murmuro para mim mesma ao dar o primeiro passo para a eterna condenação. Pode parecer um pouco exagerado, mas nunca tive essa conversa de "querido papai, estou grávida". É aterrorizante, mesmo aos trinta e dois anos.

— Só você... e eu — ele diz.

Sorrio ao olhar para meu pai na espreguiçadeira.

— Você se ouviu? Quatro palavras, sem gaguejar. Uma pausa pequena.

— É — ele confirma com um movimento firme de cabeça e um sorriso brando.

— Não vou mentir. Vou sentir falta da vovó e do vovô, mas não vou ficar com saudade do Bungie.

— E do Al-fon..so? —Ele faz uma careta ao gaguejar.

— Muita. É sobre isso que precisamos conversar. — Respiro fundo e prendo o ar até não aguentar mais. Vai de uma vez... — Estou grávida.

Duas sobrancelhas grossas se elevam. Talvez eu tenha me enganado. É possível que ele não desconfiasse de nada, de que só sentisse que eu tinha alguma coisa para contar.

— Vai viver com... ele.

Balanço a cabeça.

— Sem você, não.

Ele balança a cabeça.

— M-minha casa é aqui.

— Não vou te deixar. A sua fala hoje está me surpreendendo muito, sério. E a mobilidade melhora a cada dia. Acho que vai se recuperar completamente. De verdade. Mas até lá, não vou te deixar aqui.

— Any...

— Não. — Abaixo diante dele e apoio as mãos em seus joelhos. — É mais que sua saúde, pai. Sou sua única filha, e vou ter um bebê. Um bebê, pai. — Sorrio, e é muito bom não só querer essa vida, mas saber que ela é possível... Quase não consigo respirar. — Seu primeiro neto... depois dos cinco bebês ratos.

Ele balança a cabeça.

— Quero que você participe disso. Não quero me preocupar com não ter fotos dos primeiros sorrisos e passos para mandar para você. Quero que esteja lá. — Afago sua mão. — Mamãe também ia querer.

Após longos momentos de olhares preocupados e algumas tentativas frustradas de dizer o que sei que seria só mais um argumento, ele assente uma vez.

— Um bebê.— ele diz.

Mordo o lábio ao sentir as lágrimas nos olhos.

— Um bebê — sussurro.

xxx

ALFONSO

— Levou o Anthony para passar o Ano Novo em Nova York. De onde tirou essa ideia brilhante? — Dalila pergunta quando chego ao escritório.

— Na verdade, meus pais levaram. Eu só deixei todo mundo lá. — Penduro o casaco. — E acho que minha secretária bocuda, às vezes útil, pode ter sugerido.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora