Capítulo 13

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ALFONSO

— Se estão pensando no meu presente de Natal, quero ratos, três, pelo menos. — Anthony interrompe a minha conversa com meus pais, e não estávamos falando de ratos, nem de presente de Natal.

— Acho que isso é possível. — Meu pai ri.

— Não. — Balanço a cabeça. — Não é. Se quer que ele tenha ratos, vai ter que mantê-los na sua casa, e ele vai lá visitá-los.

— Eles transmitem menos doenças que cachorros — Anthony argumenta com um suspiro.

— Vou me lembrar disso quando também não tivermos um cachorro.

— Você não é legal como a Any, nem metade disso.

— Está falando da mulher dos ratos, a que cantarola o dia todo? Estou realmente magoado. — Levo uma das mãos ao coração e aponto para cima com a outra. — Já para a cama.

Ele franze o nariz para mim e olha de novo para os meus pais, que estão no sofá sorrindo como se tudo fosse divertido, e dispara a falar.

— Any também pulou de paraquedas e tem um amigo que escalou o Monte Everest. Ainda tem muitos cadáveres na montanha. É perigoso tentar ir buscá-los, por isso ficam lá... com o tempo, alguns congelam ainda com a corda amarrada na cintura. Alguns montanhistas que passam por esses corpos a caminho do topo da montanha tentam enterrá-los. Consegue imaginar isso, encontrar um cadáver e jogar o equipamento de lado para enterrá-lo, como se não fosse grande coisa?

— Uau! — minha mãe exclama. — Isso é... sei lá. Acho que a pessoa tem que ser meio louca, para querer escalar até o topo.

— Louca? — Anthony balança a cabeça. — Vou fazer isso um dia.

— Mas por enquanto... — Aponto para cima de novo. — Você vai para a cama.

— Sei, sei... — Ele se dirige à escada.

— Boa noite, Anthony — meus pais dizem enquanto ele se afasta.

— A Any o deixou muito impressionado. — Meu pai sorri para mim de um jeito que sugere, tenho quase certeza, que está lembrando do dia que pegou nós dois no armário.

Passo as mãos no cabelo e concordo balançando a cabeça devagar.

— Infelizmente.

— Ter um bom exemplo feminino seria ótimo para ele. — Ao meu lado, minha mãe me dá um sorriso triste. — E para você também.

— Pensei que você fosse nosso bom exemplo feminino. — retruco.

— Vocês só me veem algumas vezes por ano. Não é o suficiente. E é evidente que Anthony acha sua amiga Anahí muito mais interessante que eu.

— Quem disse que Anahí é minha amiga?

Meu pai levanta as sobrancelhas grossas.

— Ah, vocês não são amigos? São mais que amigos?

— Eu devia estar na cadeia. — Luto contra a dor quando olho para a escada. Penso em nosso filho, em como ele sabe pouco sobre o passado, e isso é como um soco no meu peito. — Essa vida não é mais minha, é dele.

Minha mãe se levanta e aperta a faixa do roupão em sua cintura enquanto se aproxima de mim. Ela toca meu queixo com um dedo, como fazia quando eu era criança, e me faz olhar para ela.

— Se está falando sério, compra uns ratos para o garoto. — Ela sorri. — Mas se existe alguma parte de você que ainda acredita merecer um pouco de felicidade, a mulher é melhor. Anthony gosta mais dela que dos ratos.

Razões & Emoções -Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora