Youngjae sentiu sua cabeça latejar, enfiando, automaticamente, o dedo indicador no ouvido. Senhor Jung caminhou com passos apressados para fora do elevador, chutando a bola de praia que havia derrubado o moreno na noite anterior. Balançava a cabeça enquanto sussurrava ao celular, às vezes aumentava o tom de voz, mas tentava ser o mais discreto possível.
"Agora não adianta... Já quase fiquei surdo" pensou Jae, indo para o seu apartamento.
Sentiu o seu próprio celular vibrar e, ao ver o número, tentou não pular de felicidade.
— Boa tarde, Senhor Yoo. Analisamos o pedido de sua antiga empresa e temos o prazer em lhe informar que você fará parte do setor de economia da Report Internacional. — Anunciou a voz, sem pausas, levemente eufórica. — Seu trabalho começa amanhã, às oito em ponto. Obrigada pela preferência e até depois.
Sem mais delongas a conversa se encerrou ali, mal dando tempo para uma resposta. Youngjae estava desacreditado – e ainda feliz; fez uma comemoração contida, ainda segurando a maçaneta. Sentiu a aproximação do síndico e diminuiu a intensidade do sorriso, tentando dar seriedade à situação:
— Está tudo resolvido?
— Me desculpe, novamente. Meu filho... Ele... Sabe. — Suspirou, deixando os ombros despencarem e os olhos ficarem "baixos". — Ele viaja muito, faz algumas semanas que não o vejo.
— Ah, um homem de negócios! — Exclamou o rapaz, de repente animado com a ideia de ter algo em comum com o vizinho. Ao que o outro sibilou, incerto:
— É... Quase isso. De qualquer modo, ele costuma não cuidar muito das suas coisas e por não ter tido um residente no seu apartamento há um bom tempo, foi se acostumando a largar objetos por aí. Eu tenho até medo de olhar lá dentro. — Apontou para a porta 869, fazendo uma careta de desgosto.
— Não saindo nenhum bicho daí e vindo para cá... — Levantou os polegares, tornando tudo mais infantil. — 'Tá tudo certo.
Ambos riram, ficando no silêncio depois; os olhos caíram – quase que instintivamente – para as mesmas coisas: bolas, sacolas, cadeiras e tênis espalhados no corredor. Senhor Jung suspirou novamente, fechando os olhos por alguns segundos.
— O senhor... Não quer entrar? — Convidou o mais novo, indicando seu apartamento com a cabeça.
— Ahn?! Ah não, obrigado. Acho que os Jung já o atrapalharam bastante por um dia.
— Que isso! Não seria incômodo nenhum. Eu tenho algumas dúvidas sobre o condomínio, iríamos juntar "a fome com a vontade de comer". No caso, ambas minhas. — Comentou confiante, digitou sua senha e revelou a humilde sala.
...
O síndico e Youngjae ficaram conversando por alguns – muitos – minutos. Os assuntos foram de oportunidades na vida a animais de estimação, de música a teatro, de trabalho a viagens, de lojas a família.
— Meu irmão vai se casar ainda esse ano. Espero fazê-lo antes. — Disse o rapaz, tomando mais um gole da bebida.
— 'Pra quê tanta pressa, meu amigo? Você ainda é tão novo.
— Antes queria ser economista, quando me formei e consegui um bom emprego busquei realizar o meu segundo sonho. Quando o alcançar, estarei mais do que satisfeito com a vida.
O homem ficou mudo e com os olhos arregalados, depois sibilou algo incompreensível.
— Todos têm reações bem curiosas quando comento sobre esse assunto. Seria engraçado, se não fosse tão trágico. — Continuou, remexendo seu copo em círculos, observando a cor chamativa e artificial do suco. Youngjae sempre fora daquele jeito, não mudaria. Podiam pensar ou tirar sarro o quanto quisessem, mas ele não se importava. Poucas coisas importavam, realmente. Família. Amigos. Emprego. Felicidade. Filhos. Deus. Era a base de sua sobrevivência. Era o que o fazia levantar todas as manhãs, ansioso por mais um dia.
— Queria que Daehyun fosse assim.
— Daehyun? — Estranhou, lembrando-se daquele nome entrar aos berros em sua cabeça. — Ah, seu filho.
— Ele é tão... — Fora interrompido pelo toque de seu celular; sorriu sem graça ao ver a tela. — Falando no Diabo, ele mostra o rabo.
Yoo ficou sentado, tentando entender o "por que" do Senhor Jung se sentir tão frustrado em relação ao filho.
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Cobertor
FanfictionYoo Youngjae, um rapaz religioso e centrado, procura por uma moça com os mesmos princípios que os seus. Deixa a Ilha de Ulleung, onde vivia com seus pais, para tentar realizar seu sonho em Seul. Nunca tivera muito contato com o mundo exterior e será...