Trinta - Monstros à solta

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Eu não quero te perder. — Sussurrou Youngjae e fechou os olhos, não aguentando o modo intenso que o namorado o olhava.

— Você não vai. — Retrucou o cantor, quase rindo da fragilidade com que o outro falava.

— Eu realmente espero que não. — Confidenciou, mordendo os lábios para se calar.

...

Os convidados começavam a chegar e a casa, que não era pequena, parecia estar cada vez mais apertada. Conversas animadas podiam ser ouvidas da rua e risadas escandalosas escapavam dos lábios bem pintados das madrinhas. Era uma mistura nauseante de loções e perfumes. Dalhee observava toda a confusão em silêncio, distante de tudo aquilo. Também era madrinha, mas não cumprira em momento algum sua função.

Lembrava perfeitamente do dia em que Youngsan havia lhe telefonado, com a voz afobada e ofegante, a convidando aos berros para ser madrinha de seu casamento. Havia ficado tão feliz com a novidade que arrumara a mala para ir visitar o amigo naquele mesmo dia. Fora uma pequena surpresa quando soubera que seria acompanhante de Youngjae. O rapaz continuava bobo e puro, tímido ao mínimo toque. Aos poucos ela se deixou envolver pela bondade do amigo e mal viu quando sua vida havia se tornado aquela bola de neve gigante e destruidora. A necessidade e a carência haviam a deixado louca.

Sentindo-se sufocada, Dalhee saiu rapidamente da cozinha, caminhando até o banheiro no fim do corredor. Jogou água no rosto e molhou a nuca, encarando o próprio reflexo no espelho. Ela mal se reconhecia. Quem era aquela Kim Dalhee?

Os cabelos, que antes eram loiros e sedosos, haviam perdido o brilho e estavam escuros. Os olhos, sempre pintados e sombreados, não carregavam maquiagem alguma. O corpo estava inchado e ela já sentia dores constantes na coluna, o que a fazia andar levemente curvada para frente. Estava mudando cada vez mais.

Suspirando, saiu do cubículo de azulejos. Passou distraidamente pelas portas fechadas dos quartos, mas deteve os pés quase de imediato quando viu a de Youngjae aberta. Ele não estava sozinho e isso fez com que a mulher encostasse na parede fria, tentando controlar o coração acelerado com o que presenciara. Mesmo em anonimato, parecia estar atrapalhando alguma coisa

Podiam a chamar de louca, mas ela sentia um amor muito forte emanar daquele quarto. Um amor quente e aconchegante. O pouco que vira, sem querer, fora o suficiente para fazer seus olhos marejarem.

Ela não havia acreditado muito quando o amigo a contara que estava namorando Jung Daehyun. Pelo pouco que conhecera do cantor, percebera que os dois eram totalmente opostos e não tinham nada em comum. Ela havia achado que era só uma desculpa de Yoo para fugir do "casamento". Bom... Após ver aquela cena, não tinha mais dúvidas do relacionamento.

Esticou o pescoço e espiou mais um pouco. Youngjae tentava arrumar a gravata de Daehyun, enquanto esse se mexia para provocar e atrapalhar. Quando o economista ameaçou se afastar, o rapaz o puxou pela mão e deu-lhe um selinho.

Qualquer um poderia ter visto cena, mas justo ela havia sido a escolhida. Não podia ser coincidência. Alguém queria lhe passar uma mensagem e ela acreditava ter entendido.

— Eu te amo. — Disse Daehyun, um pouco alto demais. Deteve-se rindo quando Youngjae o empurrou e tampou sua boca, em choque.

Dalhee não conseguiu segurar o choro. Podia ser culpa da gravidez e dos últimos acontecimentos, mas se sentia um lixo. Uma monstra que estava acabando com a felicidade verdadeira do amigo de infância.

O celular da mulher tocou e ela conteve um grito de espanto ao ver quem ligava; tentando limpar as lágrimas com a manga do vestido, ela seguiu até a cozinha novamente. Alguém, definitivamente, queria lhe passar uma mensagem.

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