Oito - Do jeito certo até o Santinho se solta

178 26 6
                                    

Youngjae estava absorto nos papéis, tentando encontrar soluções para futuros problemas que poderiam assombrar a empresa.

— Fico feliz sabendo que você está se esforçando. — Comentou uma voz feminina, sendo acompanhada do ritmado salto. O rapaz levantou os olhos, encontrando sua chefe caminhando calmamente até ele. A mulher parou ao seu lado, com os braços para trás e o corpo inclinado sobre as folhas. Os olhos se mexiam rápidos, entendendo cada palavra que lia. — Parabéns pelas ideias. Desse jeito não enfrentaremos mais problemas no financeiro.

— O-Obrigado. Eu fa-faço o meu melhor, senhora.

— Percebo. Mas não precisa ficar nervoso com a minha presença. — Abaixou o tom de voz, ainda inclinada, e passou uma das mãos sobre os ombros dele.

Desconfortável com a aproximação, Youngjae levantou em um pulo e arrumou sua camisa azul listrada. Sorriu apenas com os lábios, abaixando os olhos em um pedido de desculpas mudo.

— Por que não saímos para jantar? Me sinto um pouco culpada por ter te feito trabalhar até agora.

Não dando chance alguma para uma resposta, a mulher o puxou pelo braço indo até o elevador. Passaram pelas diversas mesas vazias, dando um leve desespero no rapaz, que não poderia pedir a ajuda de ninguém.

...

O restaurante era escuro e aconchegante, com vários casais aos sussurros e beijos contidos, mal tocando em suas comidas caras. Vinhos caros enfeitavam o cardápio, assim como pratos exóticos.

— Oras, não seja tão tímido. Um rapaz bonito e inteligente como você já deve ter recebido diversas propostas. — Comentou Hyunjae, balançando sua taça de vinho de um lado para o outro, em um movimento hipnótico. A comida demorava a chegar, fazendo aquela estadia mais indesejada – e inconveniente – do que Yoo esperava.

— Propostas?

— Claro, de senhoras da classe alta como eu. Nós, comumente chamadas de "damas da noite", não nos contentamos com um só homem.

Youngjae sentiu algo firme e quente fazer leves pressões em sua perna direita. Assustado, encolheu-se o máximo que pôde na cadeira e fingiu não ter sentido nada. Não entendia aqueles termos ou onde Hyunjae queria chegar, praticamente se jogando para cima dele.

— O que eu quero dizer é que você, um rapaz tão interessante, devia ir para o meu apartamento com mais frequência. Lá conversaríamos sobre qualquer coisa que nos venha a cabeça.

— E por que não fazemos isso aqui? — Indagou, realmente curioso. Podia ser inteligente na área dos números, mas não na área das mulheres. A pressão voltou em sua perna direita, dessa vez de um jeito mais provocativo, aproximando-se de sua parte intima. Acompanhado de uma risada, o pé de HyunJae voltou ao sapato de salto, para o alívio do rapaz.

— Não seja tão imaturo, Senhor Yoo. — Chegou mais perto do ouvido do outro, sussurrando o mais lento que conseguiu: — Não iríamos conversar. Faríamos outras coisas com as bocas.

Sentindo um asco se apossar de seu corpo e, finalmente, entendendo o que tudo aquilo queria dizer, Youngjae empurrou a cadeira para trás e a olhou ofendido.

— Não vá achando que eu sou esse tipo de pessoa. — As mesas ao lado já prestavam atenção na possível confusão que se formaria, entretanto o rapaz estava pouco se importando. — Se o marido da senhora não lhe satisfaz, não venha procurar um consolo comigo. O que a senhora acha que eu sou!?

— Querido, meu querido. — Chamou um garçom, ao mesmo tempo em que lançava olhares fuziladores para os mexeriqueiros. Puxou o braço de Youngjae, o fazendo sentar na cadeira novamente; sua frustração foi descontada na pele do outro, enfiando algumas unhas de um jeito violento demais. — Traga mais uma garrafa desse vinho.

Sorriu desconcertada, aproximando a boca vermelha e carnuda do ouvido dele novamente.

— Comporte-se, garoto. Não cause escândalos em um lugar como esse. — Riu animada, como se nada houvesse acontecido. Empurrou a taça para o rapaz, praticamente o obrigando a acompanhá-la.

— Eu não consumo esse tipo de bebida e receio que...

— Beba! — Ao vê-lo rejeitar e ameaçar levantar-se para a porta, grudou em sua coxa esquerda. — Beba ou o despedirei.

— A senhora não pode estar falando sério. Eu...

BEBA! — Gritou para todos ouvirem, deixando escapar outra risada estridente após seu pequeno escândalo.

Assustado, acuado e ameaçado, Youngjae segurou a taça trêmulo, não sabendo como lidar com tal situação. Sentia-se uma criança de pouca idade, nas mãos de um bruxa megera digna de um conto de fadas. Levou a bebida escura até os lábios, experimentando de seu gosto excêntrico. Não era doce nem amargo, muito menos agradável ou satisfatório. Terminou em um gole só, acreditando que seria liberado.

— Mais um pouco. Isso não foi o suficiente para lhe aquecer, querido. — Hyunjae encheu a taça outra vez, sorrindo com carinho. Tomou a sua própria, saboreando o sabor e tombando a cabeça para trás; um ato extremamente exagerado.

...

O ambiente já não era mais tão aconchegante quanto antes. Seu corpo todo parecia pegar fogo e suas entranhas se contorciam, como se um rato comesse todo o seu interior.

A cabeça já explodia, fazendo a visão ficar embaçada e cada som insuportável. Não sabia o quanto tinha bebido, mas palpitava que muito. Muito mesmo.

Hyunjae não parava de pedir garrafas e mais garrafas, enchendo as taças cada vez mais. Agora ambos estavam do lado de fora, andando de um lado para o outro. A mulher mal conseguia se manter em pé, diversas vezes tropeçando nos próprios sapatos.

Com o resto de consciência que lhe restava, Youngjae chamou por um táxi. Não queria ficar mais nem um segundo perto daquela bruxa, naquele local e naquela condição. Mesmo com a relutância, o rapaz conseguiu escapar dos movimentos lentos dela e entrou no carro rapidamente.

...

Não soube como conseguiu chegar em seu apartamento ou como subiu pelo elevador. A última coisa que Yoo Youngjae conseguiu ver foi a maçaneta dourada e o chão se aproximando perigosamente de seu rosto.

CobertorOnde histórias criam vida. Descubra agora