Nove - Fugir? Não mais

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Eu não vou, mãe. Pode ficar tranquila. Não quero mais fugir, está na hora de encarar os problemas de frente. — Respondeu Daehyun decido, dando um beijo na testa da mulher, que aceitou o carinho de olhos fechados. A verdadeira vontade dele era a de arrumar sua mala e sair sem rumo, como sempre fazia, mas aquele olhar desamparado da sua mãe mais um sentimento estranho que lhe corroía, o impediam de fazer aquilo. Sentia a nuca formigar cada vez que a ideia de viajar lhe cruzava a mente; aquilo não podia significar coisa boa. — Só... Só não conte ainda para o meu pai que eu já tenho um trabalho.

— Você sabe que eu nunca faria isso. Seu segredo vai estar guardado comigo, como sempre. Mas...

— Mas?

— Você tem que resolver essa situação rápido. — Senhora Jung nunca havia estado tão preocupada; parecia que não dormia a dias. — Eu sempre vou te apoiar, sempre. Porém você não acha que esse é um caminho muito perigoso? E se você não conseguir lidar com toda a pressão? E se não fizer sucesso? E se não aguentar a agenda confusa? E se...

— Mãe! A vida não é feita de "e se's". Como dizem por aí: viva cada dia como se fosse o último. E se eu não me arriscar e estiver perdendo a chance da minha vida?

Ficaram em silêncio, se encarando. A cabeça da mulher passeava por todos os caminhos possíveis, imaginando o que poderia dar certo na vida do filho e o que causaria mais frustração ainda. Suspirou, aceitando a situação.

— Você está certo. — Afagou a cabeça dele, o puxando para um abraço apertado em seguida. — Corra sempre atrás do que lhe faz bem.

...

O moreno andava pela cidade com pressa. Precisava ir até seu "chefe" e contar a situação em que havia sido colocado. Chegou até o barzinho e entrou na sala dos fundos sem nem pedir licença.

Conhecia aquele lugar tão bem quanto a palma da sua mão; poderia até dizer que conhecia mais aquele bar do que seu próprio apartamento, afinal era lá que ele passava todas as suas noites. Cantando, tocando e esperando por uma oportunidade.

O seu "palco" era um banco de madeira, com o microfone e um cercado feito de plantas rasteiras, delimitando o espaço.

Na verdade, o bar todo era muito bem organizado, parecendo mais uma casa de chá do que um local onde as pessoas se embebedavam até cair ou iam afogar suas mágoas. As mesas sempre bem limpas, com um vaso de flores em cima de uma toalha vermelha, combinando com o piso da mesma cor.

As bebidas eram pedidas nas mesas – o que era um trabalho árduo demais para os garçons – para evitar confusão no local de retirada. Tão organizado.

— Yongguk! Aconteceu uma porcalhada tão grande que eu nem sei por onde começar.

O dito cujo, Yongguk, apenas levantou a cabeça e indicou a cadeira de madeira na sua frente. Cruzou os dedos sobre a mesa e esperou pelo desabafo. Ao contar tudo, Daehyun pareceu conseguir respirar um pouco mais aliviado. Ele sabia que não era tão ruim assim, mas não podia deixar de fazer um pouco de drama.

— Você sabe que pode voltar aqui quando quiser. — Respondeu o outro, finalmente conseguindo falar. Passou as mãos pelo cabelo escuro, os bagunçando um pouco. — Não tem problema nenhum.

— Se você quiser eu posso arranjar outros músicos e...

— Não precisa. Da última vez que viajou, você deixou alguns números comigo. Aposto que eles se matariam para terem a chance de tocar toda noite aqui.

— Eu mataria para voltar a tocar. — Comentou o cantor, abaixando a cabeça e diminuindo o sorriso aos poucos, até ele sumir por completo.

— Um dia você voltará, Daehyun. E as portas sempre estarão abertas. As noites em que você tocou e cantou aqui foram as melhores, as mais proveitosas, as mais cheias e as mais lucrativas. E não é porque você é meu amigo que estou falando isso.

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