Cinco - A dádiva do desconhecido

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Cinco horas da manhã.

Youngjae estava sentado com as costas apoiadas na guarda da cama, segurando uma xícara de café bem quente; seus olhos fitavam a fumaça esvanecer. Quase não piscava. O aroma do líquido amargo preenchia o apartamento, deixando-o mais aconchegante. Havia levantado mais cedo do que o normal, sentindo todas as sensações estranhas que podia imaginar sentir.

O rapaz mudou o foco para seu quarto. As paredes pintadas de um verde claro continham alguns quadros, em sua maioria, de artistas famosos. Eram as relíquias da família, passados de geração em geração; deviam ter mais de 150 anos cada.

Aproveitou para fazer sua oração da manhã, como fazia todas os dias; juntou o terço e pediu as coisas que sempre pedia: saúde, satisfação, felicidade, inteligência e um amor para poder compartilhar tudo aquilo. Enquanto proferia a última parte, seu coração acelerou e a respiração falhou. Tentou se acalmar, odiando o que sentia.

...

Cinco horas e quarenta e sete minutos da manhã.

O café já esfriava em cima da mobília antiga, enquanto Youngjae avaliava suas coisas. Os móveis não combinavam muito entre si, mas ele tinha que se contentar com aquilo por hora. Sua cama era de uma madeira escura, cheia de pedaços de espelhos e um colchão macio; sua escrivaninha tinha o mesmo tom, porém os vidros eram substituídos por flores entalhadas e gavetas fundas. "Feminino demais" reclamou em pensamentos.

Andou pelo tapete branco e felpudo, aproveitando as cócegas que fazia em seu pé. Sentou no mesmo, passando as mãos por toda a extensão. Estava com ele desde criança. Havia ganhado de sua falecida tia-avó, fora feito especialmente para o rapaz. Os desenhos eram rústicos, como se fossem feitos por homens da caverna. Tinha boas lembranças com aquele pedaço de pano.

...

Seis horas e dezessete minutos.

Desarrumou o guarda-roupa e começou do zero, separando as peças por estação e cor. Sentia-se ansioso, porém não sabia explicar o motivo. Seu peito parecia querer explodir. O coração apertava entre a costelas, batendo em um ritmo frenético e aumentando a respiração. De um minuto para o outro, tudo o que sentia havia se intensificado dez vezes mais. Não era por culpa do "trabalho novo", isso ele tinha certeza.

Voltou para a cozinha, visando preparar mais um café. Escutou barulhos no elevador e não hesitou em abrir a porta, pensando ser Senhor Jung. Bater um papo com ele poderia aliviar sua tensão.

Deparou-se com um rapaz alto e magro, carregando malas e sacolas. A roupa despojada e os sapatos velhos, o cabelo desarrumado e levemente suado. Parecia estar passando por dificuldades para atravessar o campo minado que estava o corredor. Quando o mesmo levantou seu rosto para YoungJae, não restaram dúvidas de que aquele era o filho do síndico. O brilho nas íris escuras era o mesmo.

— Bom dia. — Escutou a própria voz pronunciar, rouca pela falta de uso. Seu vizinho continuou na mesma posição, com os olhos levemente arregalados e a face enrubescida. Yoo pigarreou, incomodado pelo silêncio. Apontou para as coisas que o outro levava. — Quer ajuda?

— Ahn... Desculpe. — Reverenciou, com a mesma expressão. Jogou tudo no chão, fazendo o barulho reverberar pelas paredes. Passou as mãos na calça jeans e depois as esticou. — Sou Jung Daehyun, seu vizinho.

— Yoo Youngjae, o novo morador. — Aceitou o cumprimento, simpático. Deixou um sorriso escapar, fazendo Jung segurar a respiração e desviar os olhos. Não entendeu a reação, mas adiantou-se em juntar as sacolas e entregá-las ao rapaz. — Finalmente nos conhecemos. Seu pai falou bastante de você.

O outro não respondeu novamente, segurando todas as coisas e andando rápido até seu apartamento. Encaixou a chave na fechadura e ficou parado encarando a madeira. Caíram no silêncio por alguns segundos mais.

— Bom... Foi um prazer. — Disse Youngjae, por fim. Balançou a cabeça, desacreditado. O que o Senhor Jung tinha de legal, o Jovem Jung tinha de estranho.

Antes de fechar a porta totalmente pôde ver o vizinho ofegar e virar em sua direção.

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