Trinta e Dois - Músicas tolas de amor

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Yoo Youngjae desceu do taxi e caminhou até o condomínio, exausto. Entrou pela porta principal sem nem notar que seu corpo fazia o caminho de modo automático.

Passou por algumas senhoras que conversavam alto no hall do prédio e fez uma reverência polida para elas, quase não conseguindo voltar à posição ereta tamanha dor que sentia nos ossos e na coluna.

"Esse é o peso da culpa" pensou ele, massageando o próprio ombro esquerdo com cuidado.

O seu trabalho continuava a mesma coisa: analisar planilhas, fazer planos para a empresa, cuidar das finanças e movimentações bancárias.

Hyunjae não estava mais lá, porém o ambiente sufocante se mantivera intacto. Os seus antigos colegas o saldavam pela promoção e pareciam contentes em vê-lo todos os dias novamente. Se Youngjae não amasse tanto o que fazia, poderia se jogar da sua própria janela de vidro a qualquer momento. Sentia cada fibra do seu corpo latejar pelo tempo demasiado longo que havia ficado sentado.

Enquanto esperava o elevador chegar, sentiu o perfume característico de um antigo amigo seu. Virou-se e não conteve o largo sorriso ao ver Senhor Jung ali.

— Como vai, meu amigo? — Saudou o mais velho, dando tapas amigáveis nas costas doloridas do outro. — Cansado?

— Um pouco. Como o senhor está?

— Estou bem, obrigado. É... Você tem um tempinho para conversar comigo?

Youngjae deu um sorriso fraco e apontou para o elevador, deixando o Jung ir na frente. Ficaram em silêncio durante a rápida viagem para cima, trocando olhares entre um suspiro e outro. O assunto seria, no mínimo, estressante.

...

Londres continuava a mesma, mas não menos incrível para Daehyun. O rapaz apertava o grosso casaco em volta de si, protegendo-se das rajadas de vento, enquanto olhava as lojas e as pessoas. Seria sua última noite na cidade, já que a passagem para Barcelona já estava comprada. Era acolhedor saber que em menos de 24 horas estaria em outro lugar do mundo, vendo outras pessoas e outros ares.

Durante a primeira semana que estivera fora de Seul, sua mente lhe pregara peças. Via Youngjae em pessoas aleatórias, sentia o perfume do ex-amante em suas roupas e, para piorar, a briga se repetia na mente como um disco quebrado. Nunca havia chorado tanto em sua vida.

No começo da segunda semana, forçou-se a superar o próprio martírio. Frequentou alguns bares, ficou bêbado, beijou vários rapazes e quase passou dos limites com outros. Parecia o mesmo Daehyun perdido e louco de antes. Antes de Yoo Youngjae.

O cantor, em uma madrugada de insônia, havia separado a sua vida em três períodos, que classificava como pré-YJ, teatro e pós-YJ. "Teatro" porque se sentia (e se sentira) enganado, ludibriado e iludido. Um mero peão no tabuleiro de xadrez. 

O rapaz se encolheu mais nas roupas quentes, quase gemendo de felicidade ao encontrar o bar que estava procurando. O local estava lotado e uma música cover calma saía das enormes caixas de som.

Adentrou pela porta principal e constatou que era extremamente parecido com o bar de Yongguk, em Seul. Simples, porém aconchegante e agradável, onde conseguia, também, entreter a multidão com um cantor desconhecido e bebidas extravagantes. No caso de Bang, o cantor aleatório era Daehyun mesmo, que havia o deixado na mão – mais uma vez – após o "incidente" na casa dos Yoo. Depois que quebrara o próprio violão e o deixara despedaçado naquele canto escuro do quarto de hóspedes, possuído pela raiva e pela indignação, não havia tido outra chance de tocar o instrumento. Yongguk tentou comprar-lhe outro, mas Daehyun recusou ferozmente. Havia sido idiota ao quebrar a única coisa que poderia o ajudar a sair do estado vegetativo em que estava e compraria outro assim que pudesse. Encararia aquilo como uma penitência.

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