41 ☆ Um passeio

86 14 0
                                    

- Deixa eu ver os progressos , acordar neste hospital , tudo ser sem graça,  as coisas serem do mesmo jeito , queria ter vida , como assim queria ter vida ? Você já tem. - ela fala me encarando , mas nada o suficiente para esperar uma resposta . - Preto , Matthew,  ancia por causa do remédio,  agulhadas e mais agulhadas , dores  na cabeça , o Dr. Leo viu isso ? - A Dra. Mellissa comenta olhando a parede com os papéis.
- Deve ter visto . - respondo sem importância.
Ela me encara severamente , mas volta a fazer o seu trabalho.
- Ter dormido mais . Não ter a visita da Dra. Mellissa . Ui essa doeu . - ela fala meio sorrindo - Família,  amigos , sem dor , hoje eu ri , tive ideias para uma música,  pensando em mudar meus pensamentos.  Isso é  o melhor que você consegue Mayra ?
- Eu disse que ia tentar , não disse ?
- E tentou ? Pelo amor , você esta decaindo cada vez mais , pensei que tivesse se animado com o bloco .
- São fatores para o minimo de felicidade .
- E conseguiu o minimo , pelo menos ? - ela me encara , enquanto abaixo a cabeça. -Eu ja vi muitos casos terríveis,  mas sabe como resolvi ? - é  uma pergunta ? Fico olhando para ela , para ter certeza que é só mais uma colocação e percebo que estou errada quando ela balança a cabeça. - Com ajuda da pessoa , de um dia para o outro ela quis mudar , quis tentar...
- Ja disse que estou tentando...
- Mayra , admita , nem que seja só para você,  admita que você não está tentando .- Bufo com o que ela diz , e cruzo os braços na frente do peito.- Hoje o dia foi pior que todos os outros . Desculpa Mayra mas você é tão linda , tão jovem , tem uma vida pela frente...
- Teria... - ela ignora meu comentário e continua.
- Tem que lutar pelos seus sonhos , pela sua vida , você tem uma família que te ama , um pai lá no Brasil que tenta se comunicar com você, mas você é muito cabeça dura...
- Ele não é  meu pai , e você não sabe meus motivos para ser assim . - ela levanta uma sombrancelha e me encara .
- Me fale então seus motivos .
- Você  não iria entender . - falo e abaixo a cabeça.
- Tenta ? - balanço a cabeça em negação e ela suspira.
- Você tem um passado tão incrível e amedrontador,  você não pode guardar seus fantasmas , isso faz mal , e você sabe disso , você precisa confiar em mim , e se não for em mim , pode confiar em outra pessoa .
- É  difícil falar sobre isso . - abaixo a cabeça triste .
E é  terrível mesmo falar ou mesmo pensar no meu passado. Apesar de que a Tia Malu ter cuidado e dado muita atenção para mim , eu me sentia sozinha , sem meus pais , e jamais imaginava que os dois me amavam ou queriam me conhecer , é  difícil falar da solidão e das coisas terríveis que eu pensava .
- Você ja tentou ? - ela pergunta sorrindo .
- Ja pensei em falar , mas como ja disse é  difícil. - falo a encarando.
Ela olha em vonta , e seus olhos focam na minha maleta .
- E se você escrever ? - olho para o lado e encaro meu caderno .
Seria mais fácil ja que eu faço isso sempre em segredo .
- Só  tente , okay ? Eu preciso ir . Mais tarde passo aqui para te convidar a um passeio .
- Não perca seu tempo comigo. - digo a ela e desvio o olhar dela .
Ela olha em volta meio triste , e segura meu queixo delicadamente,  fazendo meu olhar ir até ela .
- É  meu trabalho ter tempo para você,  só que faço isso não porque mandam , porque querida para todos você é o caso perdido , e que não tem mais volta a sua depressão,  mas eu insisti nisso , não liguei para as bobagens que falavam , e continuei , agora não mais que um trabalho e sim que um objetivo , porque eu vou provar para todos que o verdadeiro sentido deste trabalho , não esta em alcançar metas de evoluções e sim fazer o paciente entender seu caso , querer mudar por si próprio e ai sim , ver a verdadeira transformação . - encaro ela meio atordoada com tanta informação.
Sabia que todos ja haviam desistido de mim , e sei também que tentavam manter isso em segredo , acho que para eu não me abalar e piorar mais ainda , mas ela foi verdadeira e saber que ela foi contra as "leis" , por mim , é  algo tão encorajador , saber que ela vai continuar insistindo mesmo eu batendo na mesma tecla e dizendo não,  sei disso .
Talvez eu pense em alguma maneira de não entristecer a todos , poderia começar pela minha família,  mas ela eu so deixaria de entristecer , quando eu deixar de ser assim , e melhorar de vez , para ela seria uma tarefa mais fácil,  talvez , só talvez eu pense em abrir mão de ser essa durona e aceite algo que ela me ofereça.
- Talvez eu pense em alguma possibilidade de arrumar um horário na minha agenda para passear com você.  - digo fingindo não dar atenção ao que falo .
- Ai garota . - ela exclama alegre . - Toca aqui . - ela diz levantando a mão onde eu bato sorrindo . - Obrigada . - ela diz sorrindo calma depois da nossa euforia .
- Eu só vou dizer isso , se você conseguir me ajudar . - digo sorrindo e pegando o bloquinho . Escrevo nele e estendo a Dra. Mellissa .
- Ter feito as pazes com a linda Dra. Mellissa . - ela fala lendo o papel,  depois ela vai até a parede e cola ele.- Maravilhoso . E o outro?
- Pode ser qualquer coisa ?
- Qualquer coisa que esteja sentindo . - ela completa . Sorrio  , escrevo no papel e entrego a ela . - Sentindo que coisa boa vem por ai . - ela sorri .
- Bom vou esperar sua visita , mas não ligue se meu lado bipolar se aflorar . É  meio difícil lidar com ele . - digo fazendo careta e gesticulando um "mais ou menos" , com a mão.
- Ja estou acostumada a lidar com este seu lado. - ela pisca para mim . - Bom agora tenho que ir mesmo . - ela diz e me manda um beijo.
- Tudo bem , tchau . - digo acenando para ela . 
Ela sai do quarto e o pouco tempo que eu fico sozinha esperando que ela e minha mãe conversem,  é  o suficiente para eu respirar fundo e pensar em coisas boas , coisas que quero que aconteçam e que melhorem .
Mamãe entra no quarto , certamente feliz vom a notícia que resolvi ceder um pouco .
- A querida,  eu sabia que você iria melhorar . - ela se aproxima sorrindo e me abraça.
- Uma hora eu teria que criar vergonha na cara . -digo rindo .
Mamãe cai na risada comigo , e depois de um tempo ela fica me observando , e quando seus olhos brilham eu sinto uma leveza inexplicável.
- Tão bom saber , que essa hora chegou . - ela diz acariciando meus cabelos .
- Mamãe queria ver o vovô e a vovó. - digo sonhadora .
- Esses ai estão loucos para te ver , e não viam a hora de serem convidados.
- E quem disse que eles precisam dessa formalidade toda ?- mamãe ri das minhas palavras e eu acho graça nisso .
- Não precisam mesmo , né?
- An an ... Pergunta a eles se não pode ser hoje mesmo .
- Seu pedido é uma ordem princesa.
- Ja que é  assim , quero ver a Gie e a Milla , as duas juntas de preferência,  papos de garotas que tal ?
- Perai que eu ja volto , vou perguntar a Dra. o que ela falou . - mamãe diz brincando .
- Que bobeira , quero ver também Mena e Fred , ou melhor quero ver todos nossos empregados . - digo e faço cara feia.
- Que foi ? - mamãe pergunta preocupada .
- Empregados ? Eles são mais que isso , são nossos amigos , chama todos eles.
- Que susto que você me deu menina . - mamãe diz com a mão no peito .
- Quer ver todos Lucas , Dave , Vittor , Bethy , Leon , a Melody ...
- Podemos montar uma agenda com horários?  - mamãe pergunta sorrindo . - não vai dar para todos virem aqui .
- Um pouco cada dia da semana , assim tenho novidades todos os dias . - digo sorrindo .
- Tudo bem , mais alguém que queira colocar na sua lista ? - mamãe pergunta sorrindo .
Fico pensativa com essa pergunta , quem mais eu poderia querer ver ? Meus amigos estão inseridos,  minha irmã ja esta lá,  meus avós também. Não há mais ninguém para se colocar .
A não ser o ... deixa para lá.
- Acho que é só isso mesmo mãe,  caso eu queira acrescentar eu te digo . - falo ainda inconsciente pelos pensamentos .
Depois da visita do Dr. Leo , aproveito para descansar dormindo um pouco , e só acordo quando eu escuto uma conversa no quarto .
- Ai Dra. ela esta ficando tão bem . - é  a voz de mamãe.
- Eu mesmo me impressionei com a evolução,  mas ainda há muito o que fazer .
- É  mesmo ?
- Sim , ela tem traumas em relação ao pai dela , fantasmas do passado.
- Ja disse que ele não é meu pai ? - digo me sentando , e depois de ver a cara de espanto das duas prossigo . -então vou falar mais uma vez , eu só tenho um pai . - digo meio brava .
- Acordou , bom ja ia falar para marcar o nosso passeio para outro dia , soube que sua agenda esta lotada .
- Sou mesmo compromissada . - digo brincando .
- Ainda esta disposta? - ela pergunta me olhando.
- Sabe que eu sou dura na queda e continua perguntando  ? Melhor você ficar só com a primeira resposta .
- Não era mais fácil você falar que sim , filha ? - mamãe fala sorrindo.
- Não  liga , ela gosta de ser complicada . - A Dra. diz sorrindo . - Vamos então? Trouxe uma cadeira de rodas para você.  - ela diz e aponta para perto da porta .
Encaro aquele negócio com receio , sempre vi as pessoas andarem naquilo , e para mim elas beiravam a morte , sera que estou beirando a morte ?
- Ta doida ? Vai dar mais trabalho sem , mas pelo amor , ainda vai demorar para eu morrer . - Digo e vejo as se entre olharem
- Olha filha , eu acho melhor você usar . - mamãe fala meio triste .
- Sua mãe esta certa , e você vai usar não porque pode estar morrendo , e sim porque precisa , para render mais o passeio e para você não fazer esforço. - A Dra. Mellissa tenta me explicar.
- Mas todos vão ficar me olhando por causa daquela cadeira . - digo apontando .
Vejo a Dra. Mellissa rir e puxar um sorriso no rosto de minha mãe.
- Mayra irão te olhar de qualquer jeito , não pela cadeira e sim por quem você é Mayra Annistton . - ela fala sorrindo .
- Ta bom . - digo me rendendo.
Ela pega a cadeira e a empurra até minha cama , e abre um largo sorriso para mim quando eu me sento nela com a ajuda de minha mãe. Ela começa  a empurrar a cadeira até  a porta e sinto como se esquecesse algo .
- Para !! - grito e vejo pelo canto dos olhos , mamãe e a Dra. pulando de susto .
- Que foi ? O que você esta sentindo ? - mamãe corre até meu lado e se ajoelha para me ver melhor .
- Ai , porque tudo o que eu digo ou expresso , vocês pensam que estou sentindo algo? - pergunto brava .
Na verdade cansada de ouvir isso , e de ver a preocupação no olhar de mamãe  e sei que isso esta acabando com ela , o que antes era um sorriso espontâneo , hoje é  um sorriso forçado e fraco , o que antes eram gargalhadas , eu transformei em choros , ela esta acabada e não é fisicamente e sim por dentro , parece até que a qualquer minuto essa fachada de dura vai desmoronar .
- Preocupação demais Sra. Annistton . - a Dra. fala .
- É  minha filha , se eu não ficasse preocupada é  que seria estranho . - mamãe responde brava por conta do comentário mal colocado da Dra.
- Tudo bem mãe,  só faz um favor . Pega meu caderno , por favor !- mamãe  me da um beijo e pega o caderno para mim .
- Viu era só isso não precisava ser tão possessiva em cima dela . - Dra. Mellissa fala .
Vejo mamãe torcer o rosto de raiva , e respirar fundo , ver mamãe tão irritada assim é  engraçado,  logo ela que é tão calma.
- Olha , eu posso me preocupar com qualquer coisa , que não  é  da sua con... - mamãe começa a falar .
- Mãe eu te amo muito , mas deixe de bobeira . E Dra. Mellissa se falar mais uma vez assim com minha mãe eu pulo no seu pescoço,  porque eu amo ela demais para ver ela assim . - digo sem paciência com as duas .
Mamãe sorri para mim e olha para a Dra. com cara de " não falei ? " , e vejo a Dra. torcer o nariz , enquanto faz uma careta para mim .
- Esta tão bem assim , para pular no meu pescoço?  - ela pergunta .
- Ótima para defender minha mãe. - digo orgulhosa . E é  verdade , eu faria de tudo para deixar minha mãe feliz ou orgulhosa.- Vamos então?
As dois sorri para mim , e mamãe me dá um último beijo , antes de sairmos pelo corredor .
A Dra. Mellissa segue pelo corredor quieta e pensativa , vejo poucas pessoas neste corredor , a maioria são médicos e enfermeiros,  que passam a mil por mim .
- Sabe que eu acreditei em você  ,né?  - ela puxa assunto comigo , logo após entrarmos no elevador.
- Sobre o que ?
- Eu acredito que você pularia no meu pescoço para defender sua mãe,  eu mesmo faria isso , na verdade ja fiz .
- Verdade ?
- É  sim , pela minha mãe eu fiz tudo o que pude , e acredite se ela pudesse estar comigo , eu teria feito mais barracos ainda.
- Não  é  sua cara . - digo  convicta.
- É  mas por mãe fazemos tudo né?  Te dou razão por agir daquela forma.
- Eu realmente amo ela , imagine ela deixou sua paixão por mim.
- Toda mãe faz tudo por um filho.- ela diz com o olhar distante .
- Você tem filhos ?- quando eu pergunto  a ela uma expressão estranha invade o rosto dela , e ela fica alguns segundos em silêncio.
-Não,  não. - ela diz triste .
- Que foi ? - pergunto ao ver uma lágrima rolar no rosto dela.
- Ele morreu aos três anos , acidente de carro . Meu marido e eu resolvemos que iria levar ele para conhecer nossa casa no campo , foi então que uma chuva muito forte o pegou , e ele perdeu o controle do carro , ele capotou seis vezes e incrivelmente caiu com as quatro rodas no chão, mas eu simplesmente apaguei .
- O que aconteceu depois ?
- Acordei de um coma de três meses , e com a terrível notícia de que só eu havia sobrevivido, e acredite você não sabe o quanto eu quis ter ido junto com eles.
- Não fique triste , Deus sabe tudo o que faz na nossa vida , se ele achou que era melhor ter os dois com Ele , tudo bem .- digo vendo o quanto ela sofreu.
- É difícil ,mesmo depois de anos , depois que acordei e me recuperei entrei em depressão, foi uka batalha , e se não fosse uma psicóloga ótima eu jamais teria conseguido , mas tudo isso porque ela não desistiu .
- Faz quanto tempo ? Por isso virou psicóloga?
- Não,  eu ja era , ela era minha professora . Faz sete anos . - ela diz e viaja nas suas palavras.
Sua expressão mostra o quanto ela ainda sofre com as lembranças.
O elevador abre , fazendo com que parte da tristeza acumulada no lugar saia , percebo que estamos no meu antigo corredor .
Ela empurra a cadeira de rodas , enquanto passamos pelos quartos , alguns com portas fechadas outros com elas abertas .
No final do corredor vejo muita gente sentada esperando algo .
- Porque eles estão ali ? - pergunto encarando uma criança no colo de sua mãe, com a expressão de dor e a cara mais pálida que eu ja vi .
- Estão esperando para serem atendidos.
- Mas , olha ali a criança,  vocês não vê os mais necessitados ? E o restante dos médicos?  - pergunto .
Ela balança a cabeça concordando , toda mãe sabe como é terrível ter que esperar para saber se seu filho esta bem. Ela resolve não responder nada , e continua me empurrando pelos corredores .
Assim depois de virar dois corredores , que avistamos um grupo de médicos conversando , percebo que estamos seguindo na direção deles.
- Boa tarde Sra. Mellissa .  - um médico alto e charmoso , diz abrindo um largo sorriso em seu rosto .
- Boa tarde Senhores . - ela cumprimenta a todos .
- Que moça linda é  essa ? - o mesmo charmoso pergunta .
- Não acredito , é aquele caso perdido que todos falam ? - um homem loiro fala , e logo após me encara assustado colocando a mão na boca .
- Não  a trate desta forma . - Dra. Mellissa me defende .
E não sei se ja mensionei , odeio ser defendida , me sinto uma inútil , uma incapaz.
- Desculpa. - ela meio que sussurra de volta .
- Não se preocupe Senhor Sei La Quem , não preciso das suas desculpas , muito menos ela . - digo apontando a Dra.- Se fui ou ainda estou sendo o caso perdido , não é mais da sua conta , nem te conheço. - digo com cara de desdém. - porque em vez de vir cuidar da minha vida , você não faz seu trabalho direito e cuida daquelas pessoas que estão em espera  ?- completo a frase bufando de raiva .
Vejo os médicos me encararem assustados , não sei se é pela revolta , ou pela maneira como cuspi as palavras . Mas de uma forma que eles não esperaram .
- Mas que moça mal educada... - ele começa da maneira errada a falar.
- Não sou mal educada , só estou cansada de ser tratada como uma ninguém. - digo desanimando.
- Como assim uma ninguém?  Você é Mayra Annistton. - um médico mais velho fala.- Quer saber você não deve me conhecer , mas conheço o seu caso , descobre seu câncer,  coma , transplante,  melhoras , recaída,  falta de coragem para mudar , brava e depressão.
- Senhor Sabe Tudo agora ? - digo irritada .
- Calma Mayra , ele só esta comentando .- a Dra. Mellissa fala sorrindo .
- Você deve sofrer com ela , porque ainda não desistiu ? - o médico velho e rabugento diz .
- Olha você me desculpe a forma como vou te responder... - a Dra. começa a falar , mas corto a frase dela.
- O loiro ainda não me respondeu tudo . - falo tentando evitar mais conflitos.
- O que ? - ele me pergunta desajeitado. - sobre atender aquelas pessoas ? - faço que "sim" com a cabeça. - Eu sou cirurgião geral .- ele fala se gabando , reviro os olhos descontente e continuo.
- Quer saber o que eu acho ? Que você continua sendo um médico da mesma forma , não sabe ver os sintomas de várias doenças?  Pelo o que eu sei , primeiro ensinam o geral , depois você se especializa.
- Olha , que menina inteligente,  so por isso vou dar uma passadinha lá,  por você.
- Não faça por mim , faça por honrar seu nome e a carreira que você escolheu , faça porque ama ou simplesmente porque é pago para isso. Faça por eles.
- Você esta certa . - o loiro completa , bagunça meu cabelo e se afasta .
Fico encarando os outros que sobraram ali , e me perguntando porque estão me olhando com essa cara de curiosos.
- E vocês? - pergunto brava pelos olhares.
- O que tem nós?  - o velho responde.
-Porque não vão arrumar o que fazer ? Ganham para ficarem conversando ?
- Não esta vendo que sim , estou conversando agora , mas meu dinheiro esta garantido no final do dia .- o médico charmoso fala , fazendo perder todo aquele encanto .
- Você perdeu o juízo , falar algo assim ? Que horror , logo você que eu achava tão dedicado ao trabalho , o mais atencioso,  charmoso e outras qualidades mais . Acabou com a ilusão de cara certinho , que eu tinha de você,  estava até pensando em aceitar seu convite para sair, mas esqueça ele foi por água abaixo . - A Dra. Mellissa fala para ele.
- An ... verdade ? E se eu mudar ?
Agora entendi a jogada , boa Dra. Mellissa .
- E tem jeito disso acontecer com você ainda parado aqui ? - ela pergunta séria.
- An... Não,  tchau . - ele diz e segue pelos corredores.
Olho para a Dra. Mellissa que esta com um sorriso largo no rosto e pisco para ela .
- Esse ai , vai passar o resto da vida comendo na sua mão. - outro médico fala. A Dra. sorri como resposta .
- Vamos ? Temos muita coisa a fazer e ver . - ela diz para mim , sorrindo .
- Vamos logo , antes que eu me irrite com outro. - falo emburrada.
- Ela é tão linda , e fica uma graça emburrada , mas para que ser tão brava ? - o mesmo médico que fez o último comentário diz.
- Táticas da vida , se for tão boazinha quanto eu era , acaba assim , tendo que ser empurrada por alguém em uma cadeira de rodas , sendo obrigada a ver as mesmas pessoas , o mesmo ambiente , e ser trancada neste lugar .
- As doenças não vem só para quem é bom , as pessoas que costumam ligar a isso . - ele diz.
- Tudo bem , vamos logo Dra. , porque a vontade de grudar no pescoço dele é imensa .- digo e vejo os dois rirem juntos , depois se olharem e algo brilhar nos olhos dos dois .
A Dra. Mellissa empurra a cadeira,  continuando o nosso passeio , do nada um vontade de rir me invade e não consigo me segurar .
- O que aconteceu ? - ela pergunta me encarando curiosa.
- Você sabe que se eu contar aquela parte do nosso paseeio para minha mãe,  ela vai atrás deles né?  E você vai rodar também. - digo entre risadas .
- Vamos deixar em off , então?  - ela fala rindo .
Sorrio para ela e continuamos a andar , passamos por inúmeros andares , salas , falamos com vários outros médicos que não me trataram com uma ninguém,  conversei com outras pessoas que não estavam tão bem também.
Antes de ir embora a Dra. Mellissa resolveu me levar ao andar onde ela mais trabalha .
Depois de muitos boa tarde's , conclui que ela era amada por aqui .
- Pelo menos eles gostam de você. - falo séria , mas com ar de brincadeira.
- Alguns me amam . - ela diz sorrindo.
- Mayra ? É você?  - ouço uma voz de criança me chamando , e a Dra. me ajuda a virar a cadeira para o lado que vem a voz .
- Camila ? Mas você não ti...
- shiiiiii.- a Dra , sussurra no meu ouvido.
- Pensei que você ja estivesse bem.- ela comenta me encarando .
Olho para ela , e percebo o quanto ela mudou , ela maior , mas bonita , seus olhos menos inchados e seu sorriso verdadeiro .
- Pois é . - digo sorrindo fraco .
- Então as moças se conhecem ? - a Dra pergunta e sorrimos para ela . - Eu te trouxe aqui , especialmente para conhecer ela .
- Perdeu a viagem então,  porque isso ja foi feito . - Camila brinca  .
- De certo modo , não perdemos a viagem , eu não esperava de ver , foi uma surpresa . - digo sorrindo .
- Que bom , né?  Pensei que entre nós  , só eu ficava animada em te ver .
- Que bobeira , adorei te rever , e você como esta ?
- Levando a vida , não tem muito o que se fazer . - ela diz e depois sorri.
- Ai essas desanimações que pegam vocês. - a Dra comenta .
- Não tem como viver 100% feliz , nem 100% triste . É  a vida . - Camila comenta
- Verdade .- concordo com ela .
Ficamos conversando um bom tempo , percebi que durante esse tempo , recebi muitos olhares curiosos e sorrisos .
- Vamos então Mayra , vocês nem perceberam , mas ficou de noite .
- Mas já? - reclamo para Dra. Mellissa.
-Sim , esta tarde , você tem que descansar, se demorarmos mais sua mãe e o Dr. Leo , me matam .- ela fala e começamos a rir.
- Ta bom . - falo desanimada . - Cah , amanhã minha irmã e minha amiga , irão me visitar,  vá também assim podemos conversar .
- Papo de garotas ? Estou convidada? Amei .- Camila fala sorrindo.
- Vá mesmo , até amanhã. - digo sorrindo.
A Mellissa volta a me empurrar , e logo estamos na porta do meu quarto .
- Filha ? Como você demorou.- mamãe diz me abraçando e me ajudando a sair da cadeira .
- Não disse ? Mais um pouquinho me matavam .- Mellissa diz sorrindo.
- Eu que quase morri , de saudades .- mamãe comenta me dando um beijo na testa.
- Mãe você vai ter que aprender a viver sem mim . - falo .
A Dra e a mamãe arregalam os olhos , posso até ler seus pensamentos de desgosto .
- Porque esta dizendo isso ? - mamãe pergunta me olhando preocupada .
- Não fala assim .- A Dra. Mellissa fala triste.
- Claro mãe,  algum dia eu terei minha propria casa , e não nos veremos muito.- falo sorrindo.
- Ah ! - mamãe levanta os olhos até os meus , desta vez eles estão com um brilho maravilhoso , ela esta feliz.- Mas vai demorar muito , e espero que sua casa seja do lado da minha .
- Eu tambem .- digo sorrindo.
-Bom , vou indo ja . - a Dra fala me dando um beijo na testa.
- Obrigada pelo passeio . - digo feliz.

MayraOnde histórias criam vida. Descubra agora