Quando amamos alguém de verdade, costumamos perdoar seus erros e apagar seus pecados da nossa memória facilmente, como se não fosse nada.
Errou, perdoou.
O amor é tão cego.
Ignoramos os erros de algumas pessoas por amor, por um bem maior. Afinal, todos nós erramos, alguns erros mais graves do que outros, mas é impossível não cometer erros.
O que seria de nós sem o perdão, afinal? Seriamos nada, porque tudo se constrói no erro.
E tudo pode ser perdoado com um pouquinho de amor.
Ou com lencinhos.
Eu molho o lenço na água, torcendo seu excesso e passando em seu rosto banhando em sangue com delicadeza e leveza.
Eu limpo sua testa com cuidado, observando o lenço se manchar com o sangue vermelho que escorre em sua pele como o sangue do diabo.
O sangue está por todo seu rosto, cobrindo suas feições angelicais e a transformando no mais bonito demônio que o inferno possui.
O líquido escuro e grosso pinga de seu rosto ensanguentado, fazendo um traço pelo seu pescoço até manchar sua vestimenta hospitalar. Isso se repete várias vezes, enquanto eu observo as linhas de sangue correrem lentamente por seu corpo em silêncio.
Ver ela banhada de sangue me faz ficar sem fôlego por alguns bons segundos.
Ela parece aterrorizante agora. Perfeita, muito perfeita.
- Está com dor ainda? - Minha voz soa após minutos em um silêncio gritante. Um aceno de cabeça é o que eu ganho como resposta. - Não deveria ter corrido de mim, isso pode ter piorado sua situação.
Eu solto um suspiro longo.
Eu molho o pano de novo, e dessa vez eu limpo seu pescoço, enquanto seus olhos grandes não se desviam do meu.
Sinto que ela pode ver minha alma com seu olhar.
Eu ainda não fiz perguntas. Não preciso. Se ela o matou, é porque teve algum motivo para isso. Confio no julgamento dela. A morte dele não me preocupa nenhum pouco.
Minha única preocupação agora é o que ele fez para ela ser obrigada a matar ele. Isso me deixa nervoso, fazendo minhas mãos ficarem trêmulas e fracas.
O corpo dele ainda está do meu lado, sua cabeça do lado dos meus pés e há poças de sangue ao meu redor. Seus olhos, foram arrancados de seu corpo e agora eu só vejo um deles, perto da porta. Eu apenas a tirei de cima dele e a coloquei na bancada, e por incrível que pareça, ela nem sequer reagiu.
Parece que foi desligada do mundo, de repente.
- Por que o matou, afinal? - Eu pergunto, finalmente. Ela me olha, inexpressiva. Ela não confia em mim, não vai me dizer. - Não vou ficar bravo, apenas quero te entender.
Ela não é má. Só está confusa.
Ela poderia matar minha família inteira e eu ainda assim ajoelharia para ela e rezaria em seu nome. Eu sentiria orgulho dela.
Ela matou um homem com sangue frio na minha frente e eu senti vontade de abrir um grande sorriso. Ela é perfeita. Ela é o sinônimo de perfeição, a única maravilha que já pisou na Terra.
– Me conte o que houve. – Eu imploro, usando um tom mais baixo do que o normal.
Ela pisca e desvia seu rosto para o lado quando eu me aproximo com o pano. Ela não quer conversa.
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IRON HEART | 🔞
FanfictionNem a morte foi capaz de separar os dois. Eles se conheciam de 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎 vida.