36 | Apolo, Ah, Meu Querido Apolo...

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Quanto dos seus sonhos dormem em gavetas?

Pergunto-me sobre essa frase e seus milhares de sentidos de despertar. Nada que um embaralho de palavras possa causar na mente vazia humana.

Sonhos são guardados em gavetas, caem no mais lindo e comum esquecimento e não há nada que possamos fazer além de assistir isso com nossos olhos tristes e arrependidos, de certa forma, por ter de abandonar uma vida que jamais tivemos e teremos.

Há de haver mudança, há de haver suspiros, então também há de haver solução.

— Natália!

E as soluções, embora sejam apenas escolhas agráveis, precisam começar de um jeito...

— Natália!

Despertando. É isso. Precisamos despertar.

— Natália!

Não que estejamos prontos para agarrar em nossas mãos feridas e banhadas em sacrifícios...

— Natália!

Mas, tem que começar de um lugar.

O primeiro passo é abrir os olhos.

Então abro os meus, em meio os caos.

— O que foi?

Faço exatamente isso, o despertar dos olhos. Abro meu peito e respiro fundo. Encaro o par de olhos castanhos assustados e horrorizados, que seguram meus ombros e me chacoalham, tentando me fazer despertar da ilusão.

— O que está acontecendo com você?! – Ela grita, horrorizada. Me pergunto o que seus olhos de chocolate enxergam em mim. Sinto vergonha de mim mesma pro alguns segundos.

Pergunto-me se meu cabelo está bagunçado ou ela enxerga algo de errado em mim...

Não. Angelina apenas enxerga a verdade.

— O que? – Pergunto, então, erguendo meus ombros e tentando me desviar de seus olhos horrorizados. — Tem nada de errado acontecendo comigo!

Ela se afasta, então.

Uma bomba explodiu. Além dela, explodiram casas e pessoas. E além dessas.

Durante a nossa refeição, uma explosão ocorreu no lado sul da ilha. O barulho foi tão intenso que causou temor em todos nós, mesmo sem conseguirmos visualizar os estragos causados.

Decidimos nos trancar em casa, como se isso fosse suficiente para nos proteger. As crianças cobriam os ouvidos e recolhiam seus brinquedos, gritando incessantemente. A bela louça que arrumei para o aniversário do meu filho se quebrou, a mesa balançou, bem como o coração de todos os membros da minha família.

Eu concentrei minha atenção em ligar as câmeras na TV e verificar o que de fato ocorreu.

Alan, Alan, Alan...

Ele finalmente veio até mim, então.

Nossa trilha sonora é uma série de gritos horrorizados vindo do pessoal da Vila. Me largo de Angelina e foco no que deve ser feito. Emoções e sentimentos são deixados de lado.

Olho bem para a televisão. Meus olhos se cerram. As pessoas correm, tentam fugir do fogo que se alastra no sul da ilha, aos berros.

O barco preto desembarcou muitos homens mascarados. Todos com coletes a prova de balas, pelo que vejo. Armamento pesado está em suas mãos. Preciso apenas ver as filmagens por poucos segundos para que percebo a brutalidade deles.

Expulsam as pessoas de suas casas a tiros. Destrói seus móveis, quebram suas portas e janelas, chutam crianças aos berros. Vandalizam a ilha, revistam cada casa, cada comércio.

IRON HEART | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora