IRON HEART | 🔞

25 | Mesa Quebradiça.

Uma mesa de madeira fraca não vai aguentar todas as suas palavras malditas que dirá.

A mesa irá romper.



— CAPÍTULO VINTE E CINCO —
Natália Venera?

Por que eu nunca cedo? Por que eu nunca quebro?

Basta abrir os olhos e soltar um fôlego que o pânico cresce dentro de mim. Grades me cercam, uma cela de metal me prende num espaço pequeno.

Estou numa jaula no centro de uma tenda de circo vazia, com apenas um abajur me iluminado e deixando o restante do espaço vazio em escuro. Eu me sento ali, no chão de metal e respiro fundo.

— Oh porra, viu... — Suspiro e apoio minha testa na palma da minha mão.

Os sábios dizem que nem todo vidro se parte, mas uma mesa de madeira sim. É uma analogia idiotia, mas os sábios dizem que uma mesa de quatro cadeiras aguenta mais que uma taça de cristal.

Uma mesa, geralmente, fica no centro da casa. É onde uma família se reúne para comer, estudar, jogar jogos, pagar contas, conversar... Uma mesa é o pilar de uma casa. Mas, nela também são atirados gritos numa discussão, objetos quando estamos nervosos, palavras amaldiçoadas e socos.

Uma mesa consegue aguentar tudo isso intacta, talvez com um arranhão, um amassado ou um mordida de cachorro no pé da mesa.

Mas, nem toda mesa é quebradiça como uma taça de vidro.

Ela resiste.

Num dia, a família acaba. Os filhos crescem e vão embora, os pais envelhecem e cobrem a mesa gasta com uma toalha para esconder suas imperfeições e rabiscos das crianças.

Seus netos sentam a mesa e brincam com a comida todo almoço de domingo.

Quando a matriarca da família morre, no seu velório, todos se reúnem naquele casa e comem sobre aquela mesa gasta e leem discursos naquela mesa, contam histórias e relembram a mãe que perderam naquela mesa.

Até que o patriarca também se vai e seus móveis serão doados. Os filhos não querem aquela mesa gasta demais e a colocam num bazar ou na rua.

Essa mesa se perde em outra história outra vez.

Ela não é nova, ela é gasta, mas ainda existem pessoas que amam antiguidade.

Existem pessoas que ainda enxergam valor em coisas acabas, como eu.

— Não adianta chorar não.

Eu abro meus olhos no som de sua voz. Nico parecia... Normal ao sair das sombras da tenda e aparecer no centro, me olhando com um sorriso. Sem maquiagem de palhaço, sem figurinos, ele estava básico.

Mas isso não o deixava normal.

Ele não precisava de uma fantasia e perucas para ser o próprio espetáculo.