33 | Maldição.

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                     Eu enfio a agulha alastrada em remédio ralo em meu braço estendido. A dor não vem enquanto o líquido se derrama dentro de mim, somente quando a agulha é retirada e gotas de sangue escorrem pelo meu braço. Com algodão, eu o sugo.

Descarto tudo. Suspiro aliviado em me encostar na cadeira de couro macio e sinto meu corpo relaxar aos poucos. É satisfatório a precisão de uma simples dose de medicamento. É como as drogas, não as que causam alucinação, mas as que te curam do veneno que seu próprio corpo solta contra você.

Segundos depois, há batidas leves na porta.

- Quer me ajudar a escolher meu vestido?

Era Natália, com sua voz rouca de sempre e seu doce cheiro após um banho de espuma em minha companhia. Seu aroma floresce ao meu lado. Eu concordo e ela abre a porta totalmente, entrando para perto.

Seu corpo esguio aparece em minha frente. A única fonte de cor vem como cachoeira em seus cabelos. Deus deve ter esquecido de pintar o restante do corpo, mas se lembrou de iluminar seus olhos e o encanto dos seus cabelos.

Com um imenso sorriso e com vestidos pendurados em seu braço, ela corre em esticar cada um deles sobre os sofás do escritório. Faz questão de deixar todos eles bem visíveis.

Eu sorrio.

- Qual você gostou mais? – Pergunta, mas antes que eu possa dizer, vejo pelos seus olhos transparentes qual é seu favorito. – Não me deixe te influenciar, por favor!

Eu assinto e concordo. Deixo meus olhos passearem por cada um daqueles vestidos descartáveis que ela usará uma única vez para jogar fora.

Branco, marrom, rosa...

Rosa, branco, marrom...

Marrom, rosa, branco...

- O branco. – Decido, atraindo sua atenção para mim, assim como aquele belo vestido atraiu a minha. Sorrio. - Eu gostei daquele.

Eu realmente havia gostado daquele. Amava os vestidos de Natália, todos eles. Era a única coisa que ela usava além de short e camisolas...

Ela inclina a cabeça e assente, mas vejo que o rosa teria sido sua primeira opção. Ela passa sua mão pelo vestido branco, transparente e largo, com um decote enorme entre os seios.

- Certo. Usarei esse, então. – Diz, com um sorriso. Ela pega em seus braços o vestido morrem e rosa e os joga na mesma lixeira que descartei a agulha maldita que me perfurou.

Natália não repete roupas e as não usa como segunda opção.

- Vou ir lá para baixo, tentarei ajudar a preparar a casa. – Suspira, já cansada. – Sabe que os empregados não sabem fazer nada sozinhos...

Ela se senta em minha mesa, de frente para mim e balança suas pernas brancas, distraída com suas unhas.

- Robert me disse que não avistou nenhum invasor desde ontem. – Conta. – Isso deve ser bom, não é? Eles devem estar se cansando de tanto tentar...

- Não pode culpar eles. – Digo, antes de me segurar.

Natália ergue as sobrancelhas e fica quieta, mas suas pernas não.

- Por que soltou a praga?

Suspira, como se o assunto fatal a cansasse. Revirou seus olhos de vidro e me olhou, entediada.

- Cortina de fumaça, eu já disse... – Murmurou.

A coisa ainda não entrava na minha cabeça de forma alguma.

IRON HEART | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora