17 | One last time.

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Às vezes, as palavras têm poder até demais.















































— CAPÍTULO 17 ——

Uma última vez.

A culpa pode ser avassaladora.

Ela pode ser esmagadora, pode ser um furacão em meio a calmaria, o fogo em meio a simples fogueira com chamas fracas, ou ondas gigantes em meio a um copo d'água. A culpa vem das palavras e das ações, algo que jamais deveria ter saído de nossos lábios.

A culpa pode ser a dor para quem ouviu, mas fatal para quem falou.

Eu matei minha mulher.

Demorei para entender que a única coisa que consigo fazer com ela é destruir sua vida aos poucos. A paz nunca foi uma palavra que me resumiu bem, pois nunca a senti verdadeiramente. Sempre escolhi a dor, a luta, do que a paz e o sofrimento.

Péssima escolha.

Natália sempre foi a mulher mais doce que já conheci. Não tão doce para alguns, mas doce para mim. Ela tinha um sorriso que me encantava, uma beleza que me hipnotizava e uma personalidade que me prendia a ela. Eu me apeguei a cada detalhe seu, memorizei, e idealizei em como seria estar com ele até mesmo na velhice.

A velhice não foi algo que a vida permitiu para ela, no entanto.

Sua vida acabou rápido demais, cruel demais. Eu quis lhe dar outra chance, porque sou egoísta demais para permitir que o mundo a tire de mim tão de repente. Eu a quis. E eu a tive.

E eu a destruí de novo.

Eu nunca aprendo.

Eu a coloquei nesse mundo sabendo que os outros a fariam sofrer, sabendo que ela não seria bem tratada por ninguém. A dor a deixa mais forte, mas não é somente disso que eu quero que ela viva.

Mas viver parece ser algo um pouco irreal para nós dois agora.

Sobreviver é a melhor palavra.

Assim que encontrei a ruiva morta do banheiro, fiquei perdido. Eu sabia que aquele era o fim. Sabia que sua vida havia se esgotado bem naquele segundo. Eu não podia fazer nada. Senti uma dor forte no peito, mas me forcei a entender que eu deveria a deixar ir.

Mas eu não me escutei.

Eu nunca escuto a parte racional do meu cérebro.

A primeira coisa que fiz foi colocar ela no chuveiro gelado e ligar para meu irmão. Ele surtou. Ele quis me matar, e eu também. Porém, depois do surto, eu agi mecanicamente enquanto escutava as instruções dele. Eu era um cientista, não um médico.

Foi difícil quando eu tive que abrir ela com um tesoura e faca da cozinha. Sangue se espalhou, enquanto eu observava seu rosto morto jogado na cama. Quis vomitar. Quis desistir. Mas eu não faria isso, porque ela não merecia morrer por minha culpa.

Então eu a costurei com uma linha vermelha e rezei para que ela voltasse a respirar. Ela voltou.

Agora ela respira. Está em coma, deitada na cama de solteiro há duas semanas. Tomando soro por um tubo que roubei de um hospital, ela dorme todos os dias. Pálida, em cima, mas viva.

IRON HEART | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora