Sou um homem contraditório.
Em um dia, digo que a morte não é nada de especial além de um fenômeno natural.
No outro, já sou capaz de sussurrar que não tenho medo da morte, que não a temi e nem temerei.
Na minha morte, falarei o quanto ela me entristece e quanto a temo em meus últimos segundos.
Já morto, falarei sobre como a morte é irrelevante quando sua memória ainda vive entre os vivos de coração cheio, não entre aqueles que guardam seus corações em caixões.
Ser contraditório não é terrível, na verdade, é reconfortante ver pessoas mudando de ideias de acordo em com suas vivências. É a arte da vida. A mudança acontece quando nossos olhos piscam ao ver uma cena nova, mais perfeita e reveladora, que se encaixa melhor dentro do nosso espaço limitado.
O mundo nos dá margem para erros.
Ser contraditório é reconfortante no silêncio do nosso quarto, quando quietinho mudamos nossas ideologias, quando nossos erros são aprendizados e não pecados.
Ser contraditório no silêncio nos permite ver que nem tudo é extremo, podemos mudar, ou desmudar, mudar outra vez, reverter a mudança, encolher a mudança, jogar ela fora para depois pegar ela de volta.
E hoje, estou com medo de tiros, algo que já muito disparei, que muito obriguei os outros usarem, pensei que havia me acostumado a ouvir esse som. Não, ele me dá arrepios. Não tenho o direito de sentir isso, mas sinto.
Então, sou contraditório. Amaldiçoo minha língua.
Olho para Pippo, que agarrada em minhas pernas, não chora, não sente medo, sente curiosidade e confusão. Afundo meus dedos em seu cabelo dourado e o puxo para mais perto de mim, trazendo sua respiração para perto para que a minha continue.
Verdadeiro, precisamos de algo real.
Os sons são a pior parte, eles te deixam imaginar. Os tiros estão indo para quem? Reconheço de quem são esses gritos?
A arma pensa em meu corpo e eu encosto na parede esburacada atrás de mim. O sofá vermelho tem furos de tiros, os vasos de vidros estão despedaçados no chão, assim como os cacos de algumas janelas. O quadro da família Orguna caiu e se quebrou o chão.
Quebrado, quebrado, quebrado, tudo quebrado.
Corremos até encontrar esse lugar. Não pensei em revidar, em ir atrás dos Mascarados, apenas quis proteger as crianças e meus irmãos. Encontrei essa casa escondida dentre cinco grandes árvores, mas que não foram o suficiente para proteger ela. A família não está aqui, o que é ótimo.
Deixei Natália para trás não por covardia, mas porque ela me deixou primeiro. Eu sabia que ela ficaria bem. Natália sempre soube se virar, precisei pensar em meu filho primeiro dessa vez.
Agora, o silêncio reina, porque não há pergunta que tenha resposta. Todos se negam. Seu choro não contém lágrima. Angelina se debruça contra uma bancada. Jolie abraça os gêmeos. Robert resmunga como um velho. Oliver se encolhe como uma criança necessitada de colo.
- O que iremos fazer? – Oliver questiona em meio a um sussurro, seu lábio corado branco, seus olhos em pânico. Atraio meus olhos para ele, no som de sua pergunta.
Oliver é igualzinho a mamãe. Os cabelos dourados, os olhos gentis e ingênuos. Mamãe me pediu para cuidar deles e eu falhei.
Ele implora por ajuda no modo em que sua mão treme, em que seus olhos perdem o olhar e sua respiração se torna um tornado.
- Natália e Apolo ainda estão lá fora e.... E eles... Eles correm perigo e... – Ele murmura em pânico silencioso.
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IRON HEART | 🔞
FanfictionNem a morte foi capaz de separar os dois. Eles se conheciam de 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎 vida.