IRON HEART | 🔞

26 | Colecinador de Mentiras.

Homens detestam mulher que voam, sendo elas pássaros, bruxas, pilotas ou livres.

— CAPÍTULO VINTE E SEIS —
Christopher Karloe.

Os sábios dizem que quando voamos, estamos mais perto da morte do que da vida. O céu é o fim para nós, não é?Estar perto dele é como ver a morte. Certo, existe o espaço, galáxias e até mesmo Marte, mas isso não os torna menos irreais para nós.

Quando digo que o céu é o fim, digo que é a única coisa minhas mãos poderão ser possíveis de tocar, de ver e de sentir.

O céu é o fim da vida até que se prove o contrário.

É o limite imposto pela vida. Não existe vida fora do nosso mundinho, não existe fé fora das paredes que o céu nos cerca, e com certeza – ainda – não é possível morar num lugar tão distante quanto o céu.

O céu é assustador, bonito e magnífico. Mas isso não signifique que um dia que deseje ir para lá.

— Você acha que alguém virá atrás de nós? — A voz de Natália soa ao meu lado, de repente, mais baixa que o de costume.

Eu tiro meus olhos da janela do avião, que mostra certamente o céu e a encaro, com Pippo dormindo no meu colo.

Essa era uma pergunta com uma resposta óbvia. Quem não viria? Quem nos deixaria? Quem nos esqueceria?

Um dia seremos esquecido? Ou nossos nomes entraram para história?

Eu olhei para ela e senti que não deveria soltar as palavras que soltei.

— Não é óbvio?

Se eu fosse Alan, eu não viria atrás de nós. Tudo que ele tem é o seu coração – o meu coração – e ele deveria aproveitar a semi liberdade que ele conquistou. Mas, burros e tolos não pensam usando a razão, eles usam a vingança no lugar disso.

— Por que não me contou sobre o Alan? — Ela pergunta, olhando profundamente em cada um dos meus olhos, a espera de outra mentira.

Eu a olhei, nem tanto surpreso com isso. É claro que ela descobriria.

Eu desvio meu olhar por alguns segundos. Estávamos conversando baixo, tão baixo que eu esperava que ninguém nos escutassem tento essa conversa.

— Não queria te envolver nisso. — Não menti dessa vez.

Ela desviou seu olhar do meu após não suportar mais. Natália bufou e eu fiquei quieto ao seu lado, acostumado com o seu jeito impaciente nos dias de hoje. No passado ela não era assim. Não tanto. Agora, parece que sua paciência tem sido esgotada cada vez mais.

Eu olho para a garrafa de vinho no seu colo e a vejo como um vilão nesse instante. Depois, olho para Natália e a vejo fragilizada, está escancarado em seus olhos sua dor, embora ela esconda isso com seu sarcasmo e sua impaciência. Ninguém vê isso nela, mas eu vejo.