11 | Jennifer.

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A certas dores que são impossíveis de serem curadas. Ou esquecidas.

A cicatriz que fica marcada em nossa pele sempre nos lembra do que o passado nos fez sofrer.

Como a dor da perda, por exemplo. Você custa acreditar que algumas pessoas simplesmente vão embora porque sempre fica marcado na sua pele a constante lembrança que ela se foi, ela simplesmente se foi. Vivemos em negação, em meio a dor sufocante que carregamos junto a saudade.

Natália estava desaparecida há trinta e três dias. E com ela longe, meu coração estava mais longe ainda. Eu buscava pela a dor constantemente com ela longe.

Há trinta e três dias eu me encontro perdido. Há trinta e três, eu mal sei o que é respirar. Eu conto os segundos do relógio, eu saio e faço buscas na região. Chamo a equipe federal do meu pai para fazer buscas e fico acordado durante a noite só para o caso dela chegar.

Minha mulher pode estar sofrendo nas mãos de alguém, pode estar com fome, com frio, com sono. Eu sei o quão forte ela é, mas o que poucos sabem é que quanto mais força carregamos conosco, mais fraco nos tornamos ir dentro.

A força é construída no meio da fraqueza e vulnerabilidade.

- Você precisa comer. - A voz mansa de Angelina faz eu virar meus olhos para a ver parada na porta. O seu olhar vazio é o mesmo de sempre, só que dessa vez, tem preocupação.

- Tem novidades? Já encontrou ela? - Eu a ignoro e seguro a bolinha vermelha que Pipinho me entrega, correndo de volta para o cesto.

- Não. Nada ainda, mas estamos tentando. - Sua voz é de culpa, assim como seus olhos azuis. Ela sempre vai se culpar por tudo, não importa o que eu tente fazer.

- Como alguém simplesmente entrou aqui e roubou ela de mim? Eu quero que você me explique essa palhaçada. Você disse que aqui era seguro! Você disse que havia guardado aqui! - Eu acabo me exaltando, assustando até Felippo que para de catat as bolinhas me olha, assustado.

Eu respiro fundo e fecho meus olhos e tento controlar meu nervosismo. Quando se trata de Natália eu fico assim, eu tento ferir todos aqueles que fiquem ao meu caminho.

- Olha como você fala comigo, Christopher. - Ela avisa, soa do ameaçadora.

Eu fico calado como a noite escura, e ambos ouvimos a respiração um do outro, olho no olho. Ela olha para baixo, apertando suas mãos na roupa escura.

- Eu vou te deixar aqui sozinho antes que eu bata em você.

Ela me dá as costas e eu solto um suspiro, quase que arrependido por ter falado ao que não deveria. Nós funcionamos assim, agimos como se as palavras não fossem o bastante para expressar alguma coisa.

Eu balanço minha cabeça em negação, focando em olhar para o meu filho que tem sido minha única motivação nesses dias.

Eu tenho sentindo muito estresse. Eu ganhei meu filho, perdi minha mulher.

Não sei o que eu tenho que sentir. Ninguém me passou um manual sobre como agir nesses momentos.

Eu, de alguma forma, só consigo demonstrar amor e carinho. Quando sinto a mágoa e tristeza profunda que chega a ser cortante, não sei o que me fazer. Me sinto um cego em meio as emoções que começam a me cercar.

Felippo pega outra bola e ele entrega, dando passos vacilantes até buscar a outra bola azul. Ele tem ficado esperto cada dia mais. É meu menininho de um aninho esperto e saudável.

Quase totalmente saudável.

Ele já consegue andar e formar algumas palavras simples, mesmo que tenha que tomar muitos remédios durante o dia.

IRON HEART | 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora