28 | 96 Hours Before.

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Nunca confie nos pensamentos da Natália. Ela mente.




































96 horas antes...

— CAPÍTULO VINTE E OITO —
Christopher Karloe.

Onde você está, Natália?

A pergunta se perdeu no ponto. Eu não obtive resposta. A preocupação preencheu tudo dentro de mim.

A mata cantava para mim, tinha seu som único, aliciante, poético. Eu me perdi naquele som que nem mesmo existia. Seu caminho se abria como um portal para o mar, que eu podia ter o vislumbre na escuridão da madrugada no fim, sendo beijado pela lua com ondas agressivas.

Eu corria. Eu corria sobre os galhos espessos que se quebravam e espantavam os esquilos com a minha pressa, amassava as flores com a sola do meu sapato e calava as canções dos pássaros com a minha respiração pesada, tornando eu o único som dali.

Depois anos se passaram desde o dia que viemos morar aqui. Dois anos se passaram desde o dia que a Peste Negra deu olá para as pobres pessoas e suas almas cansadas.

E dois anos foram o bastante para meu cabelo ficasse quase todo grisalho. Para que fosse mais difícil respirar enquanto corria. Para que minha doença avançasse mais e com mais pressa. Dois anos bastaram para que o mundo regredisse alguns bons passos.

Nada mais era o mesmo. 730 dias fizeram isso comigo. Com a gente.

— Onde você está? — Eu perguntei mais uma vez, tocando meu ponto auditivo com minha luva escura, esperando por uma resposta. A arma pesava no meu corpo. — Onde você está?

Finalmente eu escutei um suspiro através do ponto, um sinal mínima que ela estava bem.

Perto da casinha do Pippo... — Ela ofegou. — Ah, merda, eles vão entrar...

Eu voltei a correr no momento que ela disse isso.

— Não atira, escutou? — Eu pedi. — Natália, não é para atirar. Escutou? Não atira.

Eu escutei ela estralar sua língua.

Vou pensar...

Eu corri o mais rápido que pude. Passei a casinha da árvore amarela do Pippo e vi seu corpo perto da areia, gritando algumas palavras para algumas pessoas. Fui mais perto e vi um barco ancorado na areia.

— Fiquem aí! Fiquem parados!

Eu chego ao seu lado e olho ofegante para o pequeno barco que comportava três mulher, uma criança e um homem adulto coberto por panos pretos e finos. Suas peles queimadas pelo sol, o suor escorria por suas testas e o tremia de seus lábios era evidente. As mulheres cobriam seus rosto com máscaras que nunca usamos aqui na ilha, porque não precisávamos.

Estávamos seguros aqui.

O homem tremeu suas mãos magricelas ao ergue-las para o alto, sinal de rendição. Ofegante, encarei Natália. Não toquei na minha arma. Ela segurava a sua como se fosse seu coração que estivesse fora do peito.

Aguardamos o homem a chorar.

— Por favor... — Ele gaguejou, chorando, tremendo. — Nos deixe entrar... Não nos machuque.

Ao invés de dizer, Natália apontou a arma em sua direção e indicou para ele. Seus cabelos estavam mais compridos, seu corpo tinha mais músculos do que há dois anos atrás, mas ela ainda continuava pálida e os seus olhos transmitiam o mesmo olhar de sempre: de medo.

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