Natália é como um mágico, que acena com a mão direta para que ninguém repare no que a esquerda está fazendo.
Mas então, ela sorri. Ela sempre sorri e os entretém com sua beleza maliciosa. E, ao olharem para seus olhos rasos e fúteis, eles se esquecem de seus próprios nomes com algo que deveria ser mediano. Para quem visse de longe, seus olhos eram encantadores, mas para quem a conhecia, seus olhos eram o pesadelo que nenhum deles queria arriscar em ficar preso.
Eles se esquecem que a figura em sua frente não tem intenção nenhuma de os salvar, nem de os fazer sorrir.
Ela esconde verdades, mata as mentiras, mas a omissão dos fatos fica na ponta da sua língua, prestes a pular para fora.
Natália é fútil, vazia e não tem nada além disso para os oferecer além de tormento. É assim que ela pesca suas próprias vítimas, sendo alguém que não vale centavos, mas possui um valor inestimável.
— Eu me machuquei.
Isso era mostrado bem na frente do homem. Havia um buraco em seu corpo, um corte fundo que parecia um buraco de bala. Sangue escuro escorria dele, bem abaixo do seu seio. O líquido grosso escorria pela coxa dela, os pingos caídos no chão como se fosse geleia, ou vinho.
Christopher nem ao menos se moveu.
— Como? — Foi o que perguntou.
— Cai em cima de um galho.
Os dois ficaram em silêncio. Não, ele não ia a consolar por isso. Não era assim que eles funcionavam. A pena não era o mural dos dois ali, a pena era coisa para coitados e fracotes. A ruiva olhou para cima por alguns segundos, como se as lágrimas teimosas não fossem cair se seu rosto não tivesse para baixo.
O choro não vinha pela dor física. Vinha pela vergonha.
Chris suspirou de dentro da banheira coberta de espuma que imitavam nuvens cheirosas. Tudo que queria naquela tarde, provavelmente a última tarde de todos eles, era tomar um banho quente e esquecer que era vivo, assim não teria de temer a morte.
Mas, ao invés disso, ao invés de ignorar, ele tirou sua mão de dentro da água morna e esticou na direção dela. Natália piscou e caminhou em direção a ele. Ela já estava nua, sempre estava, grande parte das vezes de alma, não de corpo.
Ela aceitou sua mão.
Ela enfiou seu pé na banheira quente e entrou devagar, olhando nos olhos azuis deles, não exatamente da cor do céu, mas agora escuros como a cor de sua luva preferida. Ela mergulhou na água quente e o abraçou, pele com pele, dor com dor.
O sangue que escorria dele tornou a água que devia ser limpa em suja rapidamente. Ele não se importou. Ele espalmou a mão nas costas brancas e lisa dela e fechou os olhos, enquanto ela não tinha os seus abertos, com a cabeça no ombro dele.
Não havia nada demais para ser observado, devia fechar seus olhos também, pensou ela.
Não era nada sexual, nem romântico. Não era nada disso. Era mais que isso, mais que um relacionamento e intimidade. Era a necessidade de sentir que ainda estavam vivos, ensopar pele na pele e saber que o calor humano ainda era real.
Faziam isso sempre. Nunca evoluiu para nada além disso, afinal, não tinham nada além da futilidade para ofertar.
O silêncio reinou por tantos minutos que a água quente foi se tornando cada vez mais fria.
— Você sente dor? - Ele perguntou.
— Agora não. — Ela respondera. — E você?
— Não.
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IRON HEART | 🔞
FanficNem a morte foi capaz de separar os dois. Eles se conheciam de 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎 vida.