FESTA DOS BIXOS

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Agora sim, começando a nossa estória com tudo, vamos que vamosss, boraaaa!



20 de fevereiro de 2023

POV LUIZA

Mais um dia correndo para chegar na aula no horário, não sei como alguém pode realmente gostar de morar nessa cidade. A impressão que eu tenho é que tudo é longe em São Paulo, se não fosse pelo meu emprego eu jamais teria voltado do Rio de Janeiro.

Depois de pegar um trem e um ônibus, o qual ainda fez o favor de ficar preso no trânsito, finalmente consegui chegar e para a minha alegria, 10 minutos antes de começar a aula, eu odiava me atrasar. Faz pouco mais de um ano que voltei a morar com os meus pais em São Paulo depois de quase 8 anos morando no Rio de Janeiro com os meus avós, eu esperei que fosse me adaptar, mas no fim cheguei a conclusão que para gostar de morar aqui só tendo um bom carro, depender de transporte público é um inferno, principalmente quando se mora no raio que o parta como eu.

Ocorre que quando vim visitar meus pais nas férias logo depois de acabar a escola, a patroa dos meus pais, doutora Catarina, me abordou em um dia que eu estava esperando para pegar carona com os meus pais de volta para casa e disse que minha mãe contou a ela sobre as minhas pretensões de cursar direito, conversamos e ela disse que tinha uma vaga de estágio no jurídico da Companhia Albuquerque para trabalhar diretamente com ela, não pude recusar e acabei me mudando e prestando vestibular em São Paulo mesmo.

Catarina era quase uma inspiração profissional para mim, eu trabalhava com ela desde que tinha começado a faculdade há um ano, ela me ensinava a advogar como ela e dificilmente perdia processos, era uma profissional extremamente competente, embora eu não a conhecesse a fundo, visto que ela é muito discreta com a vida pessoal. Pouquíssimas vezes vi ela e o doutor Marcos conversando dentro da empresa mesmo sendo casados e trabalhando no mesmo local, era até estranho, mas quem sou eu para julgar?!

Quem eu via com frequência na sala de Catarina era o seu filho mais velho, ele recém se formou em direito e vivia colado na mãe e no pai dentro da empresa. Pelo que pude notar a pretensão do casal era prepará-lo para assumir a empresa da família enquanto a filha caçula cursava direito no mesmo período e local que eu, mas não parecia ter o interesse do irmão, na realidade ela parecia desprezar a empresa da família, assim como o curso de direito e tudo que envolvesse isso, mas eu a via mais nas aulas do que na empresa, era raro Valentina aparecer por lá e nas aulas fingíamos não ter qualquer ligação familiar.

Na realidade, a nossa relação em aula era péssima, eu não tinha a menor paciência para o assuntos de adolescente rebelde sem causa dela, assim como achava ridículo o fato dela ter tudo nas mãos e preferir não ligar, viver como se não fosse herdeira da maior empresa no ramo de comercialização de jóias do país. Então cada vez que ela abria a boca eu tinha vontade de vomitar, mas é isso, de tudo a uma pessoa e ela jamais entenderá que tem tudo que o outro gostaria de ter, mas precisa lutar muito para chegar perto de conseguir ao menos a metade, uma grande ingrata com a vida que foi presenteada.

Cheguei na faculdade e peguei meu celular, rolei a lista do whatsapp e selecionei a conversa de Duda, a única amiga verdadeira que consegui fazer naquele lugar.

"Oi, Duda, já está na sala?"

"Oi, Lu, não, estou aqui fora, hoje é o trote dos bixos, lembra? Não tem aula"

"Merda, tinha esquecido completamente, poderia ter ido direto para casa"

"Que para casa o que garota, vem aqui, está todo mundo se divertindo e pintando a cara dessas pobres almas que acham que serão felizes estudando só o que gostam"

"Não sei não, poderia ir para casa descansar, eu trabalho amanhã cedo"

"Está no início do semestre, Luiza, vem logo, aproveita um pouco para não ter perdido uma viagem até aqui"

Segundas IntençõesOnde histórias criam vida. Descubra agora