Alguns dias depois, Rana já estava lecionando normalmente. O ferimento no ombro esquerdo estava praticamente cicatrizado, restando apenas a marca vermelha na nuca. Havia aproveitado para anunciar a "perda" do herdeiro devido ao ataque, já que os documentos do acordo haviam sido assinados. Sergei por sua vez, continuava solicitando aos homens de Kravan que continuassem procurando pelos culpados, que nunca seriam encontrados.
Rana havia terminado a última aula do dia, quando viu uma notificação em seu celular. O prefixo era dos Estados Unidos. Leu a mensagem, sentindo seus olhos ficarem cheios de lágrimas. Trancou a porta rapidamente, sentando-se na cama e fazendo a ligação. Não acreditava na voz rouca e grossa, já quase esquecida, do outro lado da linha:
- O que você está fazendo aí, Rana?
Respirou fundo:
- Você...voltou?
- Cheguei há uma semana. Estou em Nova York. Durand me contou que se casou com o russo, seu pai está metido nisso?
- Sim, mas não é o que pensa.
- Se estiver em apuros é só me dizer e eu consigo um time para fazer sua extração de Moscou ainda essa semana.
Rana limpou as lágrimas:
- Não será preciso, ele cuida muito bem de mim e...
- Ele é um criminoso. Não se esqueça disso. Drogas, prostituição. Preciso repetir?
- Eu... me apeguei à ele.
- Claro, que outra alternativa restaria para você, trancada dentro de uma mansão? Aposto que já não lembra mais o que é ser livre. Só vou acreditar que está bem se me disser pessoalmente.
- Vai vir para cá?
- Assim que conseguir o avião, devo chegar em Londres amanhã à noite. Mando notícias assim que pousar.
Desligou.
Ela engoliu a seco. William era o seu segundo pai. Ex-militar que fora seu treinador, e que fazia parte de uma rede de mercenários, que atuava nos casos onde a justiça não havia sido feita. Seus alvos eram bandidos, traficantes e assassinos. Rana era a sua melhor atiradora e participava de várias missões.
Estava foragido há mais de um ano, procurado pela polícia após ter eliminado uma facção inteira da máfia americana que estava envolvida no tráfico de pessoas. Recebeu uma quantia considerável de uma das famílias que teve as duas filhas sequestradas e vendidas para donos de boates no leste europeu, conseguindo trazer as garotas de volta.
Ao pensar em tudo isso, Rana se sentiu incomodada, pois Sergei comandava uma rede de boates, e no bar ela mesma tinha visto várias garotas, inclusive com ele. Teriam sido traficadas, ou obrigadas a atender clientes?
Como se tivesse sido acordada de um sono profundo, Rana começou a se sentir angustiada e suja, por fazer parte de um esquema como aquele, afinal seu marido utilizou por muito tempo os serviços daquelas garotas. Ela era conivente com tudo o que acontecia. Começou a pensar nas drogas, sentindo um aperto ainda maior no peito.
Saiu correndo em direção à janela, abrindo e respirando o ar gelado. Fechou os olhos e lembrou de como era a sua vida, antes do acordo. Das tardes nos museus, fazendo compras com as garotas da universidade. Não se lembrava de chorar com tanta frequência como agora, nem mesmo se arriscar por pessoas que mal conhecia, como Sergei e Dimitri.
Pegou o celular e enviou uma mensagem para Aika. Pediu que caso Sergei perguntasse, para confirmar que ficaria com ela em Londres na próxima semana, que estavam com problemas com as irmãs, algo pessoal. Assim ele não tentaria segui-la.
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O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)
Ficção Geral"Ficou um pouco assustada. Sua irmã tinha apenas 20 anos. O homem à sua frente devia ter em torno de 45 ou 50 anos. Não deixava de ser interessante, embora um tanto rústico para o seu gosto, mas pensar em unir Aika à ele era um absurdo. Notou que el...