Dois meses após o início do ano, Rana começou a dividir seu tempo entre dar aulas no colégio real de artes e a especialização em literatura. Para que conseguisse cumprir suas funções de forma adequada, deixou o emprego de guia no museu em Moscou e passava dez dias por mês em seu novo apartamento em Londres. Seriam apenas seis meses, pois o fato de ter feito doutorado em história da arte clássica, fez com que várias matérias fossem duplicadas e retiradas de sua grade, restando apenas aquelas específicas sobre o assunto. Gostava de ter todo o tempo praticamente ocupado e ainda mais de estudar. Era vista constantemente em companhia dos seguranças, sempre elegantemente vestida em calças de alfaiataria e camisas de seda, com a bolsa presenteada por Dimitri, onde conseguia carregar seu laptop e cadernos.
Sergei tentava acompanhá-la, sempre que possível. Estava satisfeito por vê-la feliz e animada com os estudos mesmo que pudesse correr algum risco, pois em breve Dimitri assumiria o comando, exigindo atenção redobrada. Apesar de estar em boa forma física, ele sabia que o peso da idade às vezes aparecia no cansaço que sentia após às idas e vindas para Londres, seguidas das inspeções dos armazéns em São Petersburgo e várias reuniões com seus pakhans nas cidades próximas. Mas o que realmente o irritava era saber que a data de seu aniversário estava próxima, um lembrete de que talvez já não fosse tão atraente para sua esposa quanto antes. Além disso, Rana não poderia se juntar à ele, por causa da semana de provas na universidade.
Estava ciente que muitas vezes ela saía com os colegas de turma, após as aulas. Tinha receio de que acabasse se interessando por alguém mais culto e mais jovem, era um risco e havia decidido não impedi-la, para que pudesse fazer a especialização que tanto queria.
Dimitri por sua vez estava se preparando para retornar à casa. Havia se decepcionado com Sarah, no final a garota não pretendia se envolver de forma mais séria, muito menos voltar para a Rússia com ele. Durante todo o tempo do suposto namoro, pediu conselhos para Rana, pois seu pai não era a melhor pessoa em termos de relacionamento. Mais conformado com a desilusão amorosa, assumiria a organização conforme planejado por seu pai, afinal havia se preparado a vida toda para aquilo.
Na quinta-feira, após terminar as provas do trimestre, Rana decidiu ir até uma das ruas mais famosas comprar um presente para seu marido. Passou pelas lojas de roupas, calçados, até parar em uma vitrine onde viu um porta retrato feito em prata, na moldura haviam barcos e bússolas, cuidadosamente esculpidos, como as tatuagens de seu marido. Entrou no lugar para fazer a compra. Em seguida, dirigiu-se a um local que era especializado em fotografia e mostrando a imagem que guardava em seu celular, pediu que imprimissem a foto de seu casamento. Riu ao lembrar da data, a festa planejada por Yula e a lua de mel gasta em um jogo de xadrez interminável.
Ao sair, ouviu o toque de seu celular:
- Sergei?
A voz de seu marido parecia um tanto aborrecida:
- Pretende voltar amanhã?
Suspirou:
- Não vou conseguir. Mas prometo recompensá-lo.
- Hum.
Desligou.
Ela arregalou os olhos ao pensar que devia estar bem contrariado, não havia nem se despedido, o aniversário seria no dia seguinte. Olhou o relógio e voltou para o apartamento, apressada.
Em Moscou, Bóris estranhou o fato de seu chefe não estar pronto em plena sexta-feira, já eram dez horas da manhã e queria ser o primeiro a parabenizá-lo.
Andou até a cozinha onde Yelena parecia bem preocupada e perguntou:
- Não desceu ainda?
- Ontem à noite pediu que levasse a garrafa de conhaque e lanches para o quarto. Não sei se estava acompanhado.
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O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)
Ficción General"Ficou um pouco assustada. Sua irmã tinha apenas 20 anos. O homem à sua frente devia ter em torno de 45 ou 50 anos. Não deixava de ser interessante, embora um tanto rústico para o seu gosto, mas pensar em unir Aika à ele era um absurdo. Notou que el...