Capítulo 34 - Retorno

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Rana encostou na mesa, sem acreditar.

Todos esses meses havia sido enganada, só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Sentiu o gosto ácido da raiva na garganta, os olhos ardendo, antes de começar a cuspir as palavras:

- Quer dizer que mentiu para mim? E se eu tivesse arranjado outra pessoa?

Andou até a porta, puxando a maçaneta em vão.

Sergei exibia a chave na mão:

- Se você tivesse arranjado alguém que pudesse cuidar de você, eu assinaria os papéis.

Rana sentou no sofá, contrariada:

- Eu nunca conseguiria arranjar alguém. Mais cedo ou mais tarde saberiam do meu envolvimento com você e com a organização.

Sergei respirou fundo. Era apaixonado por ela, mas tinha obrigações com seus negócios e seus subordinados. Já havia se arriscado demais:

- Estou cansado, Rana.

Ela piscou os olhos, várias vezes, com a visão embaçada pelas lágrimas:

- O que quer dizer?

- Se quiser voltar, será bem-vinda. Poderá trabalhar em segurança, como antes. Vou me manter à distância, tenho minha parcela de culpa em tudo isso e teremos vidas separadas, como deveria ter sido desde o início.

- E se eu não concordar?

- Eu planejava comprar a casa que era do irmão de Letizia em Florença, antes de tudo isso acontecer. Vou comprá-la para você e poderá fazer o que quiser, se mudar para a Itália e quem sabe recomeçar por lá. Assinarei o divórcio.

Destrancou a porta e saiu.

Rana ficou em pé, enxugou o rosto com as mãos e ao colocar os pés para fora do escritório, viu Sergei acender uma cigarrilha e chamar duas garotas, subindo com elas para o quarto.

Respirou fundo, com um aperto no peito.

Sentiu o olhar preocupado de Alexei, em um canto do bar. Foi até ele, pedindo que a levasse até Letizia, pois havia dispensado o motorista. Entrou no carro sem dizer nada, permanecendo em silêncio durante todo o caminho. Olhou no relógio, já passavam das três horas da manhã. Assim que Alexei estacionou na entrada principal da casa, agradeceu e desceu, correndo.

Anna, a governanta, apareceu assustada e pediu que aguardasse em uma das salas.

Rana estava sentada em uma cadeira, perto da lareira. Levou as mãos ao rosto, abaixando sobre o colo. Exausta, gostaria de desaparecer, nunca ter existido.

Ouviu a voz da amiga:

- Deve ser algo muito grave, para me acordar a essa hora.

Levantou a cabeça, vendo Letizia vestindo uma camisa masculina, descalça, descabelada e sonolenta.

Rana esfregou os olhos:

- Não sei o que fazer, Tizia.

Contou tudo o que havia acontecido, incluindo a parte em que Sergei estava frequentando seu apartamento às escondidas, mas omitindo os segredos. Não conseguia enxergar um sentido em sua vida, estava longe da universidade e dos alunos, não podia contar com sua família.

Letizia sentou no sofá, encolhendo as pernas:

- Giuliano me contou que foi ele quem deu a ideia para Sergei não assinar os documentos. E ouvindo tudo o que disse, chego à conclusão de que foi acertado. Sergei se arriscou muito, por você, colocando a segurança do próprio filho em segundo plano. Poderia ter sido sequestrado ou até atingido, praticamente uma loucura, um homem como ele sair desprotegido por aí. Você é muito teimosa, Rana.

O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora