Rana abriu os olhos, sonolenta, e virou para o lado. Estava sozinha. Levantou devagar e foi para a sala, checar a porta. Segurou a maçaneta e puxou, verificando que estava trancada.
Sergei tinha levado a chave consigo.
Por sorte, tinha uma cópia que se encontrava pendurada na parede, ao lado do batente.
Foi em direção ao banheiro, se enfiando embaixo do chuveiro, enquanto a água morna escorria pelo seu corpo, pensou no que faria a seguir.
A verdade é que se sentia desmotivada. Estava correndo em círculos. Acordava, ia para o restaurante, voltava para casa. Não tinha mais vontade de ler, não havia conseguido se inscrever na especialização em literatura, não podia dar aulas.
Sua vida naquele momento se resumia à uma série de nãos.
E havia Sergei. Se deixou levar pelo calor do momento, talvez pelo fato de se sentir isolada em um país estranho, onde as pessoas não costumavam ser muito receptivas. Balançou a cabeça em negativa, não adiantava mentir para si mesma. Gostava do russo, muito mais do que deveria, mas em um instante de teimosia tinha resolvido abandoná-lo para ir atrás de sua tão sonhada liberdade, que não durou nem seis meses.
Voltar para ele significava ter um alvo nas costas, constantemente.
Ficar onde estava não a levaria muito longe.
Colocou uma roupa confortável, calçou os tênis e decidiu que a melhor coisa a fazer seria ir até o parque e respirar ar puro. Não faria a sua corrida habitual de domingo, já tinha gasto muita energia na noite anterior. No caminho, parou em uma cafeteria para tomar um latte acompanhado de um croissant.
Ao chegar no parque, começou a andar em torno do lago. Via as pessoas sozinhas ou acompanhadas passando por ela e só conseguia imaginar como seriam suas vidas.
Depois de aproximadamente duas horas, resolveu voltar.
Perto do prédio, em um dos quarteirões, viu o carro característico. Entrou em seu apartamento, encontrando seu ex-marido sentado no sofá:
- Onde estava?
Rana continuou andando até o quarto, para trocar a roupa de cama:
- No parque. E você?
Tirou as colchas e fronhas, trocando-as por novas. Levou as usadas até a pequena lavanderia, jogando-as dentro da máquina de lavar.
Ele elevou o tom de voz, para que pudesse ouvir:
- Tive que voltar para casa, os seguranças não sabiam do meu paradeiro e Bóris estava preocupado.
Ela voltou para a sala:
- E o que disse?
- Que passei a noite com algumas garotas em um hotel.
Rana sentou ao lado dele:
- Se pudesse escolher uma outra vida, qual escolheria?
Foi pego de surpresa:
- Não sei, nunca pensei nisso.
Ela insistiu:
- Nunca?
Sergei pegou o estojo de prata do bolso e acendeu uma cigarrilha. Tragou e soltou a fumaça devagar, olhando para o teto como sempre fazia quando precisava colocar as ideias no lugar:
- Eu nasci para que meu pai tivesse um herdeiro. Não tive outra opção.
Uma resposta parecida com a que Letizia havia dado para ela.
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O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)
General Fiction"Ficou um pouco assustada. Sua irmã tinha apenas 20 anos. O homem à sua frente devia ter em torno de 45 ou 50 anos. Não deixava de ser interessante, embora um tanto rústico para o seu gosto, mas pensar em unir Aika à ele era um absurdo. Notou que el...