A neve começava a cair mais grossa, quando Rana e Jimmy avistaram o local onde o rastreador estava emitindo os sinais. O helicóptero pousou um pouco mais longe. Pelo comunicador, ela ouvia Sergei gritando para seus homens, que estivessem à postos o mais rápido possível para lhe dar cobertura.
Ela e Jimmy se posicionaram com cuidado ao ver um veículo estacionar perto de um caminhão de carga. Armaram os fuzis rapidamente, e posicionando-se de acordo. Pela mira automárica, conseguiram ver Yuliya junto com outras duas meninas, serem colocadas dentro da carroceria de metal.
Rana avisou:
- Vamos acertar os pneus.
Ouviu seu marido:
- Segure a posição, estamos chegando!
Retrucou:
- Vamos perder a chance – olhou para Jimmy – pelo menos conseguiremos detê-los.
Tiros começaram a ser disparados, perfurando os pneus, que esvaziaram-se rapidamente. Em seguida, Jimmy acertou três homens e Rana derrubou outros dois, um deles com um tiro na perna.
Ao ver o caminho livre, ela correu até o sequestrador que encontrava-se caído, chutando as armas para longe e abaixando-se perto dele:
- S̄āw «xyū̀ thī̀h̄ịn?
(Onde estão as garotas?)
O homem sorriu para ela:
- Ca mị̀mī wạn rū̂.
(Nunca irá saber)
Ela então reconheceu aquele rosto e a tatuagem nele estampada. Era um antigo funcionário de seu pai. Sem paciência, retirou uma pistola do coldre, encostando na testa dele:
- C̄hạn rū̂ ẁā khuṇ pĕn khır. Lūkchāy k̄hxng khuṇ xyū̀ thī̀ yurop c̄hạn ca dūlæ k̄heā xeng.
(Sei quem você é. Seu filho está na Europa, vou cuidar dele pessoalmente)
Viu a expressão de pavor na face do homem:
- Nı tū̂ khxnthennexr̒ h̄̀āng cāk chāydæn s̄ī̀ kilometr kıl̂ kạb krath̀xm r̂āng.
(Em um container que está à quatro quilômetros da fronteira, perto de uma cabana abandonada)
Rana se levantou e avisou pelo comunicador. William e sua equipe se deslocaram até o local. Olhou para Jimmy, que estava tentando abrir a carroceria para retirar as meninas.
Logo viu Sergei, seguido por seus guardas, se aproximando.
Virou-se para eles, ouvindo Jimmy gritar:
- RANA, ABAIXE!
Havia um ponto de luz direcionado para a sua cabeça.
Em uma fração de segundo, Sergei passou na frente dela, sendo atingido. Jimmy segurou seu fuzil e acertou o atirador.
Os guardas se espalharam rapidamente, certificando-se de que o local estava seguro.
Rana olhou para o chão e viu que Sergei não se mexia. O solo branco e gelado começou a assumir uma cor avermelhada, ele estava sangrando. Ela ajoelhou ao lado dele, vendo que a bala havia perfurado o colete, nas costas.
Desesperada, começou a berrar:
- SERGEI ESTÁ FERIDO, REPITO, FERIDO! TRAGAM O HELICÓPTERO PARA CÁ!
Letizia perguntou, preocupada:
- A bala perfurou o colete?
- Sim!
Em poucos minutos um helicóptero sobrevoou o local. Sergei foi rapidamente carregado para dentro. Rana notou que ele respirava com dificuldade, com os olhos fechados, como se estivesse se afogando. Manteve as mãos pressionadas sobre o ferimento, vendo o sangue escorrer pelos seus dedos. Disse para o piloto ir para Abaza, que era a cidade mais próxima.
Os habitantes do local aglomeraram-se ao ver a aeronave pousar no meio da rua, na frente do hospital, parando o trânsito local. Rana pulou para fora e correu transtornada até o pronto-socorro, retornando com a maca, médicos e enfermeiros que o levaram diretamente para a sala de cirurgia.
Enquanto aguardava na recepção, se deu conta que suas mãos estavam sujas de sangue. Foi até o banheiro, abriu a torneira, vendo o líquido vermelho escoar pelo ralo. Apoiou os braços na bancada, abaixando a cabeça e começou a chorar.
Sentia-se culpada, por tê-lo envolvido nessa operação.
Deixou que o desespero tomasse conta. Embora estivesse apaixonada, nunca quis fazer parte daquilo. Tinha vontade de sair correndo e sumir, largando tudo para trás, fugindo para algum lugar onde não conhecesse ninguém e pudesse recomeçar do zero.
Continuou a soluçar alto, sentada no chão.
Perdeu a noção do tempo, até que se levantou e abriu a porta, andando em direção às cadeiras na sala de espera.
Letizia estava de pé, com os braços cruzados e ao vê-la, a abraçou:
- Sergei é forte, não é a primeira vez que foi atingido.
Rana estava com os olhos inchados. Tentou sorrir, mas uma lágrima escorreu pelo seu rosto:
- Eu não devia ter feito ele vir...
Viu sua amiga balançar a cabeça, segurando-a pelos braços:
- Sergei jamais deixaria que viesse sozinha, sabe disso. Ele protegeria você de qualquer jeito.
Olhou para ela:
- Yuliya?
- Está bem. Jimmy a levou de volta para Moscou. William conseguiu achar o local, a polícia foi avisada. O namorado da sua irmã nos agradeceu, conseguiram prender algumas pessoas que serão interrogadas. Ninguém desconfiou da nossa participação.
Respirou aliviada:
- Conseguimos salvar as garotas.
Foram interrompidas pelo médico:
- Sra. Solivetsko?
Rana andou apressada até ele:
- Sim, como está meu marido?
- Teve que ser submetido à uma cirurgia, conseguimos retirar o projétil e drenar o sangue que tinha se acumulado na cavidade pleural. Ainda bem que foi trazido rapidamente. Vai ficar na UTI, precisa respirar por aparelhos. As primeiras vinte e quatro horas são essenciais para sabermos como vai evoluir.
- Posso vê-lo?
- Infelizmente não. Amanhã, se tudo correr bem, as visitas serão liberadas.
Letizia se aproximou:
- Obrigada, doutor. Eu poderia ver o projétil que foi retirado?
O rapaz olhou para ela, intrigado:
- As autoridades locais já estão sabendo do caso. Como é uma prova, foi encaminhada para a delegacia, mas eu tirei uma foto.
Pegou o celular e mostrou para ela, que passou os dedos pela tela, aumentando o tamanho e observando alguns detalhes:
- Certo, já vi o que precisava. Obrigada mais uma vez – voltou-se para Rana – tem um hotel aqui perto, já pedi para que arranjassem quartos para nós.
Assim que pisaram do lado de fora do hospital, Letizia fez uma ligação:
- Vladimir, preciso que reúna todos os pakhans, agora. Sergei foi atingido por um Sumrak, a bala perfurou o colete que usava. Quero saber de onde veio esse fuzil e se foi comercializado recentemente.
Ao entrar no quarto, Rana viu sua mochila em um canto, no chão. Estava exausta e sentia o coração apertado, ao pensar em Sergei.
Retirou suas roupas, tomou banho. Ligou para a recepção, pedindo uma garrafa de whisky. Assim que recebeu, começou a beber no próprio gargalo sem se importar com o gosto ruim, que queimava a sua boca.
Embriagada, deitou-se na cama, fechando os olhos na esperança de que tudo não passasse de um pesadelo.
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O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)
General Fiction"Ficou um pouco assustada. Sua irmã tinha apenas 20 anos. O homem à sua frente devia ter em torno de 45 ou 50 anos. Não deixava de ser interessante, embora um tanto rústico para o seu gosto, mas pensar em unir Aika à ele era um absurdo. Notou que el...