Capítulo 35 - Ousadia

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Rana acordou cedo, como em todos os outros dias. Havia reduzido a sua carga horária na universidade e se dividia entre dar aulas, gerenciar os negócios da organização e fazer os tours, uma vez por semana, à noite. Após o banho, se vestiu e desceu as escadas até a cozinha para tomar o café.

Estava se servindo quando ouviu o toque do celular.

Olhou para a tela e sorriu:

- Dimitri.

- Olá Rana, como está meu pai? Já saiu do hospital?

Rana tomou um gole do café:

- O médico disse que deverá ficar internado por mais uns dois dias.

- Ainda não foi vê-lo?

Ficou em silêncio e respirou fundo:

- Ele não quer me ver.

Dimitri parecia angustiado:

- Mas por que?

- Desde que eu voltei, estávamos separados. Eu o acusei de muitas coisas, ele continuou a beber mesmo tomando os comprimidos para ansiedade. Bóris me disse que ele está envergonhado, pela noite em que o encontrei bêbado.

Omitiu a parte das mulheres, Dimitri não precisava saber desses detalhes. Mas achava engraçado que um homem como Sergei pudesse sentir vergonha dela.

O garoto ficou em silêncio, mas logo depois continuou:

- Eu disse para você, quando me visitou na academia, que meu pai não aguentaria se fosse embora. Desde então, ele não é mais o mesmo. Posso perguntar uma coisa?

- Claro.

- Gosta dele?

Foi a vez de Rana ficar quieta.

Rebateu:

- Por que?

- Eu gosto de você, Rana. Mais do que de minha mãe, mas se não gosta do meu pai é melhor que se afaste de uma vez. Ele vai acabar se matando, ou sendo assassinado.

Ela engoliu a seco. No fundo sabia que era verdade, poderia destruir o líder russo se quisesse. Não só por suas ações, mas sabia de seus segredos, da irmã escondida que seria um alvo fácil para seus inimigos. Também sabia que era um exagero culpá-lo por tudo o que havia acontecido em sua vida, ninguém havia encostado uma arma em sua cabeça para que aceitasse o acordo, ela assim o fez para proteger a irmã, não foi obrigada. Poderia ter planejado uma fuga para Aika, ou qualquer outra coisa.

Mas havia algo a mais. Gostava do seu marido, por mais que tentasse negar. Gostava ainda mais do homem que havia conhecido no apartamento, que a buscava no trabalho, preparava o jantar e a ouvia, com atenção. De como se esforçava para ser delicado ao tocá-la e de ver seu nome tatuado nas costas dele, como um sinal de que pertencia à ela, e não o contrário.

Voltou a si, decidida:

- Não vou me afastar de vocês. Eu prometo.

Sentiu Dimitri soltar o ar, aliviado:

- Obrigado, Rana. Estou pensando em pedir dispensa do treinamento para visitá-lo.

- De jeito nenhum, eu estou aqui cuidando dele e você deve continuar a treinar, em breve assumirá a organização.

Ouviu o garoto rir:

- Sim, e pelo jeito quem vai me passar o bastão será você. Acho ótimo, porque é muito mais paciente que meu pai.

Riram juntos, combinando alguns detalhes para o Natal e se despedindo em seguida.

Assim que terminou de comer, Rana pediu a um dos motoristas que a levasse até o hospital. Desceu do carro, ajeitando o cabelo e a roupa. Estava com um vestido azul marinho de alças mais largas, que constrastava com sua pele e cabelos presos em um coque solto. Seguida pelos seguranças, foi até a recepção, ignorando o aviso de que sua entrada não havia sido autorizada pelo paciente. Pegou o elevador e ao sair, foi em direção à ala reservada. Os homens que estavam de guarda no corredor, abaixaram a cabeça em sinal de respeito.

Parou em frente à porta e bateu, sendo recebida por Bóris, que ficou espantado e se retirou do local rapidamente, deixando-os à sós.

Sergei estava sentado na cama, vestindo a camisola dos pacientes do hospital, que parecia bem apertada nele. Sua aparência estava boa, corado e bem disposto.

Ao vê-la, desviou o olhar para a janela:

- O que veio fazer aqui?

Rana sentou na ponta da cama:

- Vim visitar o meu marido.

Ele então levantou o olhar até ela:

- Bóris me disse que está comandando os negócios muito bem. Os pakhans a elogiaram bastante.

Ela se aproximou mais um pouco e soltou os cabelos, deixando-os cair sobre os ombros.

Sorriu:

- Sim, está tudo sob controle.

Sergei respirou fundo:

- Não deveria ter me visto daquele jeito.

- Deveria sim, só dessa forma pude ajudá-lo. A não ser que estivesse planejando me deixar viúva.

Conseguiu tirar um sorriso de seu marido, que se explicou:

- Eu fiz besteira, sei disso. As garotas, sabe que eu não vou até o fim, com elas. O médico acha...

Ela colocou as mãos sobre a sua boca, para que ficasse em silêncio. Subiu no seu colo, admirada com sua própria ousadia, afinal estavam dentro de um hospital e ela nunca tinha feito nada do gênero. Sempre fora muito tímida e recatada, mas queria tentar. Viu os olhos de seu marido brilharem. Ficou sentada de joelhos prendendo as pernas dele entre as suas, passou as mãos pelo seu pescoço e o beijou, demoradamente, sentindo um arrepio subir pelas pernas. Ele abaixou as alças de seu vestido e a abraçou. Rana riu, ao sentir o volume que se formava embaixo dela.

Encostou no ouvido dele:

- O médico disse o quê, mesmo?

Sergei beijou seu pescoço, antes de responder:

- Que devia ser psicológico. E deve ser, pois só consigo com você. 

Ela soltou uma risada, vitoriosa:

- Meu nome está gravado na sua pele, Sergei. Você é meu.

Ele arregalou os olhos, pelo atrevimento de sua esposa, concordando:

- Eu sou. Mas não vamos fazer nada aqui, você não é como as outras. Se continuar em cima de mim, não vou me controlar.

Rana ainda se mexeu mais um pouco, antes de descer da cama, somente para provocá-lo. Ajeitou a roupa enquanto ele se cobria com a manta. Tirou o estojo de prata e o isqueiro da bolsa, entregando-os para ele:

- Sei que sente falta das cigarrilhas. Não é permitido, mas ficará menos ansioso. Preciso ir, deve receber alta amanhã.

Beijou-o novamente, sentindo as mãos grossas descerem pelas suas costas.

Bóris apareceu e tossiu, interrompendo-os:

- Tenho que acompanhá-lo na tomografia.

Ela olhou para Sergei, antes de sair:

- Vai ficar no meu quarto, até se recuperar. É maior e pode fazer as refeições lá dentro, sem a necessidade de se deslocar.

Assim que Rana saiu, Bóris olhou para seu chefe, intrigado:

- O que aconteceu aqui?

Ele abriu o estojo, acendeu uma cigarrilha, fechando os olhos ao tragar e soltar a fumaça pela boca:

- Não sei. Mas preciso de um banho frio, antes de fazer o exame. Alguma coisa que não me contou?

- Ela proibiu qualquer garota de se aproximar da casa. Disse que se ver alguma delas por perto, vai atirar.

Sergei abriu um grande sorriso, era apaixonado por Rana e isso significava que ela se importava com ele, pois nunca havia se oposto ao fato de ser atendido por elas.

Bóris olhou para ele, surpreso. Seu chefe raramente sorria daquele jeito, parecia um outro homem, longe da figura que amedrontava a todos. Como bom amigo que era, tinha somente um receio: que seu líder fosse destruído pela própria esposa.

O acordo (Rana & Sergei) (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora