Ela sabia nadar.

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Alguns vários minutos se passaram, e Julia finalmente estava vindo atrás de nós. Eu consegui cochilar um pouco, mas acordei assustada por ouvir um barulho de sirene vindo do lado de fora do hospital. Ricardo continuou ali, do meu lado, na verdade ele parecia não ter saído dali em momento nenhum. Com toda aquela adrenalina eu ainda nem tinha avisado os meus pais que, finalmente, encontrei Maraisa.

Julia: Ela tá fora de perigo agora. – Informou sorrindo fraco – Tem muitos ferimentos, internos e externos, então os próximos dias não vão ser fáceis.

Eu: O que exatamente, você tá querendo dizer?

Julia: Que ela vai precisar de ajuda até pra tomar banho. – Respondeu sem enrolação – A lesão na coluna não foi leve como esperava. Por pouco ela não quebra algum osso. Eu não sei exatamente como isso aconteceu, como agravou tanto, mas todo cuidado é pouco.

Eu: O que acha que foi?

Julia: Uma queda na escada, ou chutes, eu não sei, mas tenho certeza que aquela lesão não foi acidental! – Afirmou – O kit a gente não vai usar agora, só quando ela acordar e concordar. Creio que as dores vão continuar, talvez cólicas mais fortes, o sangramento, e também aconselho a procurarem um pscicologo.

Eu: Pode deixar, eu vou fazer isso sim. – Respondi no automático.

Tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, eu queria que as coisas estivessem bem. Eu realmente queria que eu só tivesse encontrado ela, e tivesse enganada. Queria que ela estivesse bem, que o Gabriel fosse um bom marido pra ela.

Ricardo: Ela acordou? – Julia negou.

Julia: Não acho que ela vá acordar por agora. Tá fraca, a temperatura ainda tá voltando ao normal, então, ela ainda deve estar com muito frio. – Odiava saber que em tão pouco tempo, Gabriel arrancou tanta coisa da minha irmã – Fora que ela tá com anemia e vitamina D baixa. Não sei quanto ela comia, ou se comia, mas isso afetou demais ela. Já entramos com todos os medicamentos, mas se não resolver, vamos fazer uma transfusão.

Senti que meu coração desacelerou, não como se eu estivesse ficando mais calma, e sim como se eu estivesse desmaiando. Minha visão ficou preta quando senti minha cabeça girar, e eu me segurei em Ricardo por medo de cair.

Ricardo: Senta aqui, vem.

Julia: Vou buscar uma água.

Eu mal conseguia ouvir as vozes deles. Tudo estava abafado demais. Minhas mãos transpiravam mostrando o quão nervosa eu estava, e não demorei muito pra começar a chorar. Nunca passei por isso, não tão de perto. É completamente assustador.

Eu: Não consigo entender. – Sussurrei – Foram só alguns meses. E ele fez tudo isso com ela.

Julia: Eu sei, não é fácil compreender. Mas ninguém tem culpa nisso, além dele. Você não tem culpa, a sua irmã não tem culpa, nem os seus pais. – Julia segurou minha mão se sentando no chão e ficando de frente pra mim – Quando uma pessoa está em relacionamento abusivo, o agressor manipula a vítima. Ele tenta mostrar que não vai fazer de novo, é bonzinho por um tempo, cuida da vítima, e depois faz tudo de novo. É difícil sair de um relacionamento assim. As ameaças, a dor, a voz dele falando que vai mudar. É tudo muito complicado.

Parecia que eu estava vendo a minha irmã falar ali. Não porque Julia parecia com ela, mas pelo jeito que ela falava, parecia que ela realmente sabia o que estava dizendo. Como se ela já tivesse passado por isso, ou acompanhando alguém de perto. A sensibilidade em suas palavras, o jeito que ela falava sobre tudo, ela parecia entender exatamente.

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