Não sei quanto tempo se passou desde que Gabriel me jogou na água, mas deve ter sido o suficiente pra me trazerem pro hospital. E isso me deixou com um leve sentimento de culpa. Pelo jeito tentar me afogar não funcionou. A luz ainda afetava meus olhos, não tinha conseguido abrir os olhos direito. Eu ouvi as máquinas apitando, vi os acessos no meu braço, senti alguma coisa pressionando minha coluna, que ainda não tinha parado de doer. Fora a dor horrível no pé da minha barriga e um friozinho.
Abri os olhos me acostumando com a luz, olhei pro lado e vi meus pais, minha irmã, e o Ricardo. Eles estavam entretidos em algum assunto, que eu sabia que era sobre mim. Eles conversavam sobre como fariam tudo daqui pra frente, e Maiara explicava detalhadamente, como me achou. Eu me senti aliviada ali, senti que estava segura. Finalmente tinham me tirado daquele inferno. Eu consegui pedir ajuda, isso me deixa completamente leve.
Eu: A gente conseguiu? – Perguntei baixinho – Saí de lá?
Meus pais ficaram sem reação, eu percebi isso. Mas Maiara logo correu pro meu lado, e acaricou meu rosto sorrindo fraco. E era exatamente, aquele sorriso que me deixava perdida do meu medo. Era como se Maiara me tirasse completamente de toda a minha bagunça, e me levasse pra um lugar mais calmo.
Maiara: Oh meu amor, você nunca mais vai voltar pra lá. – Disse – Eu prometo que nunca mais vão tocar em você.
Sua voz era calma, mas estava embargada. Eu ainda não entendi muita coisa que estava acontecendo, principalmente porque tô com tantas máquinas no meu corpo, ou porque tem tantos acessos. Provavelmente Maiara percebeu, já que ela logo segurou minha mão e respirou fundo.
Maiara: Eu também tenho perguntas, mas quero que você saia daqui primeiro. – Ela passeou os olhos pelo quarto – Você teve hipotermia pelo tempo que ficou na piscina, lesões na coluna e machucados no colo do útero.
Eu: Imaginei.
Maiara: Você comia? – Assenti – Todos os dias?
Eu: Não. Isso não. Na verdade, era estranho. As vezes ele me forçava a comer, mas as vezes me deixava sem comer por dias.
Maiara: Tá, a gente fala disso outra hora.
Meus olhos foram pra onde meus pais estavam, e minha mãe parecia ter medo de tocar em mim, e quebrar. Eu sorri pra ela e pro meu pai, e os chamei. Eles vieram, e me abraçaram com todo cuidado do mundo. Eles não fazem ideia de como esse abraço me fez falta. Não sabiam como isso aqui mudava tudo. Sentir o abraço deles, e ver o sorriso de Maiara era como voltar pra casa depois de um dia, extremamente cansativo.
Almira: Eu sinto muito! – Sussurrou – Sinto muito, meu amor.
Marco: Você sabe que se a gente soubesse, a gente nunca deixaria você lá. – Eu assenti, sabia que eles realmente fariam de tudo pra me tirar de lá.
Eu: Eu sei, papai. Eu sei. – Sorri pra ele – Tá tudo bem.
Almira: Você tá sentindo alguma coisa? Alguma dor? – Eu pensei um pouco. Sentia muita coisa. Principalmente mentalmente.
Eu: Só algumas dores, e um pouco de frio. – Olhei pro Ricardo – O que aconteceu com o Gabriel?
Senti que todo mundo deu uma estremecida quando eu perguntei isso. Não faço ideia do que aconteceu depois que apaguei. Nem sei se ele realmente foi pego, já que, com certeza, tentou fugir depois de me jogar.
Ricardo: Encontraram ele no quarto. – Começou – Ele estava pendurado por uma corda no pescoço.
Eu: Ai Meu Deus!
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Salva-me
FanfictionNão existe mulher que gosta de apanhar. •Existe mulher com medo de denunciar. •Existe mulher sem dinheiro para ir embora. •Existe mulher humilhada e desacreditada. •Existe mulher machucada, frágil, sem vida.