Afinal, o que eu sinto?

122 19 7
                                    

Acho que apaguei dentro do carro, não me lembro de muita coisa. As coisas estão confusas na minha cabeça ainda. Com a luz bagunçando minha visão, e quase me impedindo de abrir meus olhos, analisei o quarto branco ao meu redor, e o gosto de ferro na minha boca. Meu braço tinha acessos, a cor do soro estava diferente, o que me deixou confusa. Não sabia o que estava tomando, mas sabia que de alguma forma, me fazia sentir gosto de ferro.

Minha cabeça se recordou dos últimos minutos antes de entrar no carro de, Marilia outra vez, e me lembrei que comentei sobre a possibilidade de ter um bebê. As vozes na minha cabeça começaram a falar mais alto, o que me deixava completamente assustada, eu não podia, não agora. Mal estou dando conta de mim, não consigo fazer nada sem ajuda, como vou ter um bebê? Isso é completamente, perturbador.

Procurei alguém que estivesse, perto o suficiente pra me contar o que, realmente aconteceu, e achei Maiara e Marilia. A loira estava na varanda, parecia ler alguma coisa, mas a minha irmã estava na poltrona a minha frente, segurando a minha mão. Ela estava com os olhinhos fechados, recostada na poltrona, parecia cansada, e me culpo por isso.

Eu: Irmã – sussurrei, qualquer coisa que eu tentasse falar, sairia nesse tom.

Maiara se mexeu olhando pra mim com seus olhinhos assustados, e sorriu fraco. Provavelmente soube a minha pergunta assim que me olhou, ela negou rápido, e tocou meu rosto

Maiara: Não, não está grávida. – Disse – Você só não tá comendo direito. E isso que tá tomando, é remédio pra anemia.

Eu nunca fiquei tão feliz com um notícia que sempre sonhei, dar errado. Lembro de todas as conversas com Maiara, ou com a mamãe, sobre nossos sonhos de ter filhos, e casar. Provavelmente, se eu tivesse casada eu comemoria uma gestação agora. Consigo imaginar um bebezinho com minha cara, correndo pela casa enquanto me chamava de mamãe. Sorri involuntariamente imaginando essa possibilidade.

Desviei meu olhar pra varanda, onde Marilia estava lendo o livro. As palavras dela voltaram a minha cabeça, e por um minuto, cogitei a possibilidade de aceitar o pedido dela. Não podia negar que Marilia, de alguma forma, conseguiu me fazer abrir mais a visão pra esse lance de, dar uma chance pra pessoas novas. Isso não significa que vou ter um relacionamento com a Marilia, sempre peguei garotos, não faco ideia de como vai ser isso com ela. Não que seja diferente, mas sei que os comentários e os olhares pra nós, vão mudar, e talvez, eu não esteja pronta pra lidar com isso.

Diferente de quando entrei no carro, agora estava mais escuro, o céu parecia estrelado, e da cama, eu conseguia ver a lua brilhando. Mas o que mais me chamou atenção, foi a loira lá fora. Não é possível que ela tenha ficado aqui esse tempo inteiro. Ocupei o dia todo dela hoje. Voltei a olhar pra minha irmã, que também estava olhando lá pra fora.

Eu: Ela não saiu daqui? – Maiara negou.

Maiara: Não. Assim que a gente chegou, você já estava apagada, ficaram quase 30 minutos com você na sala de pronto socorro. Depois te trouxeram pra cá. Descartaram a sua dúvida, e disseram que era só uma crise da sua anemia.

Eu: Quando vou pra casa?

Maiara: Amanhã.

Eu: Ah não. De novo? – Resmunguei olhando pra minha irmã.

Maiara: Eu sei, você tá cansada. Mas não posso interferir na decisão da Júlia.

Assim que Maiara me respondeu, Marilia veio em nossa direção, e Julia entrou no quarto. Ela como sempre, tinha um sorriso contagiante no rosto, como se nada estivesse caindo ao redor dela. Creio que pra um médico, é um pouco difícil sorrir tanto. Contando que pessoas morrem ou chegam perto da morte, a todo tempo. Admirava a felicidade da Júlia, mesmo vivendo nesse caso. Ela entrou analisando a minha expressão, e logo Marilia parou do lado de Maiara também.

Salva-meOnde histórias criam vida. Descubra agora